Vamos conversar?

Vamos conversar?

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Eu opto. VIVO


O que uma mãe não faz...
Ontem foram QUATRO voltas no lago🙄🙈🤩

A gente deu meia volta caminhando (eu nunca sei se ele quer só caminhar, ou correr...) . Já tinha até me conformado que a gente ia só caminhar e bater papo.😁
Lá na metade da primeira, ele começa a correr do nada e eu vou, né🤷🏻‍♀
A gente fecha a primeira volta correndo e ele diz "a partir daqui, quero fazer três voltas correndo" 😳
É. Ele fala assim. Quase como se estivesse mandando...🤦🏻‍♀

Eu detesto correr como hamster. Não gosto da ideia de correr dando voltas no mesmo lugar. Quando fui no dia anterior, sozinha, nem sabia quantas voltas daria. Talvez, duas. Mas completei duas, parei pra tirar fotos e acabei recomeçando a correr a terceira.

Aí, ele já me fala já a partir da primeira que serão três. Ou seja. Quatro.😳🙄🙄🙄


Fui, né.

Me arrastando. Me concentrando pra não deixar o lobo mau me convencer que não conseguiria. Fica o tempo todo a voz da desistência dizendo "chega". Mas o corpo acostuma!

Passei duas vezes no bebedouro e tomei banho de torneira. Eu mais molho a cabeça que tomo água. Sinto necessidade de me refrescar. Mais que reidratar.
A gente até conversava de vez em quando... Até. Ahahaha. 
Na penúltima volta, eu já sabia que conseguiria terminar. Como assim, desistir faltando só uma?
Capaz!!!

Tomei banho de torneira de bebedouro de novo. Tipo... Botar a cabeça em cima daquele jato minúsculo mesmo, feito para encostar a boca por cima para engolir alguns goles de água. Molhei, minto, encharquei a bandana e fui com ela, mais uma volta me refrescando. Molhando o rosto, pescoço, espremendo a água pra molhar a cabeça.


O recomeço é difícil.
Você precisa se desligar de tudo que é maior que já fez, ter a humildade do mundo no corpo para recomeçar num quase zero. Esquecer se já correu mais km, mais forte, mais rápido e, apenas, correr.
Cada passo, é um passo a menos a frente. E um passo a mais na construção de um novo caminho.

Já corri muito… já fui viciada em correr. Já agredi muito meus joelhinhos, pés, quadril e até aquelas engrenagens todas chamadas vértebras que, encaixadas, mantém a gente em pé. São várias as engrenagens, as pecinhas mil que se encaixam para fazer a máquina funcionar. Já resisti muito a respeitá-las em suas limitações e lesões. Eu achava que era Super-mulher quando fazia mil coisas, não sentia dor porque a endorfina, esta bruxa-fada, mascarava o que já estava machucado, cansado e agredido pelas peripécias que eu fazia pra me manter feliz. A endorfina anestesia e pilha. Dá um estado de êxtase na gente. Dá alegria. Tira a gente da depressão. Não há um médico consciente que não receite ao paciente depressivo uma boa dose de atividades físicas. A endorfina cura dor da alma. Ainda que nestes meus excessos típicos de antigamente, possam machucar os ossinhos e articulações como aconteciam comigo. Um bom médico ortopedista uma vez me disse algo que definiu perfeitamente e bem o que acontece conosco. Ele tinha ossos e articulações intactos e saudáveis. Porém, seu sistema cardiorrespiratório era lamentável. Inverte. Era eu. Nota mil pro ❤️ e pulmão. Negativo, devendo para osso e articulação.



Era um joguete. Livre arbítrio. Opção de vida.
Repito. De VIDA.

Por muitos anos vivi assim. E BEM vivi. Me mantive longe anos luz da depressão. Se arrebentei o restante? Sim. Mas foi um tempo feliz. Muuuuuuuito feliz.

Ah. E não me arrependo nem um pouco do que fiz. Sofri muito de dores, sim. Mas as piores foram os julgamentos equivocados de gente que nem médico era e olhando só a carcaça saudável, feliz, reluzente, julgava... Tem nada esta japonesa. Tem nada de dor.

Dor a gente tem. Mas mostra e lamenta e lamuria, se quiser. Dor a gente passa e mostra na cara, no lugar de sorriso de vontade de viver, se quiser. Sim. Tem horas que a dor extrapola e a gente chora. O corpo todo se contorce. A cara se enruga, se desfigura. E sofre. Existem dores que desfiguram a gente no rosto, no corpo e na alma. E digo. As de alma são sempre as piores!

O parar deu uma trégua em muita coisa. Aliviou a sobrecarga nos ossinhos. As articulações agradeceram o alívio. Mas… O coração não ia bem. Nem o físico nem a morada da alma. Pulmão, idem. Quantas vezes, em pequenas investidas de rolês sobre rodas, tive de diminuir muuuuuuuito o ritmo por falta de pulmão, coração e perna também. O corpo sente e se ressente. Excesso de exercido e movimento dá cãibra. Falta de exercido quebra a gente.



A bicicleta é uma amiga parceira que obedece a gente. É uma engrenagem encantadora que leva a gente e dá uns refrescos nos planos e descidas. Eu &Ela, a magrela tivemos uns rolês neste tempo de parada. Não tão intensos como eram. Mas rolês confortáveis e de ventonacara.

Agora, correr…

Correr foi minha primeira paixão. Neste meio louco da endorfina. A hidroginástica, a ginástica de academia, a natação sempre foram boazinhas comigo. Nunca me machucaram. Eram diboinha. Não me cobravam alucinados ritmos. Mas também não me impunham grandes desafios. Com a corrida foi diferente. Aquele tal do ventonacara me abriu uma portinhola imensa… Cobicei maiores distâncias. Sentir prazer do vento abraçando meu corpo, vinha com um desejo de que perdurasse mais e mais, pois já não havia dor. Eu estava alucinadamente viciada naquele jogo. E vício mascara dor.

Parar de correr, quando aconteceu, foi uma retirada abrupta de mim de um mundo que eu conhecia bem e circulava com a maior desenvoltura. Fiquei vazia. Vazio gera vazio. A alma sentiu. A depressão veio mais uma vez.

Não e fácil sair de um quadro de depressão. Talvez, a gente nunca saia de verdade. Talvez, apenas, a gente tire férias dela. Ou, talvez, a gente faça tours por mares onde alguns portos de paragens sejam ela. Tenho estado tão bem… Que chego a acreditar que ela se foi de vez! E, nestas ausências dela, corro a fazer coisas que com ela, é impossível fazer.



Meu semblante é sereno, sapeca e feliz. E, então, me atrevo a enfrentar uns monstros que mantive na gaveta do criado-mudo. Disparo um foda-se neles. E vou. 

Fui para o meu lago, o meu velho amigo lago que me viu nascer como corredora. Me viu aquele dia do tarado no lago, que me fez correr pela primeira vez após dezenove anos do meu acidente, que me deixou sem andar por sete meses. Me viu demorar quatro meses para conseguir dar uma volta completa, correndo em torno dele. "Relés" 2,5 km… Que foram tão suados e me fizeram ligar chorando pros meus filhos na hora que completei minha primeira volta no lago, só para contar para eles! Me viu crescer os km, virar malinha, me ornamentar de artefatos que me distinguiam de corredores iniciantes, com roupinha, meião, cinturão de garrafinha d'água, mochilinha de hidratação quando, então, treinava meus longos para provas ferradas. Me viu passar por ele, chorando muitas vezes, pela falta que sentia dele neste passo. Me viu, muitas vezes, de longe, fugida dele. Por não aceitar este término de relacionamento assim. Como assim? Não posso mais? Simplesmente, fim?



Foram fins-reconeços-fins sem fim!

O coração, quando sofre, torna tudo mais difícil para a volta. Você desiste de acreditar, de perseverar, desiste de saber que é possível. Desiste de tentar. E, se tenta, desiste fácil, outra vez.

Foram inúmeras tentativas e desistências em seguida. Mas eu voltei. Não por uma prova. Não por um outro. Nem, muito menos, pra provar nada pra ninguém! Foi um desejo íntimo, quase secreto, de ir me encontrar comigo mesma. E tinha de ser lá. De cara aberta e certa. No meu lago. Passar pelos menos caminhos por onde corri pela primeira vez, quando eu nem sabia mais o que era isso. Quando eu nem gostava de correr e fui obrigada. Quando eu redescubri ser capaz. Que quem mandava no meu corpo, era eu. Que fazer, dependia muito mais do querer do que saber. Fui. Sozinha. Me deleitando e me flagrando rindo à toa...

Hoje é textão. Precisava extravasar tudo isso. Corri pra lavar a alma. Esta que chorou tanto, tanto por tantas dores de corpo e de alma. E, ontem, num repeteco, corri de novo e um pouco mais com um parceiro de vida. Aquele um dos meus dois melhores #fuieuquefiz . Que revela e esconde coisas de mim. Que viu tantas vezes, sem entender, tanta coisa que eu fazia. Que acabou pegando o gosto. Correu, também. Foi meu parceiro na minha prova que amo. INDOMIT Bombinhas. Dois anos após minha filha ter ido comigo na minha primeira vez. Ontem eu sabia que ele ia querer correr. E queria minha companhia. E eu, toda torta e arrastando de dores da minha primeira investida no dia anterior, já fui trabalhar pensando no que me aguardava ao final do dia. E fomos.



Isto me lava a alma. Me injeta alegria. Me faz tornar a me sentir viva.

Há quem não entenda, recrimine, julgue errado, inveje, deturpe, dispare venenos, minta a respeito. Não ligo. A vida é minha. A sua é sua. Da minha vida, cuido eu. Com toda a gratidão que me de compete. Abraçando cada dia. Abraçando os cavalos brancos que passam me oportunizando, a cada dia. Irouficar. Pararouseguir. Morrerouviver.

Eu opto. VIVO.


sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Comemorar a vida.



Outro dia, falei a um amigo "Se puder, venha ao lançamento do meu livro! Melhor ao lançamento do que ao meu velório!"

Não era um joguete de vitimismo ou mimimi pra chantagear. Era a pura verdade. Convidei pra comemorar algo comemorável em vida. Porque ir no dia da morte não vai me fazer diferença nenhuma…

Hoje, eu comemoro a vida mais do que nunca! Completo 53 anos! Cinquentaetrês. CincoPontoTrês. O meio século já está ficando pra trás. O que me reserva o meio século à frente?

Chega uma hora em que todas as coisas que ficaram pra trás fazem, simplesmente, o que dizem que fazem: FICAM PARA TRÁS.


Fui ganhando amigos preciosos no caminho. Engraçado que alguns passam tão rapidamente que chegam a ser sutil presença que perdura. Que passam como brisa breve e curta. Mas parecem atravessar oceanos de lonjura, permanecem comigo pelo cultivar de palavras amigas, palavras que fazem divertir, fazem refletir, fazem acalmar, fazem acalentar e enriquecer. Enriquecem nosso coração. Somos capazes de acreditar em bem sem olhar a quem. No amor da inutilidade. Sim. Você quer bem sem o outro lhe ser útil. Você gosta sem que o outro te sirva para algo. Você ama porque ama, sem ter explicação de utilidade, aquela lista de motivos que você pensa quando quer escolher amigos ou amores.

Engano seu.

Gostoso mesmo é ter amigos que não te chamam porque precisam de você pra fazer algo. Porque precisa da sua companhia pois sozinho não vai. Porque você sabe algo que ele precisa. Porque você passa segurança, conhecimento, ajuda.

A inutilidade nos isenta! A inutilidade que somos ao outro nos dá a passagem do gostar sincero e desinteressado. Do querer saber notícias do outro e não informações. De querer ficar de papo e não na obrigação de ver uma mensagem chegar e terderesponder.

A inutilidade nos dá o convite para o prazer. Nos tira da desconfortável cadeira de espera de ser chamada porque precisam de você. E nos bota na cadeira da montanha russa, da roda gigante, do carrossel. Porque não precisamos sentar numa cadeira de diretor, de professor, de advogado, de médico, de paciente. Não temos função nenhuma. E estamos porque queremos. E não porque precisamos.

É um prêmio, sabia?

Poder ser anônimo, inútil, desnecessário nos dá um passaporte para a espontaneidade. Do agir pela vontade. Da amizade por autenticidade.

Muitas coisas ficaram pra trás. Mas não há lamento. Há alívio de peso. Há desapego. Há um corpo livre e leve para alçar vôo pelos passares. E poder completar anos sem pesos, comemorando a vida, sem espiadelas para trás, me faz receber a brisa e a ventania de peito aberto. Pronta, livre e certa de que o quê vem é meu. O que já foi, partiu, encerrou seu tempo no meu caminho. 

Todas aquelas pedrinhas que surgiram no caminho tiveram seus destinos. Serem degraus. Virarem poeira. E de tão pesadas que eram em si mesmas, não decolaram. Grudaram-se ao chão. Vôo raso, pobrezinhas. Não foram feitas pra voar.

Eu vou com o vento. As tempestades, enfrento.
Não tenho medo. Quem me cura, o tempo.

A vida me oferece presentes e eu abraço.
E, hoje, eu escolho os amigos. Eu escolho os caminhos. Eu miro o destino por onde quero e pretendo chegar.



Cinquentaetrês é o que foi.
O que me faz brilhar os olhos é esta medida incerta a ser desvendada à frente.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Amiga de pijama



Minha amiga. 
Escrevo pra você, hoje. Hoje, é você. Amanhã, pode ser outra amiga, ou eu mesma.

De pijama. Tem algo que represente estar mais à vontade, sem maquiagem e sem roupagem?

Amiga de pijama!

Aquela que a gente senta junto no sofá com um balde gigante de pipoca e come junto diante de um Netflix, água com açúcar, daqueles filmes antigos românticos, de mais qualidade, sem nenhum teor político, intelectual, querendo se parecer maissso, ou maisaquilo. Só pra ficar ali, se emocionando com história alheia, bobageira leve, que não faz mal, então faz bem.

Amiga de pijama!



Que a gente dorme junto na mesma cama, atravessando madrugada adentro com prosa, risada, choro, café, champanhe, cerveja, suco natural, o que for! Mas atravessa junto. Se chacoalha toda de dar tanta risada de lembranças, de artes feitas, de causos, de confissões secretas. E chora muito junto, também. Por sentir na pele o que ela sente. De dar aquela vontade de pedir pra passar um pouco pra gente, só pra ficar mais leve pra ela. Pra que ela consiga ver luz, quando está tão difícil percorrer o túnel escuro da depressão, da solidão, do problemão. De ter vontade de pegar um vôo, botar o carro na estrada e atravessar quilômetros e quilômetros só pra ir lá, dar um abraço silencioso. Que não diz nada em palavras. Mas contém todas as palavras que a gente não sabe dizer nesta hora. Por mais que se deseje saber.

Amiga de pijama. 

Que já saiu toda produzida também nos rolês da vida. Que já esbanjou risada, alegria e vida. Que já fez parte de cenas não fotografadas. Que compõem aquela nossa longa lista de momentos imperdíveis. E irrepetitíveis!

Hoje, amiga, te vejo tão fragilizada. Te vejo acuada, quase encorujada, com vontade de não ser, simplesmente, nada. Não ouvir. Não falar. Não sentir. Quem sabe até, nem viver. Porque, mesmo sendo amante da vida, acontece isso com a gente. E diga, lá, quem nunca? A vontade que acontece de evaporar. Não precisa ser pra sempre. Mas virar um vaporzinho, só um pouquinho, só pra não ter de responder, decidir, fazer, sofrer. Só pra parar de sentir um pouco esta turbulência de sentimentos que acontecem, de vez em quando.



De bom, minha amiga, é que sentir é privilégio da gente. Que não congelou ainda, coração e mente. Este sentir, este sofrer nos faz humanos. Nos faz coração. Nos faz reais. E viventes. Que é muito mais que sobreviventes. Porque, na verdade, viver é a medida certa. Nem subviver. Nem sobreviver. Viver, apenas, é suficiente.

O tempo ainda é o maior instigador. Que nos coloca em situações incompreensíveis. Ao mesmo tempo em que, se passando por ele, percebemos o quanto ele nos ensina.

Sempre saímos mais fortes depois. As tempestades passam. O tempo se acalma. A névoa se dissipa. E o coração abranda.

Amiga de pijama. Não precisa estar bem para estar junto. Não precisa estar com a melhor cara. Nem roupagem, nem maquiagem. Não precisa ter assunto. Não precisa falar, nem ouvir. Porque, muitas vezes, a gente só precisa disso. Estar ali, ao lado e junto. Num abraço que diz tudo. Porque tem horas que não sabemos o que falar.