Estou lá eu, dando minha voltinha matinal outro dia e paro pra um dedo de prosa.
-Será que a praça abre logo?
-Ah. Demora. Deve ser quando entregar o prédio ao lado.
-Mas nem tem prédio ainda!
-Mas sem prédio, não entrega não! Olha só a praça de cima. O vandalismo. Se entregarem esta praça sem morador perto vão destruir tudo!
-Será?
-Com ela trancada, pulam a grade, quebram luminárias, bebem lá dentro, quebram garrafas…
-Não creio…
Este Brasil não tem mesmo jeito! Depois falam dos outros. Dos políticos. Dos vizinhos. De quem não faz nada. E até de quem faz…
Conversa vai, conversa vem, ele me conta outra história. A história da plaquinha.
-Dona, estas plantinhas acabaram de ser plantadas. Estão frágeis. Seu filho está brincando em cima delas.
Já fazia uma meia hora que o guri estava ali. Pisoteando o jardim tão bem cuidado por iniciativa privada. E que toda gentarada que frequentava a praça sempre respeitou.
Ou ela não viu porque devia tá grudada na tal da caixinha preta, ou prata, ou branca, ou de capinha colorida e não prestou atenção no guri, que por acaso era seu filho, ou viu e fez que não viu.
Típico. Igual a gente no ônibus que olha pra janela pra fazer que não viu que entrou grávida, mãe com criança de colo, idoso e não encara pra não ter de dar o lugar. Aquela mãe ouviu o moço falando do guri que pisoteava as plantinhas e se fez de dissimulada:
-Hein?
-O menino, moça. Tá matando as plantinhas!
-Mas não tem plaquinha.
-Plaquinha????
-Plaquinha. Dizendo que não pode…
-(Silêncio)
E continua no mundo alienado da caixinha.
Inconformado, o moço lhe diz:
-A senhora vai me desculpar moça, com o que vou dizer. Mas não precisa plaquinha.
-Precisa, sim - sem nem olhar pra ele.
-Não tá na plaquinha, moça. Tá aqui, ó!
E aponta pra cabeça. Pro cérebro. Coisas em desuso em algumas pessoas.
Acho bom abrir uma fábrica de plaquinhas. Vai ver é por isso que as coisas não funcionam. Quem sabe se puser plaquinha pra tudo?
Plaquinhas iguais aquelas de auditório:
-Aplauso.
-Risada.
-Ooooohhhh….
Aí, ruas afora, a gente coloque:
-Diga bom dia ao passar por pessoas!
-Por favor.
-Obrigada.
-Não há de quê.
-De educação ao seu filho.
Talvez, tenham de ser mais específicas.
-Ao sair com seu filho, olhe para ele. Cuide dele. Converse com ele. Eduque ele.
Outras assim:
-Guarde seu celular ao sair para passear com sua família.
Que nem avião! Dizer que há risco de explosão, queda tragédia. Porque com o passar do tempo, a tragédia acontece mesmo. Famílias que se desconhecem morando debaixo do mesmo teto.
-Parece que eu conheço esta voz… De quem é mesmo?
- Hã?!
-Ahhhhh… Acho que é do morador do quarto da esquerda no corredor. Aquele meio barbudinho. Hã. Como é mesmo o nome dele? Mãe!!! Mãe!!! Como é o nome mesmo do nosso filho????
(...)
Termino com uma última plaquinha:
-O Ministério das Saúde adverte: Não viver faz mal a saúde!
Amei as palavras. Neste mundo conturbado e imediatista, fica cada vez mais difícil viver de verdade, viver a família, o amor. Tudo se resume num Tenho Pressa, até que você percebe que o tempo passou, que faltou tempo pra sorrir, amar, enfim: VIVER...
ResponderExcluirOlá Katia Valeria!
ExcluirPois não é que nos flagramos neste meio louco, ora como platéia, ora como protagonistas de cenas assim?
Sair e observar tem rendido várias reflexões... Cenas no estilo "A vida como ela é!"
Tempo ainda temos... para tudo, ainda. Só começar!
Obrigada pela visita!
Não tem plaquinha, hahahahahahahhaaha! Se tivéssemos professores iguais aos que tive, plaquinhas não existiriam. É na moral e no respeito que se vive!
ResponderExcluirUm conjunto, né Lucinei! Família, pais, profissionais. As pessoas eram pessoas e não meus botões de on-off. Cenas da vida diária para refletirmos!
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