Vamos conversar?

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segunda-feira, 10 de abril de 2017

Não tem plaquinha!

Não tem plaquinha!


Estou lá eu, dando minha voltinha matinal outro dia e paro pra um dedo de prosa.

-Será que a praça abre logo?
-Ah. Demora. Deve ser quando entregar o prédio ao lado.
-Mas nem tem prédio ainda!
-Mas sem prédio, não entrega não! Olha só a praça de cima​. O vandalismo. Se entregarem esta praça sem morador perto vão destruir tudo!
-Será?
-Com ela trancada, pulam a grade, quebram luminárias, bebem lá dentro, quebram garrafas…
-Não creio…

Este Brasil não tem mesmo jeito! Depois falam dos outros. Dos políticos. Dos vizinhos. De quem não faz nada. E até de quem faz…
Conversa vai, conversa vem, ele me conta outra história. A história da plaquinha.

-Dona, estas plantinhas acabaram de ser plantadas. Estão frágeis. Seu filho está brincando em cima delas.

Já fazia uma meia hora que o guri estava ali. Pisoteando o jardim tão bem cuidado por iniciativa privada. E que toda gentarada que frequentava a praça sempre respeitou. 

Ou ela não viu porque devia tá grudada na tal da caixinha preta, ou prata, ou branca, ou de capinha colorida e não prestou atenção no guri, que por acaso era seu filho, ou viu e fez que não viu. 

Típico. Igual a gente no ônibus que olha pra janela pra fazer que não viu que entrou grávida, mãe com criança de colo, idoso e não encara pra não ter de dar o lugar. Aquela mãe ouviu o moço falando do guri que pisoteava as plantinhas e se fez de dissimulada:

-Hein?
-O menino, moça. Tá matando as plantinhas!
-Mas não tem plaquinha.
-Plaquinha????
-Plaquinha. Dizendo que não pode…
-(Silêncio)

E continua no mundo alienado da caixinha.
Inconformado, o moço lhe diz:

-A senhora vai me desculpar moça, com o que vou dizer. Mas não precisa plaquinha.
-Precisa, sim - sem nem olhar pra ele.
-Não tá na plaquinha, moça. Tá aqui, ó!

E aponta pra cabeça. Pro cérebro. Coisas em desuso em algumas pessoas.

Acho bom abrir uma fábrica de plaquinhas. Vai ver é por isso que as coisas não funcionam. Quem sabe se puser plaquinha pra tudo?
Plaquinhas iguais aquelas de auditório:

-Aplauso.
-Risada.
-Ooooohhhh….

Aí, ruas afora, a gente coloque:

-Diga bom dia ao passar por pessoas!
-Por favor.
-Obrigada.
-Não há de quê.
-De educação ao seu filho.

Talvez, tenham de ser mais específicas.

-Ao sair com seu filho, olhe para ele. Cuide dele. Converse com ele. Eduque ele.

Outras assim:

-Guarde seu celular ao sair para passear com sua família.

Que nem avião! Dizer que há risco de explosão, queda tragédia. Porque com o passar do tempo, a tragédia acontece mesmo. Famílias que se desconhecem morando debaixo do mesmo teto.

-Parece que​ eu conheço esta voz… De quem é mesmo?
- Hã?!
-Ahhhhh… Acho que é do morador do quarto da esquerda no corredor. Aquele meio barbudinho. Hã. Como é mesmo o nome dele? Mãe!!! Mãe!!! Como é o nome mesmo do nosso filho????

(...)

Termino com uma última plaquinha:
-O Ministério das Saúde adverte: Não viver faz mal a saúde!

4 comentários:

  1. Amei as palavras. Neste mundo conturbado e imediatista, fica cada vez mais difícil viver de verdade, viver a família, o amor. Tudo se resume num Tenho Pressa, até que você percebe que o tempo passou, que faltou tempo pra sorrir, amar, enfim: VIVER...

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    Respostas
    1. Olá Katia Valeria!
      Pois não é que nos flagramos neste meio louco, ora como platéia, ora como protagonistas de cenas assim?
      Sair e observar tem rendido várias reflexões... Cenas no estilo "A vida como ela é!"
      Tempo ainda temos... para tudo, ainda. Só começar!
      Obrigada pela visita!

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  2. Não tem plaquinha, hahahahahahahhaaha! Se tivéssemos professores iguais aos que tive, plaquinhas não existiriam. É na moral e no respeito que se vive!

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    Respostas
    1. Um conjunto, né Lucinei! Família, pais, profissionais. As pessoas eram pessoas e não meus botões de on-off. Cenas da vida diária para refletirmos!

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