Vamos conversar?

Vamos conversar?

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Na estrada


Estou. Quem não está?
Coloco meu fone de ouvido, seleciono uma lista no Spotify. Clássicos. Piano. Música suave só instrumental para embalar o cérebro e não distrair a mente.

Tá. Confesso. Bem que eu tentei o Netflix. Mas a conexão na estrada, já viu….

Conexão na estrada?

Conexãodequecomquê? Desconexãodequemcomtudo?

Cada um tem sua forma própria de cair na estrada. De levantar. De seguir. De definir caminhos. Fazer escolhas. E querer e enxergar onde está, para onde quer ir.


Sabe, a estrada pode te sugar. Te colocar num toboggan escorregadio e irretornável. Daqueles que deitoujaera. E quando você se dá conta, está lá embaixo, olha pra cima e vê que nem olhou direito o que havia em volta…

Não é que não haja voltas de caminhos. Talvez, a questão seja mesmo, se vale a pena voltar! Este descontrole nesta descida frenética, de pécompressa faz ir sem apreciar! O caminho fica pra trás sem tê-lo vivido! Restringe-se a ter, apenas, passado por ele. Olha-se à frente. Olha-se atrás. E nunca se olha à volta, ao redor da hora em que se está! E os pés ficam parecendo aqueles pés famosos de um velho político, umpracáoutropralá, típico de quem não sabe, nem onde está, nem onde vai parar…


Este meu momentinho de agora tem alguns particulares. Estrada de verdade. De um jeito que gosto muito, também. De passageira, mãos livres, cabeça faceira, querendo conversar. Aí, me entrego aos meus dedos e viajo por mim mesma, esta imensa estrada da qual fujo tanto de passar e olhar. Esta estrada que todo viajante leva consigo, por mais longe que alcance e, depois de tanto, tanto chão percorrido, se dá por vencido e, redimido, diz: a maior viagem de todas, oras bolas, é pra dentro de mim mesmo! O companheiro mais difícil é mais parceiro, eu mesmo.


As mais surpreendentes histórias que vou colhendo no caminho só fazem sentido quando permito estar e observar. Menosdemim! Menosdemim! Há tanto a ver. Tanto a conhecer lá fora. E, infinitamente, dentro de mim, caminho sem fim, até que nalguma curva, eu me confunda e me perca, nalguma subida que me oculta a vista do lado de lá da montanha, eu me surpreenda, ou nalguma descida, alucinada, eu aconteça e POF! Apague daqui e acenda ali, do lado de lá da linha que não alcancei, ainda, por mais que a tenha tocado com a pontinha dos meus dedos curiosos de aprendiz da vida…


Eterna interrogação! Sou levada pela estrada, piloto automático, ou sei por onde estou indo?

Já caminhei um bom tanto. Quero ir muito além. A estrada chama, chama, chama…

Momentinho único e desconhecido. Uns… Trezentos metros do topo da montanha? Ou será três mil? Milhões?


Conto. Sem metáforas. De hoje, são 102 dias para o meu último dia de trabalho do meu primeiro emprego, deste que entrei menina e onde estarei completando 34 anos de trabalho…

Reticências…

Baita caminho percorrido. Dia esperado este 103º. Onde, oficialmente, me desligo de um caminho que escolhi, segui, aprendi, perdi, ganhei, lutei, desanimei, briguei, segui, segui, segui. Uma escolha. Uma escola de vida. Uma vida repleta de escolhas e recolha-se.

Faria tudo de novo?

Sim. Mas prestaria mais atenção aos lobos maus vestidos de cordeiros. Manteria o sorriso luminoso, os olhos brilhantes, mas manteria um olhar atento, menos ingênuo. Igualmente, faria pelos meus alunos o que fiz. Não! Faria mais. Eles são o TUDO deste caminho. A real fonte de realização e prazer desta profissão.







Falaria um tanto a menos. Procuraria ser mais invisível. Não entraria em todas brigas que entrei. Procuraria ter menos razão e mais visão.

Sabe, quando se caminha por tanto tempo num mesmo caminho, você colhe muitas certezas. Mas são as incertezas que mais te ensinam! Os desequilíbrios acontecidos, os conflitos, até mesmo as maiores indignações. O adverso ensina. Porque nos mostra o caminho a não seguir.

Estou a poucos metros de uma passagem. Onde indica um fim. E fins nunca são, definitivamente, O FIM. Na verdade, do lado de lá da plaquinha do fim, está escrito INÍCIO. O start para um caminho pronde levo o que eu quiser! Deixo as pedras. Levo os cheiros. Saio forte. Muuuuuuito forte! Pois toda resistência, toda adversidade, me fortalece.

As algemas imaginárias que pensaram poder prender, machucaram, quase me mataram. Mas cada qual com seu igual! Quem se dá ao trabalho de levar em sua bagagem de mão, algemas e correntes pesadas para prender o outro, tem um andar pesado, arrastado e não decola. Nunca. É, olhe só, prisioneiro e si mesmo.

Na minha bagagem deixo pra trás os pesos. Levo o mínimo. O tempo não é prisioneiro de ninguém, mas faz refém quem se ensimesma em seu umbigo.

Laaaaaá looooooonge existe um risco. Que rabisca a linha de chegada no horizonte. É é um risco correr pra ele. Risco maior, correr dele!


Tô na estrada. O mundo é redondo. Estrada sem fim.