Vamos conversar?

Vamos conversar?

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Grandes prazeres… Em pequenos detalhes


Estou almoçando. Vasinho de flor na mesa, feito de vidro de coco e escolha de bom gosto nas flores singelas. Cinco flores do campo rosas, duas amarelas, um botão verde e mais outro bem pequenino ousando ser amarelo.


Comida boa, saudável, num lugar tão agradável em cada detalhe. Desde a comida, logicamente, com opções tradicionais e vegans. A parede feita em giz branco, fundo negro numa parede longa que vai do chão ao teto. Paredes que se alternam comcorsemcor. E a boa surpresa do dia… Música lá fora, no compasso do violão. Tudo transbordando bom gosto, suavidade, daqueles lugares que você chega e não tem vontade de ir embora!


Prato lindo feito, me sento à mesa. Me invade um bem-estar que até sorrio pra mim mesma. Tá certo que tem horas que sou exageradamente sentimental. Vejo beleza em tudo. Me comovo. Me inspiro. Mas sensação é sensação. Ou vem ou não vem!

Feito um trato comigo mesma, não pego em celular enquanto como. Nem sozinha, nem com outros. Hora do alimento é hora do alimento. De comprazer, de se deliciar, de saborear o momento e o alimento. Tiro o óculos com grau escuros e ponho até o óculos de grau transparente para apreciar melhor o lugar. Quero estar toda de poros abertos para sentir e degustar o lugar. Observo as pessoas, mais detalhes, o movimento. As flores escolhidas a dedo que enfeitam cada uma das mesas.


Me coço de vontade de escrever. É sempre assim. Tem acontecido sempre, diariamente. Imagens. Que me atiçam a fotografar para escrever. E viajar no que elas me despertam. Falo muito de viagens. Voltaemeia me escrevem em resposta às postagens me dizendo que viajam juntos das histórias, das imagens, das contagens. Algumas vezes, falando do anseio e do desejo de viajarem também. E de sua frustrações de não poderem. Não terem coragem do primeiro passo. Sentimento bom e ruim. Bom por mexer com um estagnado desejando movimento. Que pode provocar um despertar. Ruim pela frustração que gera. Principalmente porque não há somente impedimentos que se atropela e se derruba apenas com vontade.

A gente que tem o pé na estrada, que já saiu daquela inércia incompreensível, vive tramando os próximos passos. Incompreende quem não vai. Só nesta semana, conversei com duas pessoas sobre isso. Uma não era frustrada em não viajar. Ao contrário de mim, se delicia vendo documentários pela TV. Tem pequenos prazeres no convívio com filhos e netos. Uma dimensão bem menor aos olhos de quem quem ir pelo mundo! Mas real! Outra pessoa que me escreveu após o último post, confessou sua frustração em não ir mundo afora. Disse se deliciar com minhas viagens e se sentir viajando comigo! Que lhe faz bem poder viajar virtualmente nas minhas histórias. E isto me instigou…

Inclui na minha lista de títulos algo pra falar disso. “Outras viagens”. Vou escrever, ainda. Mas hoje, cá com meus botões, olhando pra este vidro de leite de coco com estas flores tão simples, me cocei pra escrever. E tinha de ser agora! O prazer que tomou conta de mim neste ambiente tão agradável, tão especial e, ao mesmo tempo, tão simples me despertaram estas ideias que já estavam sendo digeridas.


Simples. Detalhes pequenos. Alimento. Música para a alma. Chego num lugar para almoçar, item básico na rotina de qualquer um e me dou conta da saciedade provocada pelo simples. Não precisei ir longe, não foi necessário nada esbanjadamente preparado, nem consumido. E me farto de prazeres!

Termino de almoçar como boa menina que tento ser - ou voltar a ser - dentro da minha lista de resoluções para uma vida mais saudável e pego meu escrevedor. Cá estou!

Minha irmã, você está - sabiamente - certa nos teus pequenos prazeres (aos meus olhos inocentes e prepotentes) de ser feliz em pequenas coisas - grandes prazeres!

Minha amiga, você viaja muito mais do que eu que boto o pé, a bota, o pedal e o pneu do carro na estrada. Eu vou de corpo presente. Fica fácil me deliciar em viagens onde estou. Mas como explicar esta tua capacidade gigante de viajar junto, mesmo não estando? Como explicar teus olhos brilhando, sonhando, reconhecendo seus sonhos nos meus? Viajar sem ter o corpo presente, minha amiga, é a capacidade extraordinária de crer sem poder. De não desistir, mesmo sem ir. E isto, este processo que, ao meu ver, antecedem mudanças, são combustível que apenas pessoas muito fortes conseguem manter. Pense bem…. Se comprazer com o que se tem debaixo dos pés, é fácil. Difícil é acreditar mesmo sem estar sobre o lugar que você ainda imagina ou quer.

O relógio aponta a hora de ir trabalhar. Escrevi por cerca de trinta minutos. Um pouco do transbordamento que acontece todo dia, a qualquer hora do dia e me faz ter tanta vontade de continuar nesta conversas.







P.S. CLICS foi um nome especialmente escolhido e não poderia haver outro melhor. Pois aqui é um espaço onde tantas conversas nascem, ou são compartilhadas que é quase como a cozinha da minha casa. Pra escrever cartas, reviver lembranças, retratar imagens, prosear boas conversas e alimentar os sonhos…

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Na fracota, na maciota!



Modo maciota: vai de leve, vai de boa, tranquilinho, devagar. Tipo, curte a janela do trem.
Trem? Que trem?
Este! Que você está…

Carros potentes correm muito! Chegam rápido demais. Só enxergam a bandeirada final. Como se fossem de um só suspiro. Não respiram o caminho…

Quero ir na maciota. Quero respirar o caminho!


Viajar em bicicleta ensina isso. Cada pedalada é como um passo, um empurra, outro vem, enquanto um puxa, o outro empurra, você sente o caminho o tempo todo. Não há como não sentir. Você precisa estar full time se levando. Não existe o irnabanguela. Porque até na descida, onde você dá uma relaxada nas pernas, a cabeça fica atenta e fica cuidando pra você passar pelos lugares certos e não levar um capote. Há quem, na descida, esteja mais presente ainda que na subida. A subida é o esforço. A descida, o gozo!


Ir na fracota me parecia ser ruim. Não é. Tenho descoberto que ir na fracota é ir na maciota. Aprendizado puro de sairdedentrodoseuego (inflado!) para ir, escancaradamente, livre. Livre de passar o caminho na performance. Cheia de orgulho. Repito. Redundantemente. Sairdedentro. Pra estar lá fora. Viver o caminho. Olhar através da janela e enxergar. Ao invés de ensimesmar…

Esta tal da performance vira vício. Silêncio absoluto no ar. Ranço. Narizes entortados. Vão dizer que estou falando isso só porque estou na fase nafracota. Puro despeito meu. Inveja negra de quem está no auge da performance.


Posso falar?

É. A performance é, realmente, um auge. Topo a ser alcançado que gera esforço, disciplina, empenho, foco, muito foco e faz da vida um ciclo interminável de esforçoaugemaisesforçoaugemaisesforço. Este é o ponto. Não tem fim. Na há saciedade, nunca. A cada sucesso, um fracasso. A cada vez que você atinge a meta, nova meta é estabelecida. E malemá você saboreia a delícia do auge. Porque, imediatamente, está insatisfeito em busca de outro. Uma roda viva, cíclica que, se você não mantiver o discernimento, faz a insatisfação se ambivaler à satisfação. E correr tanto atrás do auge perde o sentido. Você passa anestesiado no caminho. Cego na chegada. Porque mal obtém, não tem. Pois já quer outro. Insatisfação sem fim. Compreende?

Não estou atirando pedra na vidraça alheia. A vidraça sou eu mesma!


Estas paradas obrigatórias nos fazem sair de dentro de nós mesmos e nos observar com um olhar de águia. Que enxerga detalhes que, in loco, não enxergaria. Viro, sim, vidraça de mim mesma. Qualquer pessoa que esteja vivendo algo parecido com over, overtraining, overdose, não tem consciência disso. Só saindo pra enxergar.

Na fracota é uma expressão que tenho usado muito para definir o estado que estou. E, ontem, conversando com um amigo, falamos ao mesmo tempo a sua definição: na maciota!


Ser ruds, ser rude, ser duro. Parecem significar a mesma coisa. E o oposto não precisa ser mole. Mas se permitir, um pouco, o ir na maciota. Quando você vai assim, se desatrela de obrigações que te apressam o caminhar. Pode até parar no meio do caminho. Pra descansar, pra fotografar. Quer melhor que isso? Captar imagens que o coração já captou, antes? Dá até pra se alimentar, reabastecer corpo e alma pra, depois, prosseguir. Dá pra olhar em volta, giro de 360 graus, porque quem só anda sem parar, tem um ângulo de visão limitante de 90º, um pouco mais. É um pacote de benefícios tão saudáveis que fico, cá, pensando comigo… Se eu, toda atletinha, passasse neste mesmo caminho, saberia isso tudo? Me permitiria parar? Ou estaria enxergando apenas o chegar?


Falo de cadeira. Por mais que meus olhos passassem atentos no caminho, sorriso no rosto, cabelo no vento, lá dentro o anseio era chegar. Na fracota, apenas vou. Não pus um alfinete 📍 no mapa definindo até onde devo ir e parar. Alfinetes são todos os lugares que eu desejar parar. Não há um portal de chegada, único que seja maior, mais importante que todas as portas no caminho que eu abrir, passar e fechar. Na fracota me permite uma liberdade autêntica, não é liberdade de bandeira 🚩 que se carrega pra todos verem e acaba pesando no carregar, feito porta-bandeira em desfile de escola de samba. É liberdade pra gente, não pros outros. Que cumpre o seu papel primeiro de…
Li-ber-taaaaaaar!!!


Vou na maciota. Sem pressa. O relógio não anda pra trás, mas também não precisa correr pra frente. Vou usufruir cada TIC. TAC. Porque entre um e outro se você prestar atenção, há um respiro. Isso. TIC. TAC. TIC. TAC. Até o final!



domingo, 8 de julho de 2018

O barulho alheio



Então.
Domingo, dia lindo, vento no cabelo do jeito que eu gosto.
Vou lá alimentar espírito, alma e corpo, como me propus. Dou uma geral na casa, tarefa do dia feita e vou lá, andando, usufruir o dia!

Das coisas que gosto de fazer, esta, “caríssima”, na pontinha dos dedos dos pés, do lado de fora da porta de casa, posso fazer todo dia, se quiser. Quintal de casa, perambular descabelada, despista de mimimi, desprovida de uniforminho de atleta, salto alto de madame, ou papéis a cumprir. Vou à toa. Diboa. Sem ter de pagar ingresso.

Aí, aquele barulho do vento vistoso… Carregando pensamentos, sacolejando folhas e galhos e cabelo. Baita sossego!

Vou eu e o Tufo. Todo regateiro, cheirando tudo reconhecendo passagens de sempre. Até música ao vivo, encontro no meio do caminho. Aquele barulho, pano de fundo, que você ouve ou abstrai e sai, se não quiser ouvir.

Imensidão de verde à frente, vontade de andar por tudo, sombras de sobra pra escolher. O Tufo escolhe uma. O sol à pino consente. Hora boa de encostar na árvore e não fazer, absolutamente, nada!


Sempre carrego o meu escrevedor de histórias. Sempre tenho algumas penduradas no pregador da geladeira, na fila de historinhas por escrever. E sempre aparecem algumas, na hora.

Estava eu, já tirando um coringa da manga, umas que estou louca pra escrever e…

Barulho alheio! Não entendo!

Paz alheia. É possível, por favor? Porque barulho alheio, é intrometido, inconveniente, danado de chato. Um verde imenso, rodeado de rua e espaço pra estacionar. Lá fora, amigo. No verde, não é lugar de entrar de carro poluente e estacionar. Mas o barulho alheio faz assim mesmo. É o tipo de gente que ignora proibições e bom senso. Se banca de atleta que gasta energia correndo atrás, na frente dos seus quatro cachorros, mas entra no espaço verde de carro. Dá pra entender? Preguiça de andar? Como se não bastasse, a gente barulhenta chega com seus quatro cachorros sem ter, exatamente, quem os controle. E chega, chegando…

Eu não sou o tipo de pessoa que tem cachorro de porcelana. Tipo nãometoque, nãomerele, nãoseaproxime. Neste espaço público e aberto, há espaço pra todo mundo. E cada um sabe o temperamento do seu pet. E, mesmo sendo “émansinho, nãomordenão”, a aproximação de quatro cachorros - um grande, dois médios e um pequeno tem de ser acompanhada de perto por seus donos. Porque cada cão também reage do jeito que quiser. E se achar que seu dono está em risco ou ameaçado, reage atacando. Eis a questão!

Off course. Os quatro vieram pra cima de mim. O meu reagiu. Latiu e se impôs. Os donos deles? “émansinhonãomordenão”... Explica pro Tufo isso…


Ouvi isso outro dia e agora dou toda razão. Também gosto de ter o Tufo solto, livre, sem guia. Mas este reconhecimento de cachorros que não se conhecem, precisa ser controlado de perto. Porque a apatia e reação entre eles é imprevisível. E se um rosnar… A confusão está feita.

Mas o barulho alheio não terminou aí. Apenas começou…

Esta gente barulhenta parece gostar de mostrar que tem domínio quando, de fato, não tem. É a melhor forma de mostrar isso, adivinhe qual é??????

Ganha um doce quem adivinhar…

Barulho alheio! É preciso fazer propaganda que meus cachorros me obedecem. Nem que, para isso, seja necessário gritar quinhentas vezes ao vento, repetidamente, dando ordens que, off course, eles não obedecem… Quanto mais grito, mais mando. Certo? Errado.

Eita paz alheia que esta gente barulhenta não conhece, não faz e não respeita. Tevebom.

E a gritaria alheia autopropagandeira continua… É feio comparar com pais que não têm o mínimo domínio sobre seus filhos? Porque é igualzinho! Senhor… Juro. Eles mandam ficar. Eles vão. Gritam um pouco mais para obedecer. Lógico que não adianta. Gritam mais, então. Um. Outro. Ninguém obedece. E o barulho alheio continua…

Dali a pouco, chega uma outra família. Cinco cachorros pequenos e um casal. Outra realidade. Discretos. Vão o tempo todo junto com todos os cachorros. Um na guia, por ser o mais idoso. Uma sapequinha com a guia no corpo, caso tenha de segurá-la, se correr. Não se ouve a voz deles. A não ser que você os cumprimente ou puxe conversa. É. Tal dono, tal cão. Fato!

Finalmente, o barulho alheio diminui o volume. Cachorros, os dele e o meu, se familiarizam. Continuam, evidentemente, a falar num tom que toda a redondeza em torno escuta e pode saber o que conversam. Vai que eles tem problemas auditivos e, por isso, conversam tão alto, né? Vai que é isso…

Enfim. O vento é público. O ar. O espaço. E o barulho alheio, invasivo, intrometido sem desconfiômetro ignora que a paz alheia também é direito de toda gente.

Enquanto isso, o vento volta e prefiro dar atenção a ele. O vento, na verdade, está perfeito hoje e não pára um minuto. E percebo que todo o tempo que prestei atenção ao barulho alheio, me esqueci dele, do vento. Então, rio de mim mesma. Ganho a lição do dia. Prestar atenção ao vento! Abstrair o barulho alheio que ele perde a força. Sou eu que escolho o que ouvir.

Eu prefiro ouvir o vento!...