Vamos conversar?

Vamos conversar?

sábado, 25 de dezembro de 2010

Natal com polenta!

Nesta época do ano, envolvidos pelo embalo do Natal, muita coisa acontece. Alguns se tornam mais sensibilizados, aproveitam para passar a limpo ressentimentos, fazem as pazes com familiares ou consigo mesmo. Ou fazem faxina! A da casa e a da alma...
Vêm na lembrança, cenas, imagens de Natais passados... E a simplicidade reina, indo contra tudo o que se vê hoje, a parafernália do Natal que engole a todos, aos bolsos e o sentimento reinante de antigamente de REUNIÃO, de doação um ao outro, de família junto, de olhinhos de crianças que brilhavam sonhando com seus presentinhos pedidos em cartinhas ao Papai Noel e que embalavam sonhos e sonos para na manhã do Natal despertarem os pequeninos que corriam para debaixo de árvoes em busca de ver se seus presentinhos amanheceriam lá! Naquele tempo, as crianças não sapateavam nas lojas iluminadas protagonizando cenas em que os pais, envergonhados ou raivosos, ou acabavam cedendo aos gritos de serezinhos mandantes, como se vê hoje, ou saiam aos gritos, eles mesmos para mostrarem quem é que manda, afinal! Cada família sabia muito bem a sua condição e a conversa sobre o que se queria ganhar no Natal não extrapolava empréstimos absurdos que muitos fazem somente para atender aos caprichos de inofensivos serezinhos. No muito, o que se via, era o esforço comedido, mas sensato de se comprar o máximo que era a tal bicicleta que as crianças  daquela época, tanto sonhavam... Até imortalizada pela propaganda do : "Não esqueça da minha Caloi", quem não se lembra???
Li há, alguns dias atrás, a crônica de Eliane Brum sobre seu pavor de Natal. E ela, habilmente, desdenha todos os seus motivos. Comentei em sua coluna sobre sua ousadia de falar assim. Li comentários sobre seu texto que iam da concordância que retratam esta indignação nossa de todo dia, da manipulação maciça desta data, assim como a crítica sobre ela não conhecer o verdadeitro significado ou o personagem principal desta data. Tenho lido há pouco tempo os seus textos e tenho gostado do que leio. Não creio que ela queira criticar o personagem. Mas sim, a máquina que envolve esta ou qualquer data usada para vender-vender-vender, acima de tudo! Hoje, tive a grata satisfação de ler uma crônica de Domingos Pellegrini, um escritor da minha terrinha vermelha - Londrina. Amei! Não posso dizer que coheça tão bem sua literatura. Trabalhei já em biblioteca, mexia e lidava direto com livros, não sou nem de longe uma devoradora de livros para querer parecer uma crítica ou comentarista , uma conhecedora profunda deste ou daquele autor. Mas o que li hoje, foi pontual! Por isso, vou querer compartilhar aqui! O texto não está digitalizado. Li numa revista local. Mas é tao perfeito que logo mais, vou digitá-lo todinho so para poder postar no meu "Lendo por aí". Mas vamos a ele!
De uma maneira apaixonada, nostálgica sem ser melancólica, ele desenha gostosamente seu Natal de criança. O Natal com Polenta da sua avó! Não era um prato especial... Pelo contrário! O mesmo prato feito em outro dia qualquer e que ela colocava na mesa do Natal, concorrendo com outros pratos mais elaborados, feitos pelas tias, mas que era insubstituível!!! Era uma época em que a simplicidade fazia o Natal! Descreve o arroz soltinho, o feijão cremoso e a polenta cortada no barbante que você chega a sentir o cheirinho da comida... O dobrar cuidadoso dos papéis de embrulho dos presentes que seriam usados, depois, para algum fim (quem não viu sua mãe ou avó dobrando papéis que poderiam ser usados para forrar os armários?). Domingos nos faz dançar na melodia da época! E nos faz adentrar naqueles dias e viajar no tempo... A avó não deixava nada desandar! Nem comida alguma, nem o que reinava no ar! Conversa não virava discussão! Nenhum irmão desamava o irmão! O encontro era de amor! E discutir o cardápio do dia era algo tão desimportante que no dia seguinte ao Natal, o café era o simples pão feito em casa, o café de sempre com o queijo curado. Simples! Porque o complicar só serve mesmo pra preencher vazios. E isto não era, definitivamente, necessário em lares onde se reinava a simplicidade do amor expresso em pequenas coisas. Nada ao extremo. Nem abolir presentes, nem se vender ao comércio exacerbado de hoje! Uma harmonia própria de pessoas sábias, com a essência íntegra. Coisas de vó!

Ainda não acabei de falar tudo o que este Natal me fez pensar e sentir... Mas, como o almoço de Natal me chama, vou lá comer junto da minha família - o que é muito importante - e volto pra cá pra escrever depois...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

História de uma maratonista

(Logo que fiz minha primeira maratona, estava tão entusiasmada com o milagre que representava isto em inha vida que me pus a escrever...Aqui, u pouco da história...)

Tornar-se maratonista, ao contrário do que muitos pensam, não envolve apenas a história da trajetória de um corredor que corria percursos menores e, de repente, decide-se a tentar um percurso maior. Muito mais do que um desafio de superação física, conta e revela a história de vida de cada um dos corredores que cruza a linha de chegada.
Uma das primeiras coisas, ou das mais comuns que um maratonista ouve quando acaba a maratona é “O que você ficou pensando durante tanto tempo que você passou correndo?”. Difícil dizer! Vai depender de cada um... Assim como cada um tem a sua própria história que culmina com a conclusão de uma maratona.
A minha história conta, também, a história de superação de bloqueios físicos que se formaram devido a um grave acidente de moto que tive aos 21 anos de idade, recém formada no curso de Educação Física. A partir daí, a minha vida deixou de ser agitada como é comum a uma professora de Educação Física e a alguém da minha idade. Passei longos anos numa vida sedentária, sem nenhum interesse pela atividade física. Pra ser exata, oito anos! Aos poucos fui resgatando coisas em mim que havia deixado de lado que me levaram ao montanhismo e para praticá-lo, era necessário que eu me condicionasse fisicamente. Isso eu fazia com a natação. Até o dia em que meu clube parou de aquecer a piscina...
O que era pra ser uma pedra no sapato acabou sendo a ponta do iceberg que eu não avistava em minha vida! Jamais imaginaria o que me aconteceria a partir dali. Sem piscina para eu me preparar para as minhas viagens, fui “obrigada” a apelar para outra atividade. Por medida de contenção de despesa e do meu próprio tempo disponível, a melhor opção foi começar a caminhar no lago da minha cidade. Correr nunca esteve nos meus planos! Pra falar bem a verdade, eu nem sabia se podia correr. Nunca tinha tido a curiosidade, nem a vontade de perguntar ao meu médico que cuidou de mim desde o meu acidente, se eu podia correr. Logicamente, sempre acreditei que nunca mais poderia. E já que eu nem gostava de correr, nem no meu tempo de atleta, perguntar ou não, não faria diferença nenhuma. Então, nunca perguntei...
Ocorreu então algo inusitado! Um homem de calça arreada, exibindo-se para quem passasse a sua frente! Alertei a minha amiga para ficar atenta com a presença do dito cujo! Ela foi ficando num apavoramento que logo após os primeiros passos saiu em disparada e me ordenou “Susi, vamos correr!”, ao que eu respondi: “Mas eu não sei correr!”. De nada adiantou... Ela já havia disparado na minha frente e só me restou a difícil tarefa de arrastar-me atrás dela! Foi quando eu me dei conta do que havia acabado de fazer: tinha corrido uns 500 metros! Fazia dezenove anos que eu nunca mais tinha corrido! Fiquei deslumbrada com o que havia acabado de acontecer! No dia seguinte, encontrando um amigo meu que me acompanhava algumas vezes na caminhada, contei a ele o acontecido. E para minha surpresa, ele me respondeu: “Bem, se você correu ontem, vai correr comigo hoje!”. Praticamente intimada a isto, não tive escapatória. As palavras dele agiram como um desafio... Algo totalmente novo e fora do planejado. Jamais desejaria, pra mim, correr! Não fosse o incidente e um amigo doido, mais doido do que eu pra me cutucar e me por pra correr, jamais teria feito isso. E todas as vezes que nos encontrávamos eu corria com ele. Trechos que partiram dos 700 iniciais para ao longo de quatro meses culminarem com uma volta inteira no lago. Que significava 2.200 metros!!! Uma das minhas vitórias mais marcantes! Equivalente a qualquer grande prova que eu queira e deseje fazer! Pois eu parti do zero e percorrer a volta toda do lago, significou o desbloqueio emocional que gerou todo o bloqueio físico já existente e nunca curado! Eu não mais caminhava! Eu corria! Dali pra frente, a paixão pela corrida foi ganhando um espaço em minha vida na mesma proporção de ser algo tão improvável e tão impossível de acontecer. Nas férias na praia em Bombinhas, foi um deslumbre! Todos os percursos que eu fazia caminhando, nos outros verões, eu passei a fazer correndo! E sem nem sentir, estava fazendo percursos de uma hora. Em Jaraguá do Sul, tive a minha primeira experiência de “Forest Gump”! Comecei a correr e não parei! Corri pelo Parque da Malwee por 1h45’, sem parar! Era o meu maior tempo até então! Costumo dizer que na corrida, a gente vai ficando atrevidinha!  Quando se faz algo meio doido, além da nossa imaginação, perdemos o juízo! E partimos numa ida, invariavelmente, sem volta, para novos desafios...
Dias depois, convidada por um amigo, fui fazer um percurso de 22 km...  Incluindo uma subida hiper íngreme e interminável... Acha? Quem eu estava pensando que eu era? Uma corredora, creio eu... E era! Eu só não tinha tomado consciência ainda do fato...
De volta a minha cidade, o lago tornou-se pequeno para as minhas investidas. Rodar os km que eu pretendia, procurar subidas como as que eu encarei nas férias, implicaria em buscar a rua. Caminho sem volta, mais uma vez! Tomei o gosto por queimar asfalto! Correr para mim era sinônimo de liberdade.  De sair sem rumo. De correr no meu tempo, sem nada pré-definido. Era algo solo sem ser solitário. Gostava da minha liberdade.
Em agosto de 2008, participei da minha primeira prova. Vi um outdoor na rua que divulgava uma corrida noturna. Achei a idéia muito interessante e me inscrevi. Foi a primeira... Depois de três meses, estava participando da minha primeira meia maratona, em Maringá. Em 2009, vi a divulgação da Meia Maratona das Cataratas e me entusiasmei com a idéia de correr lá! Fomos em quatro. Organização perfeita! Prova, quase o tempo todo na chuva. Delícia! Adoro! Lavou a alma com meu tempo péssimo na Meia de Maringá. Fascinou-me de um jeito que já me programei para a próxima Meia: a do Rio! E então, eis que surge mais uma vez um inesperado! Um amigo virtual chamou-me para participar da Corrida da Graciosa. Logicamente, recusei o convite! Imagine, 20km de subida e eu, fraquíssima em subida... Insistentemente, ele se dispôs a me ajudar a treinar para ela. Passou-me um treino. Desconfiadíssima ainda, afirmei que só iria correr se próximo à data da prova, visse que eu estava dando conta do recado nos treinos. O que envolvia muitas subidas, muitas rampas, muita disciplina e muita dedicação. E fui. E para minha surpresa, fui bem melhor do que eu esperava. Isto me fortaleceu de tal forma... Concluir a Graciosa, sem quebrar, abriu-me uma porta, até então nunca percebida. A das impossibilidades na corrida! Pensar numa prova inconcebível e treinar para ela, crendo que seria possível fazê-la foi algo que mudou a minha vida! Tanto mudou que quando estava nas vésperas da Graciosa, este mesmo amigo que me treinou, começou a atiçar-me para outro feito: a Maratona de Curitiba... Eu sempre tive a firme posição de que a maratona é algo sem lógica, nada atraente para mim, inalcançável, fora de propósito. Não havia por quê eu querer fazer. Fazer pra quê? Não, definitivamente não! Um “não” que durou 2 horas e 20 minutos. O tempo que eu demorei pra concluir a Graciosa. O êxtase de terminar uma prova tão dura e tão singular como ela é, nos endoida um pouco mais! Uma vez mais, deparar-me com algo impossível acontecendo na minha vida, fez-me mais atrevida, de novo! E resolvi aceitar o desafio do meu amigo. Treinar para a maratona de Curitiba!
Quando você tem um alvo definido, seja ele um sonho ou não, se ele for transformado em meta e a partir disto, você estabelecer as etapas que vão te capacitar para chegar a ele, juntar a isso, qualidades próprias aos corredores, leia-se: teimosia, determinação, disciplina, controle próprio, a busca por sonhos, a chance de se chegar ao almejado é muito, muito grande!
O que vejo agora, após quase dois meses de ter concluído esta minha primeira maratona, é que o ser humano tem possibilidades infindáveis a sua frente! E não aproveita seu potencial... Não é à toa que quem começa a caminhar e que vai, aos poucos, incluindo em seus passos uns trotezinhos, vai animando-se e vai, gradativamente, aumentando seus km em corrida, ao mesmo tempo em que vai diminuindo os km de caminhada. A corrida é empolgante! Ouso dizer que exatamente por este motivo que tantos corredores anônimos, assim como eu, estão atrevendo-se a participar de uma prova tão dura. A adrenalina produzida no dia da prova acelera-nos tanto que fazemos muito além do que geralmente podemos.
Decidir-se por fazer uma maratona é antes de tudo, uma opção por desafiar a impossibilidade e torná-la uma vaga lembrança de uma barreira transposta e que nos dá o degrau necessário para transpormos tantas barreiras que nos são impostas na vida! Muito mais do que imaginam os desavisados, concluir uma maratona não é nem de longe uma experiência restrita ao corpo físico. A alma toda é mexida! São horas em que, de fato, somos uma coisa só! O corpo carregando a alma, o espírito flui e nos pegamos orando e conversando com Deus numa tal intimidade absurda, onde ora estamos clamando por forças para terminar a prova, ora nos pegamos cantarolando, agradecendo pela experiência única de estar ali por horas e horas correndo, numa atividade impensável, percorrendo por ruas onde você pode ver todo tipo de pessoas correndo atrás de seus sonhos.
Vi muitas pessoas idosas (idosas? Diria, apenas com alguns km rodados a mais do que nós...), vi pessoas simples, correndo com tênis de nenhuma marca. Vi cadeirantes que corriam sozinhos e vi um que era levado por um corredor em passos largos e velozes. Vi gente dividindo garrafinhas de gatorate pela rua, pessoas oferecendo água ao desconhecido do lado. Pessoas puxando conversa e contando um pouco de seus sonhos a breves companheiros de prova que nunca viram e nunca mais verão! Vi pessoas maravilhosas pelo trajeto que embora não estivessem correndo, eram a platéia animada que lendo nossos nomes nos números, nos chamavam como velhos conhecidos e falavam palavras de incentivo! Crianças que nos aplaudiam e de algum modo nos davam a energia que precisávamos para seguir...
É absurdamente impossível conter em palavras toda emoção de correr uma maratona! Eu, que particularmente sempre fui contra participar de uma, pela impossibilidade que ela representava para mim, ver-me de repente, lá no dia da prova, alongando-me minutos antes da largada, ter meus filhos junto comigo, ver tantas pessoas reluzentes a espera da largada... e me ver ali... Falar da prova em si, é um capítulo a parte! Cada cena é digna de ser contada. Cada lição tirada de cada pequena experiência simboliza lições para a vida toda. Ter amigos que correram a prova de 10 km nos esperando passar lá pelo km 38, nos acenando e tocando em nossas mãos, falando palavras de incentivo, ver pouco a pouca as plaquinhas de km indicando a proximidade da chegada... e por fim, o que pedi a Deus: aquela chuvinha abençoada que me refrescou e me lavou a alma! Lá entre o km 41 e o 42, tive uma experiência inesquecível: por volta do km 39, liguei para minha filha e falei que estava perto do km 40. Ela ficou me aguardando e como via que eu não chegava, me ligou. Atendi o celular quando estava passando pelo km 41. Foi quando a chuva fina começou. Avisei onde estava e desliguei já totalmente tomada pela euforia de estar terminando. Bem próximo, então do km 42, algo que não consigo expressar em palavras. Talvez por imagem se tenha a idéia da cena. Minha filha, driblando a segurança da cerca próxima ao pórtico de chegada, invadiu a rua e veio ao meu encontro naquela chuva que agora, então, caía como Deus mandava! Intensa! Tão intensa como era a minha emoção naquele momento! Acho que ela tentou me abraçar, me dar a mão. Ali, tão próximo da chegada, a gente se encontra num misto indescritível de alegria, choro, emoção, confusão, que eu não consegui lhe dar a mão, acho que com medo de me atrapalhar e não conseguir dar os passos finais. E dali, ela seguiu ao meu lado, debaixo de chuva, os últimos metros dos 42,195 km da minha  primeira maratona. Agora, achei a razão para os tais 195 metros finais. Neles pode acontecer a maior emoção de uma longa maratona. Você ser agraciada por Deus de além de estar terminando algo até há pouco tempo impensável, ter ao seu lado as pessoas mais preciosas: junto comigo na rua, minha filha. Do lado de lá, protegendo a câmera da chuva, meu filho. Minhas maiores preciosidades presentes num momento inesquecível em minha vida. Concluir a Maratona de Curitiba remeteu-me a cena onde eu correra pela primeira vez no lago na minha cidade... Tão improvável, quanto possível!
A maior mensagem que alguém que acabou de concluir sua primeira maratona tem a passar é de acreditar que, a todo momento, nos são impostos limites e que nem todos eles são intransponíveis. Quando o coração define um sonho, a mente determina-o como meta, a alma regozija-se em correr atrás dele. Numa mágica que só acontece aos que crêem e perseguem seus sonhos, surge uma força até então não conhecida, que nos capacita a transpor barreira por barreira, rumo ao sonho. É quando a FÉ entra em ação! Aquele sentimento que crê, ainda que tudo indique ser impossível.  É da junção dessa paixão que nos move a buscar o sonho e da fé que crê e que alimenta a esperança de se chegar ao que se almeja que se constrói a base sólida para se buscar com sucesso. Perseverar! Ter convicção de que se pode chegar lá! Entre querer e fazer uma maratona existe a distância exata contida na palavra determinação. Muitos querem, poucos são os que buscam conseguir. Muitos sonham, poucos são os que acreditam em seus sonhos e vivem para realizá-los. O apenas sonhador debruça-se sob as estrelas e espera uma delas cair do céu em suas mãos. O sonhador-realizador contempla-as e, através da sua luz, segue o caminho que o leva até elas!  Este é o maratonista! Somos do tamanho de nossos sonhos!  E nossos sonhos, do tamanho de nossos passos. Realizá-los só depende de se dar o primeiro passo...
P.S. Em tempo: foram 19 anos desde o meu acidente até a primeira corrida no lago, após deparar-me com um visitante indesejável. Quatro meses para sair dos 700 m iniciais e conseguir dar a volta completa de 2.200m no lago da minha cidade. Um ano e meio após a primeira corridinha, completei a minha primeira meia maratona e mais um ano depois, completei a minha primeira maratona em Curitiba! Novo sonho? Correr uma maratona oficial em minha cidade... Impossível? Não! Impossível só existe no vocabulário dos descrentes na Fé, dos que já morreram ou dos que perderam a batalha sem nem ela acontecer!
Os sonhos podem ficar adormecidos, mas uma vez despertados, são como caixas desenterradas após um terremoto... Respiram o novo ar, inflam-se! Não retornam aos seus lugares, jamais! Ganham o espaço, cá fora e aqui permanecerão! Para expandirem-se, tomarem forma e nos levar por vôos ainda não experimentados...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A menina que amava pipas

Havia uma menina que adorava acompanhar o vôo das pipas. Fascinava-a imaginar que papéis suavemente coloridos e tão finos ao ponto de serem transparentes contra a luz pudessem se tornar bravos planadores dos ares, que resistiam ao vento que investia contra eles, como se perguntando se era aquilo que realmente eles queriam fazer. Exatamente por isso, papéis aliaram-se a varetas, cola e rabiola, pediram ajuda a linha para que pudessem embrenhar-se nas alturas sem serem levados embora sem nem, ao menos, terem alçado vôo. Seu fascínio pelas pipas começara quando ela, ainda muito pequena, debruçava-se na janela, curiosa, observando aquela espécie de pássaros que precisavam ser amarrados, tal qual coleira, para poderem voar. Seus olhinhos alcançavam o céu lá longe e seu coração já, desde então, desenhava o desejo de ser como elas: as pipas! A menina cresceu, conheceu o amor que lhe batera à porta, mas a imagem das pipas voando no céu instigava-a sem ela compreender o porquê mantinha seu olhar sempre triste como se lhe faltasse algo. Era diferente observar o vôo dos pássaros. Embora não lhe prendessem o olhar, ela lia em seus vôos a liberdade do ir e vir e uma alegria que não sentia mais. Buscava em suas lembranças, quando havia sido o momento em que isto acontecera: a perda da ingenuidade contida na infância! Que protege os sonhos de criança da realidade. Que inventa super heróis mas não lhe ensina depois em que acreditar para prosseguir, desarmado de super poderes, de linhas invisíveis que te alçam ao vôo, mas que te prendem, te seguram em segurança, mas que te aprisionam sem lhe permitir ver o que há adiante do horizonte...
Num flash, então, de súbito ela compreedeu. Seu amor pelas pipas conduziu-a a enveredar-se no mesmo vôo: um amor de prisão. Onde ela buscou, primeiramente, alguém que lhe segurasse a linha para ela poder voar. Sentiu o prazer do vento embalando seu corpo, chegou a brincar com outras pipas no ar, mas avistou o por-do-sol lá longe, desejou chegar lá, mas seu coração entristeceu-se ao ver que, amarrada à linha, jamais chegaria àquele lugar. Chorou noites e dias, desejou, até mesmo, cortar de si própria aquela que era, ironicamente, sua protetora e sua algoz. Quem lhe permitiu partir da terra firme em que nascera, sem lhe contar o alto preço a pagar. Nunca, jamais ir além, em busca de seu próprio vôo, o seu desejo de dançar sem vergonha nenhuma no ar. De rodopiar quantas vezes quisesse, nem que isto implicasse em correr riscos... Pois de que adiantaria permanecer num vôo tão longo, seguro, sem sentir o verdadeiro prazer de planar, livre no ar? E, num repente, viu-se com a linha arrebentada junto ao seu corpo. Não porque assim havia decidido, mas porque a mão que segurava a linha decidiu assim! Sentiu-se perdida! Não sabia o que fazer! Teve medo e quase sucumbiu. Mas aos poucos, descobriu que ao se separar da linha, perdia a segurança, mas ganhava o horizonte...
Esta historinha eu dedico a quem ousou sonhar e voar! Ainda que parecesse um vôo louco, um rumo incerto. Que choraram de dor, da perda de um amor, do filho, mas que seguem... Não com a dureza de quem nada sente, nem com a futilidade que banaliza sentimentos. Que admite querer o amor, ainda que o horizonte lhe pareça longe. Mas que crê e permite confiar no Invisível, naquilo que a gente não compreende. Em especial, a Lili, a menina que dança e rodopia no ar. E que está reaprendendo o Amor para, tão somente, confiar...

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Comentando a coluna de Eliane Brum: " "Tapas e beijos" sobre o filme "AMOR?"


Sempre que me é possível visitar esta coluna, tenho a grata satisfação de ler seus textos inteligentes, ousados e muito bem fundamentados em seu peculiar bom senso, sua sensibilidade que não escorrega por palavras batidas numa imprensa sensacionalista, quando o assunto é este: amor/paixão/violência entre casais.
Eliane, você faz uma análise ousada! E tão real quanto merecedora de novas reflexões. Mulheres e homens protagonizam histórias que denunciam manchetes baratas onde a única intenção de quem conta é indicar uma vítima e um agressor. Despreocupados em se aprofundarem no que envolve, causa e mantém as relações doentias.
Concordo quando você diz que no início de uma relação, cada qual busca características no outro que o atraiam. E permanecem por uma necessidade sua, ainda que, ela mesma, doentia. Fala-se, pejorativamente, em “mulher que gosta de apanhar”. Fala-se em traições, em drogas, lista-se motivos que podem desencadear a violência. Mas não se procura desvendar o porquê do agressor começar a agredir. Qual é o fósforo que risca e acende a explosão.
É bem típico do jornalismo sensacionalista “supervitimizar” a vítima e postar o agressor numa parede, de nãos algemadas, de cara abaixada, encurralado, como se fosse uma mostra significativa de “bateu levou”. Longe de justificar a agressão, não há o que justifique os espancamentos, os cárceres e barbáries, é preciso ter bem claro que agressão não é apenas a física. E, enquanto homens explodem, animalescamente, na força física, as mulheres o fazem na invisível e não menos dolorosa forma verbal. São comportamentos também doentios de provocar ciúmes, humilhações e de “acenderem o fósforo”. E, creio eu, que isto só vem reafirmar a natureza humana, onde há uma busca constante de se buscar aquilo que falta nele próprio, como se dependesse de outro alguém, a sua completa felicidade. Ilusões. Vazios. Buracos que se pensa poder preencher com algo fora de si mesmo. Quando a solução é estar feliz para fazer o outro feliz. E não, simplesmente depositar no outro toda a responsabilidade de sua felicidade ou de sua infelicidade! Pois enquanto se vive a fase da conquista, são postas pra fora, apenas as expressões que possam atraí-lo. E, ao ser contrariado, ou frustrado em seus desejos, manifesta-se o lado obscuro, violento em que se busque, a qualquer preço, acabar com o causador de toda sua dor ou tristeza. A velha e batida fórmula de se acreditar que a culpa é sempre do outro.
Mais uma vez, um inteligente texto para provocar discussões e reflexões, pois, como você mesma falou, a releitura dos fatos traz para dentro de nós o que acontece lá fora. Aproxima e nos revela suscetíveis ao que acontece. Propicia nos identificarmos com os personagens e nos surpreendemos, então, repetindo erros que nós mesmos condenamos...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O amor que sinto pela minha filha

Já passamos por tantas coisas… e são tantas, tantas que desejo, ainda, passar! Já errei tanto, tanto com minha filha... e o melhor é ver que já nos perdoamos, que já caminhamos e não desistimos nunca de nos amar! Uma mãe desenha sonhos... Mas não sabe como eles serão distribuídos na vida de uma filha. Que nuances terá. O que irá compor. E, de repente, vê que o pincel deve ser manuseado por ela própria e não mais por você.
Já fomos defensoras de sermos cúmplices, de termos uma incrível “telepatia” entre nós que nos permitia sabermos, antes mesmo da outra falar, o que diríamos. Antevíamos as falas, as caras, os gostos. Compartilhamos sonhos. Protegi e fui protegida. Defendi e fui defendida. Invertemos papéis. Fiz-me de filha e ela de mãe. Erramos. Acertamos. Brigamos muito. E calamos tanto.
Houve o tempo em que ela cabia em minhas mãos. Depois em meus braços. Até que houve o momento em que, relutante, eu tive de aceitar suas asas e seu vôo próprio. Assisti com um sorriso nos lábios todas as suas tentativas. Quis estar junto. Quis me afastar para dar-lhe espaço para seguir seu rumo, buscar seu caminho. Sentir-se, suficientemente, segura sozinha para poder seguir, pois fui criada e procurei criar para sua independência. Até ver que, emocionalmente, ninguém pode ser totalmente independente do outro. Que emoção não é razão. Que decisões que se toma sozinho para tantas outras coisas não são referências para optar se quero, ou não quero amar! Quero, ou não quero estar triste. Preciso, ou não preciso de colo, de abraço. Chorar e sorrir na companhia de quem se ama.
Fomos por um corredor. Aquele mesmo corredor do qual sempre falo. Onde batemos a cabeça de um lado, depois, batemos do outro. Numa busca constante e incessante do equilíbrio. Do meio. De um meio-termo que nos permita ser nem só uma coisa, nem somente outra. Que nos dê o direito de não só errar, nem só acertar. Que nos mantenha mais humanas. Que nos resgate a condição de pessoas. Que não cobrem, nem sejam cobradas por perfeição. Que sejam um pouco menos egoístas sem serem tolas. Que sejam um pouco mais flexíveis, sem serem sem opinião. Que sejam um pouco menos leves sem serem fúteis. Que sejam um pouco menos duras, sem serem moles demais ao ponto de permitir que os outros não respeitem suas opiniões. Que possam sorrir sempre que tiverem vontade, gargalhar ruidosamente, de dobrar-se de tanto rir, de encher os olhos d’água de felicidade, de desenhar um sorriso vivo, pleno e inteiro de olhos brilhantes e lábios radiantes e que esta felicidade seja, escandalosamente compartilhada e vista, e declarada, denunciada só no olhar. Que a sintonia seja quanta e tanta for a intensidade do amor. Mas que possam, também, chorar. Serem fracas. Terem medo. Vacilarem diante do novo. Que tenham dúvidas. Que permita choros, colos, engasgos desengasgados, para que o nó se desfaça, ainda que haja dores, que haja medos. Mas que a certeza de se ter ao lado, a mãe, a filha, a pessoa amada seja sempre plena e maior que mesmo na ausência se sinta a presença. E que a lembrança seja uma luz de esperança em todo momento onde se esteja só pra não se sentir solitário. Que o calor de todos os momentos de conversa madrugada adentro, de filmes água-com-açúcar debaixo do mesmo edredom, da mão quente que aquece, das noites apertadas e dormidas numa mesma barraca, acompanhem seus dias, suas noites, acalentem, aconcheguem e não a deixem nunca só. Era o tempo de enxergarmos nossos contrastes. E de nos aceitarmos exatamente assim: imperfeitas! Singularmente, nós mesmas!
Então, caminhamos juntas. E vejo, hoje, que isto é o que realmente importa. Pois esta cumplicidade, este compartilhar nos une pra sempre. E todas as coisas tornam-se pequenas diante do amor. Não existe dificuldade que não possa ser vencida por ele. E aprendo que ter lágrimas nos olhos por vivermos juntas momentos só nossos, só nos faz ver que nossa essência não secou e que a fonte está viva dentro de nós.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Cartas que escrevi: Pra poder voltar a sonhar...


(carta à minha filha, há meses, ao enviar uma planilha de previsão e gastos... re-organizando pra poder sonhar!)

Agora você já pode tomar conta de tudo!
Tem fórmula pra todo lado...
Os valores de cima puxam valores de baixo.
Coisa de louco... Mas estou feliz por ter colocado as coisas em ordem...
Já fiz o dever de casa...
Agora, acho que já posso tentar voltar a sonhar...  
Cheguei a falar que não tenho mais sonhos...
Acho que é medo de tê-los...

Brisas(um lar novo) pode ser um... de novo..

Morar em bombinhas... Me vejo tanto eu, lá velhinha, numa casinha que eu desenhei a planta, morando lá numa casinha com mezanino, cheia de planta em volta, cozinha junto com sala,pequena e aconchegante, e eu lá... escrevendo... saindo quando dá na telha pra andar, sair de bike, pedalar... ir nadar, mergulhar... ficar lá nas pedras de quatro ilhas olhando pro mar... Tomando vento na cara... Ficar só, sem me sentir sozinha... Não vejo a pessoa que possa estar ao meu lado lá, quando chegar este momento. Pode ser que haja alguém, pode ser que eu ainda esteja à espera deste amor. Não sei qual será o amor. Hoje, ainda tenho medo de ficar esperando. Mas também não quero pensar nisso. Sei que esta imagem de eu lá em Bombinhas, me parece branda, me dá um sorriso na boca, como poucas coisas são capazes, ainda, de fazer comigo... Sequei, endureci, enfraqueci... Já não sou mais a mesma. Muita gente ainda pensa q eu sou uma Susi cheia de vida. Não sou sempre assim! Elétrica, faladeira, animada. Sinto que caminho pra aquietar. Saio, sim, pra correr, falo bastante, adoro jogar uma conversa fora! Acho que se morasse lá, com muito  pouco tempo já conheceria todo mundo. Bateria ponto cada vez que tivesse de sair pra comprar um pão. Se não estivesse, eu mesma, fazendo meu pão na “minha máquina de fazer pão” (que veio no lugar da primeira aliança de casamento, lembra?). Cd vez que tivesse de sair pra fazer alguma coisa, acho que demoraria umas duas horas pra voltar pra casa, porque eu rodearia, rodearia, passearia, e papearia...
Sinto, de verdade, que lá é meu lar! Não sei se vou mudar de idéia, se vou virar uma velhinha urbana, que gosta de morar num prédio legal em londrina numa cidade que amo, adoro, me orgulho e goste da cômoda situação de morar num lugar bom, no lugar que mais adoro na minha cidade, onde é só sair um quarteirão e já estou no meu jardim, no meu quintal , no meu tudo... no meu lago... será que vou me acomodar? Será que vou desistir de ir pra Bombinhas? Só pra ficar no conforto daqui? 
Vejo tanta gente que quando sai de casa fica desesperado pra voltar pra casa. Pro seu lar! Eu nunca tive isso! Nunca me senti voltando pra casa. Como se nunca tivesse estado, de fato, no meu lar! É coisa meio de raiz... Como se tivesse faltado terem me fincado os pés em minha casa... Não é que eu não goste de morar onde eu more. Não é q eu não tenha pessoas pra quem eu possa voltar. Hoje, são meus filhos! Já tive família. Mas aquela sensação de uma casa aconchegante, onde eu me sinta em casa, aquele cheirinho do qual sentir falta... Ah... eu penso que ainda não tenha colocado os  meus pés em casa ainda...
Entào, o simples (não tão simples assim) ato de por as contas em ordem me permite agora, vislumbrar um pouco a frente... Isso é bom! Extremamente bom! Pra eu tirar os olhos do ontem. Caçar algo lá na frente! Porque olhar pra frente permite pensar em sonhos, novamente... Coisa q eu já havia me desanimado em pensar...
A gente costumava dizer que as pessoas se enganam achando que acampar é fácil e é coisa de gente desordeira... E é exatamente o contrário! Pra se sonhar, também não se pode ficar vagueando pelas nuvens. É preciso ter os pés no chão. Conta em dia! Desenhar metas! Aliar o real àquilo que não se concretizou, ainda! E crer! Diferente do que se pensa de pessoa sonhadora, sonhar implica em acreditar no que ainda não se vê, a partir do que se sabe, se tem, se vê hoje! Ainda que pareçam inconcebíveis, somente a partir de um planejamento que se corre atrás de sonhos!
Eu não sei por que não começo a escrever logo de vez! Talvez porque eu enrosque no “assunto”...
Bem, fica aí pra vc, uma planilhona. Livro aberto!
É interessante como pra escrever, pra mim, é só começar...
Ainda vai sair o livro...
Bjus
Amuuuuuu
Muito
Muito você!!!!
mammy

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

CLIC de viagem: Bombinhas - escrevendo para um amigo

Pois é! Quando conheci vocês no Marumbi, estava no começo desta paixão de correr! Passei já, pela fase do vício, fui equilibrando e dosando e agora estou pondo em prática, outro velho sonho: escrever! Estive em Curitiba pras ultimas corridas. A subida da graciosa com os 20km de subida, correndo... E a maratona...42km... A montanha acabou ficando de lado. Mas está fazendo muita falta. Uma amiga minha corredora que também é montanhista e biker sempre me chama pra ir com ela por aí. Mas de Londrina fica tudo muito longe... Ano que vem será um ano de contenção de despesas! Vão me entregar o ap que estou pagando. Aí, tem que segurar os bolsos!

Mas há tempo para tudo!



Sobre Bombinhas, falou com a pessoa certa! Deu uma olhada no okt tb? Somos mais de lá do que daqui! Digo, sempre, que meu lar é lá! Sim, conheço tudo por lá! Sem dó!

Então, vamos lá, meu amigo!



Praias sussi: no centro, sepultura, retiro, as do lado de lá, zimbros, canto grande, morrinhos, ribeiro (entre bombas e bombinhas)

Imperdível: mergulhar de snorkel sem sair de barco. Locando equipamentos para o dia todo pela praia mesmo. Ou ate comprando pra vocês! Uma vez mergulhado lá, é um feitiço/encantamento sem fórmula para desfazer... Você vai voltar!!! Se estiver com a grana curta, não compre, mas alugue o snorkel, máscara e nadadeira, se você não se atrapalhar com ela. Pra quem não está acostumado, parece atrapalhar. Mas na hora de flutuar, a nadadeira ajuda muito! Ajuda a se manter na superfície, age como se fosse um flutuador e na hora de se deslocar dentro da água é equipo obrigatório! Outra coisa! Dá muito mais segurança pra ir longe tendo certeza que vai ter perna pra voltar!



Ondas pra brincar: quatro ilhas e mariscal! Mariscal, inclusive, é uma praia bem longa. A maior em extensão e largura. Linda! Sugiro fazer a caminhada a pé do centro até mariscal. De carro, td bem, é mais rápido. Mas aí você vai perder o melhor que é a rajada de vento de quando você sobe, sobe e sobe e chega no topo da estrada de terra que leva à mariscal e toma na cara, quase te levando embora, como prêmio de ter chegado ao fim da subida! Fora a vista!!! Indescritível! Quando me falaram pela primeira vez desta pernada, não entendi muito bem o que ele queria dizer! Andando por ela, esta estradinha de terra, você vai compreender! O vento vem de uma vez e a vista... Você viaja pela paisagem, antes mesmo de entrar nela! Pode? Pode! Lá em Bombinhas tudo que for de deliciosos, pode!



Trilhas: tem pra todo tipo e gosto! Costumo ficar no retiro, acampando! De lá há duas. Indo pro lado de sepultura, você pode ir pelas pedras, com cuidado de ver a maré onde está! Há trecho que você vai escalaminhando (que chato!!!!)  E margeia a rocha no alto, pelas beiradas do mato pra fugir da água, se a água estiver pegando. É fácil! Mas todo cuidado é recomendável! A chegada à sepultura é linda!Meia hora? Creio que depende de quantas paradas der pelo meio do caminho. Pois como bom apreciador sem pressa de se chegar ao fim, sei que irá querer parar, fotografar a amada, sentar e sentir o vento na cara... Hum... Pra depois prosseguir! Melhor pedida! Bem, ir com pouca coisa na mão. Mochileiro que é, sei que irá levar água, boné, FPS e até uns lanchinhos! Quando chegar do lado de lá, verá que pode atravessar o “pescoço” da grama e ir pra praia se refrescar. Costuma ser lotada na temporada. Mas saindo da muvuca da beiradinha, você logo é premiado com um mergulho imperdível ali mesmo você pode alugar máscaras e snorkel e sabendo se virar na água, vai beirando as rochas do lado direito e se afastar das pessoas e ganha um mergulho belíssimo! Quando vou só com a roupa do corpo – leia-se biquíni, apenas – enrosco a máscara no braço pra ficar com as mãos livres e me embrenho por esta trilha pra chegar do outro lado e já sair mergulhando! Sem estresse de deixar a mochila em algum lugar seguro, escondidinho. É uma pedida! Mas se preferir sair dali e já ir para um boteco, tomar algo gelado, vá pela estradinha de volta em direção ao centro e pare no alto da vista para a lagoinha! Ali é o lugar onde mais pessoas param abobadas com a beleza do lugar. De cima se avista a praia , a água, as rochas e a transparência da água. Você pode passar horas ali vendo peixinhos, sem nem mesmo mergulhar. Com a água nas canelas, você fica em pé no meio da água e eles ficam ali nadando em torno de você! Inesquecível!

Na sepultura, ainda, a subida para o morro da ponta dá em pontas boas pra se pescar, sentar e curtir. E vacas!!!

A outra trilha que sai do retiro em direção à ponta da direita é a mais procurada pelos pescadores! A trilha, dependendo de ate onde você pretenda chegar, pode levar horas! Não se entra ali, sem mochila de ataque com muita água, lanche, lanterna e agasalho leve, ou capa. Você vai passar pela mata, subidas, descidas e não vai chegar a lugar nenhum que venda algo de comer ou beber! Pode andar quanto quiser que você não vai chegar a quatro ilhas! A nãos ser que, logo no início, ao invés de tomar o rumo da ponta, você desvie a direita e faça a trilha do pomerode, cortando o morro do retiro e saindo, sim, em quatro ilhas. Num trecho de bastante aclive, mas mais curto! Pelo outro lado, por experiência própria, andei, andei, andei e não cheguei à praia de lá! Não se chega!Pois se vai para os penhascos, os costões, impossíveis de se transpor sem correr riscos. Há muitas paradas pelo caminho! E muitas histórias por ali também! A mais conhecida é de um casal em lua-de-mel que foi tirar fotos ali e naquela de um passinho pra trás, a moça foi atingida por uma onda inesperada, caiu e nunca mais foi vista. Todo cuidado é recomendável!

Em quatro ilhas, uma trilha curta, linda que curto muito, indo para o morro das vacas. Ouvi dizer que o nome é das cabras, mas poderia ser da cruz, porque havia uma crua no alto do morro lá, antigamente! Mas o que tem e muito é vaca!!! Paradas em piscininhas artificiais, passagem por bambuzal e, ao fim da trilha, a vista para todo o mariscal, o morro do macaco ao longe, as ilhas. Meia volta e voltar, pois não dá pra continuar por ali. A não ser, é lógico, nos dias de K42! A corrida que atravessa sem pedir licença, todo morro no meio do caminho, costões e areia fofa!

A subida pela estrada para mariscal é algo a parte. Não se vê a praia indo ela estrada, mas isto é recompensado ao se chegar ao fim da subida, a rajada de vento que se ganha ali... Paga toda poeira comida! Parada obrigatória nos mirantes pra fotos, pra ficar à toa, olhar o horizonte, simplesmente... Se quiser seguir a pé, siga alguns!

Ali dos mirantes, você tem a noção exata do formato desta península! Você visualiza o corpo do peixe e a cauda! Pois se tiver a oportunidade de olhar o mapa de bombinhas, vera que ela possui a forma de um peixe. Onde porto belo com bombas e bombinhas compõe a cabeça e mariscal é uma lateral do corpo e zimbros a outra. A cinturinha do rabinho é canto grande. A cauda é o morro do macaco e do 180 graus e a ponta da cauda é tainha!

Já passei por ali de toda forma possível! De carro, pedalando, caminhando e correndo. Só não dei a volta de barco. Mas passei de longe. Se você for até zimbros terá várias opções de passeios de barco que fogem dos passeios mais caros que saem dos trapiches da praia do embrulho e da lagoinha que são mais direcionados para os mergulhos de cilindro. São embarcações menores de pescadores que oferecem opções para se ir dando a volta na ponta  da tainha ou se chegar ate a praia do Cardoso, ou vermelha, que são a ultimas após a praia de zimbros. Neste lado da península a paisagem é bucólica, a água parada, como lagoa, Mas não é límpida como do lado de lá! Sempre é bom mergulhar ali, mas não espere fazer mergulho de ver peixinhos ali. Na tainha, sim! Com sorte, conseguirá dividir seu passeio na companhia de amigos de escamas.

Falando em tainha, chega-se de carro, bike, a pé pelo lado da praia da conceição, onde a rua acaba e os carros passam pela areia mesmo! De ressaca, o lado de lá fica ilhado! Sobe-se um morro acentuado e, se quiser, de uma parada num museu no alto do morro simples, com uma taxa simbólica para ajudar na manutenção com exemplares do local! Existe uma pequena trilha ali por se chegar ao topo deste morro que é conhecido como do 180 isso por se ter a visão neste ângulo, pra todo lado! Mas a trilha para montanistas mais experientes é curta e sem graça. O que vale, sempre é o passeio.

Já na tainha, a impressão que você tem, ao se chegar nela, é de estar num daqueles locais que se vê em filme, isolado, tipo uma ilha e tem-s por alguns segundos a sensação de ser um náufrago, recém-chegado ao paraíso! Sempre é possível embrenhar-se nas pedras e ir um pouco além! A praia é bem pequena. Boa para mergulhar, mas não chega nem de longe aos pés em quantidade de peixes à sepultura e lagoinha! O lance ali é para no meio do caminho e tomar um lanche, uma bebida. Tudo bem simples, mas encantador! Uma outra opção para se chegar à tainha e  que vale muito a pena é fazer a trilha que sai do trapiche do canto grande, ali atrás da melhor sorveteria da cidade! Ali no final da rua da Picolitos, você vê o trapiche. De La, vera que costeando s rochas, você pode seguir por uma trilha pela mata que passa por uma  quase caverna, beira praias lindíssimas e faz um dos passeios mais gostosos! Estradinha tranquilinha que prossegue como trilha e sai, por fim na estrada por onde chegam os carros! Obrigatório também! Ah! É nesta trilha que há paredes de escalada!! Se conseguir levar e tiver a vista treinada, vera que há vias! Faz muito tempo que fomos e vimos sendo usadas. Não sei o estado de conservação e segurança delas. Vale a pena se informar!

 Na outra ponta extrema, saindo de zimbros, as casa acabam e coaseça a  trilha que dará na do Cardoso, vermelha, triste. Não há casa lá! Até tem! Mas isoladas, mais para casa de fazenda do que de praia! Bom para arejar, fugir da muvuca, ficar no slilêncio... Lanche, água, repelente necessários! Na trilha se você for atento, vai achar a cachoeira! Eu não consegui achar! Meu filho era pequeno e tivemos de voltar logo dali!

De turismo mais comum tipo praias, as pedidas de sempre: caiaque, banana, visita ao espaço da famíla shurmann, pra viajar quando carona com eles nas imagens, no filme, nas fotos, nos livros e, tendo sorte, conversando pessoalmente com eles: Heloisa e Vilfredo! Pessoas especiais, cativantes, simples, ricas e sorrisos e de olhar profundo... Do tamanho dos caminhos percorridos por eles...

Há também, a lha de porto belo que proporciona para os iniciantes uma trilha light pra quem não sabe o que é entrar pela mata.

Bem. Eu sou suspeitíssima ! Você mexeu em vespeiro! Foi pedir justo pra mim, pra falar de bombinhas! Recomendando os lugares que não perco quando vou pra lá!

Ali, pra falar a verdade, é o lugar que mesmo que eu não fizesse nada disso, ficaria bem! Só de colocar a cadeira, de frente para aquele marzão, ficcar ali sentadinha... Já me dá uma paz... O local onde faria isso sem ver as horas passarem, dizem é onde melhor me sinto, meu lar1 Então, dá pra entender, quando digo que lá, em bombinhas, é meu lar! É justo o lugar em que me imagino, velhinha, à toa, sem nada na mão, apenas ali sentindo ventinho na cara... Ou, de olhos sapecamente brilhando com idéias tilintando pra serem postas no papel e com meu note no colo escrevendo... Ou nas horas mais aceleradas, fazendo uma das coisas pelas quais me apaixonei sem nem imaginar que seria uma as coisas que respiro: correr... Ou somente caminhar... Passear por ali...

Bombinhas é um lugar que eu ficaria quietinha pra não esparramar muito pra não superlotar o lugar! Mas é tão lindo e faz tão bem que dá vontade de compartilhar!  Pra você que esta para ir, a dica é ter um mapinha na mão, não abrir mão do snorkel e máscara, uma paradinha no retiro dos padres (sempre você pode voltar lá, depois, de barraca e se sentir em casa). A bike se for fácil de levar, se torna uma parceira fiel! Carro, quando vou, é apenas o meio de transporte para eu chegar lá! Depois, eu esqueço dele! Minhas rodas são meus pés, minhas pernas ou a bike! Bom demais pedalar por lá! Se a subida de mariscal para pedal assustar, vá por bombas e chegue pelo outro lado de zimbros. E vá margeando toda a banda de lá’ por zimbros, morrinhos, canto grande. Com sorte, em frente à pracinha dos pescadores você saboreia o melhor milho verde da cidade ou uma água de coco gelada, pra dar um gás para terminar o pedal!

Está tudo ali! Quanto tempo levar para cada coisa, quanto ficar, aí é com cada um.  Mas pode se preparar: Você vai voltar! De mochila, barraca e cuia!

Boa viagem!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Você tem seu G.P.S.? Não? Como não?




Já parou pra pensar nas suas necessidades mais íntimas, seus anseios mais bobos que você nem tem coragem de contar pra ninguém? Pois bem! Eu necessito de um G.P.S.! Porque ando meio desnorteada? É... Seria uma das causas. Mas posso explicar!
As palavras possuem uma mágica peculiar que promovem uma sinapse própria, única e que faz dois lados identificarem-se, aproximarem-se e conterem, pra sempre, algo que os une.

Nada muito físico! Simplesmente é o que acontece nas relações de amizade! É a afinidade que aproxima as pessoas. E a troca que acontece entre elas, quando verdadeira, é para sempre!

Fui, na maior parte da minha vida, professora. A única profissão que eu exerci, só variando as funções dentro de escolas ou fora delas. Passei alguns anos convivendo com alunos dentro de uma biblioteca. E, a despeito das paredes feias, das prateleiras judiadas e dos entulhos costumeiros colocados dentro dela, por falta de local apropriado para “depósito de tudo um pouco” dentro de uma escola, pude assistir pequenos personagens se formarem ali dentro. Costumo dizer que escrevo mais do que falo. E, na verdade, falo muito... E escrevo mais ainda... Tenho lembranças de alguns em especial. E, estes, carrego comigo em gavetinhas, pois dividiram seus sonhos comigo e eu com eles, os meus!

Engana-se quem prega que a relação entre educadores e alunos tenha de ser, obrigatoriamente, superficial! Que não é nada recomendável que se fale de sua própria vida e não se saiba nada da deles. Justamente por isso, que alunos não compreendem o mundo “culto” dos seus professores e professores não consigam digerir e entrar no mundo de seus alunos. A coisa mais fascinante entre os seres humanos é esta diversidade. É poder descobrir sempre que sempre há o que descobrir no outro! Que sempre há algo que não conhecemos, mas que podemos conhecer, se nos abrirmos pra isso. Nossos alunos são fontes inesgotáveis do novo! É uma viagem internacional para dentro de seus próprios mundos, de suas almas, onde moram seus sonhos...

Conheci há oito anos, uma menininha de seus doze anos, creio, que estudava à tarde, mas que gostava de sapear na biblioteca à noite. No início, não compreendia muito bem o porquê de ela ir tanto lá à noite, se estudava em outro período. Chegava, revirava livros e não levava nenhum. Isto me intrigava... Um dia saciei minha curiosidade: “Jany, por que você não leva livros pra ler?” E descobri o porquê. Estava suspensa! Havia atrasado uns dias e o valor da multa era demais para seus bolsos. A soma dos dias em atraso resultava em uma suspensão que... a impediria de pegar livros até o final do ano... Dei de ombros pras normas e inventei a minha: pegaria livros comigo! À noite! E os devolveria para mim, tendo, sempre, dias a mais para ler o que quisesse e levasse! Com o compromisso de devolver, sim! Mas levaria mais livros para não ter de vir tantas vezes à biblioteca. Pois lia um tanto que era preciso levar uma média de quatro livros por vez.

Nascia ali, ou vinha à tona ali, uma apaixonada por livros! Suas idas à biblioteca, logicamente, não se resumiam a chegar, entregar e sair. Ela passeava por entre as prateleiras, com uma desenvoltura própria de quem houvesse nascido e  vivesse ali há anos, no meio de livros! “Regras para quê”, pensava eu, ”se não for para relê-las quando necessário?” Os livros se amontoavam nas prateleiras e eles precisavam ser encontrados por pequenas mãos e serem devorados por olhos que vissem neles toda a viagem que eles podiam proporcionar. De alguma forma, foi isso que aconteceu. Ali esta menina contou-me sonhos, medos, alegrias, tristezas. Todo tipo de invisível que compõem nosso interior. Planejou coisas, tornou-se moça, apaixonou-se, seguiu sua vida e sumimos da vida uma da outra, quando nossos caminhos tomaram rumos diferentes.

Então, quando era hora, nos encontramos, de novo! Digo quando era hora, pois o acaso é o outro nome dado àquilo que já vai acontecer mesmo. Quantos anos? Tempo suficiente para tomar um susto ao revê-la mulher, mãe e sem livros! “Mas você parou os estudos?” como seria inevitável, intrometida que sou, cutuquei o quanto eu pude. Como alguém apaixonada por livros, por ler, pode ficar sem? Falei sem dó! “Quando você vai retomar seu caminho? Aquele que você sonhou, um dia, contou pra mim e quis pra você?” E naquela estilingada característica em que você lança palavras, tal qual a seta do arco, furei sem dó o seu coração. Ela precisava sangrar um pouco pra acordar! Há mães que fazem isso. Médicos também! Sabe quando as crianças tinham, antigamente, aqueles abcessos?  Furúnculos? Vejamos... espinha na testa? E que você fura, espreme, sem dó? Pois então... Espremi o coração da Jany! Era preciso. Ela precisava re-acordar! Eu conheci o profundo de sua alma em nossas conversinhas despretensiosas na biblioteca. E eu sabia que ali dentro, moravam sonhos... e seus olhos necessitavam brilhar novamente! Não se tratava de fazer qualquer tipo de julgamento sobre a vida que estava levando. De sua vida familiar ou amorosa. Apenas faltou nesta conversa, ela ter algo a contar, como sempre tinha!

O resultado? Veio por escrito. Nos dias de hoje, não se comunica quem não quer! Definitivamente! Você reencontra pessoas, anota e-mail, endereço de Orkut, Facebook,  número de celular no próprio celular, ou ainda pode achar seus amigos a partir de um nome que ele te dê, ali na hora. Foi o que fizemos! Isto é de-li-ci-o-so! Eu me sinto um pouco mãe de alunos que passaram por mim! Semeadora de sonhos. Flechadora (Arqueira? Hum... o objetivo não é ferir, mas cutucar!).

Enfim, ao ler o que ela me escreveu, encheu meus olhos de um sorriso, me remeteu a lembranças, enxerguei que a via é de mão dupla! Quando ajudamos alguém a descobrir (ou re-descobrir) seus sonhos, aquecemos o forninho para os nosso também! E, olhe só! Não é que a osmose acontece? Não é que ela pegou minhas manias? De inventar palavras! De inventar significados para as já existentes... 

Eu já havia ouvido dizer de ser a “bússola” de outro. Mas, G.P.S.??? Aí, ela, sem saber, me fez viajar por palavras... Não o teria para me indicar caminhos em viagens, mesmo porque adoro mudar roteiros inesperadamente, esticar dias aqui e ali, quando viajo. Curto o seu uso, mas... O que eu quero ter comigo, sempre, não é o aparelhinho que tenho num relógio invocado de corrida. Nem no que se prega no pára-brisa do carro e que conversa com a gente falando pra ir por ali, ou por aqui, quando os dois levam ao mesmo destino. O que eu quero pra mim é um Guia Pessoal dos Sonhos! Para eu nunca me esquecer quais são os meus. Ir buscá-los. E sempre incluir outros mais. Enquanto houver seiva para alimentá-los...

sábado, 4 de dezembro de 2010

COMER, REZAR E AMAR... alimentando o corpo, o espírito e a alma!

Creio que a explicação do grande sucesso da história, desde quando era apenas um livro, até tornar-se um livro que atrai a atenção e o agrado de tantas mulheres (talvez, alguns homens que compreendam as mulheres) é a simplicidade do enredo, a essência comum que ele encerra da busca do amor. Busca inconsciente, após o trauma de se ter tido a coragem de se encerrar uma história que não trazia o coração à plenitude! O amor é o sentimento mais supremo. E quando o coração apita emitindo sinais evidentes de que há algo errado, muita gente faz de conta que não percebe e prossegue. E foge da viagem necessária para dentro de si mesmo para se conhecer e enxergar de que é que realmente necessita.
No filme, a viagem extrapola. A personagem vai, de fato, de mala e cuia e alma para sua viagem. São três países visitados. São as três esferas de sua alma. Busca alimentos. Primeiro ao corpo. Redescobre o prazer que é alimentar-se sem culpas, sem regras de magreza mórbida e aprende a arte de degustar com todos os órgãos e transpirar por todos os poros a alegria de uma mesa posta, compartilhada por pessoas com as quais se faz história. É a Itália! Num paralelo, aprende que ouvir o próprio corpo é uma forma de se deixar falar. De não se deixar para depois. Que o momento a necessidade do agora representa o que tem de mais primitivo, mais sincero, mais natural. Fome! Fome de alimentos! E o primeiro alimento degustado e descoberto é a própria comida. É o corpo que se faz ouvir. Uma vez saciado, posto, novamente em pé, é hora de buscar novos caminhos.
Hora de alimentar a alma, o espírito. Viaja à Índia. Muito embora a fé própria deste país seja uma miscelânea de crenças e focos, há um ponto em comum na cultura oriental que é a busca do equilíbrio. A solitude. Não é solidão. É estar só, consigo mesmo. A capacidade de estar apenas consigo mesmo e suportar a sua própria companhia... É o que se faz ao meditar. Muito ao contrário do que tanta gente ainda acredita, é não pensar em nada! Meditar... a ausência total de pensamentos. Quando me indagaram pela primeira vez se eu sabia o que era meditar, rapidamente respondi: refletir? Não era uma afirmação. Era uma dúvida. De fato, não é refletir. Não é pensar em coisa alguma. O vazio total de ações, de pensamentos, de sentimentos. Possível? Diria, mais difícil para mim do que correr, de novo, uma maratona. Inquieta por natureza, a personagem trava a maior batalha já travada. Dela consigo mesma! E, quando finalmente encontra o equilíbrio, percebe que tudo que faz para ocupar o seu tempo, se não for desvinculado da necessidade de cobrir seu próprio vazio, não a saciará.
Sentindo-se apta, então, retorna a um lugar já visitado noutros tempos, onde pensa que dará continuidade a um processo de aprofundamento do que buscava conhecer. Em Bali, na Indonésia, já com o seu sensor mais apurado, em seu corpo e em seu espírito, consegue sair solta, sentindo-se livre de tantas amarras carregadas por tantos anos. Mas ao deparar-se com o imprevisto - o amor é sempre um imprevisto - fica sem ação, sem referência de como proceder. Não há guia de culinária, nem guia espiritual, nem turístico, nem guia nenhum que possa lhe socorrer nessa hora. Viver um amor foge de qualquer guia prático de “como fazer”! Cada história é uma história! É preciso se desvencilhar de todo o passado para poder estar por inteiro em um novo amor. Qualquer experiência vivida não serve de diretriz para agir assim ou de outra forma. Exceto as barbaridades que fazemos em nome do feminismo ridículo que enfiaram goela abaixo em nossa gerações, nos fazendo acreditar que somos tão independentes e que os homens são tão desnecessários que muitos deles até passaram a acreditar neste absurdo também. Gerando seres perdidos, auto-confiantes em felicidade  a sós, em auto-suficiência no amor. Para quem descobriu que esta história é bem pior do que a da carochinha, da Cinderela, da princesa e do príncipe no cavalo branco, houve tempo para sair do pedestal e voltar à Terra. E tentar voltar a acreditar em amor. Nesse túnel louco do tempo por onde percorremos, ao darmos de cara com o amor, jogamos com as cartas erradas. Ignoramos a intuição, que é o nosso melhor atributo feminino e tentamos jogar com cartas caracteristicamente masculinas! A razão! Racionalizamos ao invés de deixarmos fluir o sentimento. Como uma caixinha registradora, daquelas antigas, onde você bate os números e puxa a manivela para ir fazendo a soma, você lista uma série de motivos para não se envolver, antevendo todos os motivos para você evitar um sofrimento futuro. Velho demais. Novo demais. Fuma. Bebe demais. É sedentário. É fanático por jogos de futebol todo santo sábado. Tem amigos demais. Mora longe. Viciado em esportes. Adora televisão de domingo... A mãe dele é uma chata! Tem filhos muito mimados. Ainda quer ter filhos!!! Gasta além do que ganha. É muito pão-duro. É loiro e você sempre gostou de morenos... Pateticamente, a lista pode crescer tanto quanto a sua vã imaginação permitir. Sabe o nome disso? Um só: MEDO. Aquele vilão de capa preta com uma foice e rosto obscuro que te persegue querendo te levar... Pensava que esta era a Dona Morte? Oras... É a mesma coisa! O medo aprisiona. O medo amarra as pernas. O medo congela amores. O medo afugenta o sol. O medo nos acovarda. O medo nos mata estando, nós, ainda vivos. Não é a morte o final da vida. Ela é apenas a chegada inevitável de qualquer um. O que acaba com a vida é aquilo que nos paralisa. Aquilo que nos impede de viver aquilo que temos nas mãos ou adiante de nosso nariz, ou aquilo que vive e resiste em nossos corações. Medo...
Logicamente, o filme tem o típico fim que toda mulher adora. Parece haver uma tendência em gostarmos de ver que por um triz, a heroína quase perde o seu amor, que por um momento de bobeira e pura insanidade cardíaca, ela quase o deixa partir (ou parte) para longe. E num lampejo de retomada de consciência, agora recheada de emoção, ela entrega-se ao amor. Ahhhhhhh, o amor...
Comer, rezar e amar foi um bálsamo! A medida necessária para me fazer sair do cinema, leve. De me desvestir das vestes de durona, ou da estrategicamente planejada para não se apaixonar, por hora. Como se a vida fosse capítulos que você escolhe viver de acordo com a sua disposição. Do tipo; agora não é hora de viver um amor. Quero correr todas as corridas que quiser, sem ter nenhum chato implicando comigo, com meus excessos, meus exageros. Como seu fosse dividida por gavetas... É interessante ver, na saída do cinema, o semblante leve da grande maioria das mulheres que observo. Unanimidade: todas querem, desejam viver uma história de amor. Todas acreditam estar vivendo, ou que viverão. No fundo, no fundo, acreditam...
O fascinante mundo das palavras é isto: a identificação propiciada por aquele que dá e aquele que recebe a mensagem. Seja por aquele que escreve, redige, captura imagens ou expõe em palavras ou cenas, ou fotos aquilo que vai em seu íntimo. A música tem o poder de nos fazer viajar. Os filmes também. As imagens nos remetem a lembranças ou a nos incursionarmos na viagem que nossos corações permitirem. As palavras me fascinam. Ao ler, viajo com os outros. Ao escrever, viajo para dentro de mim mesma.
Então, já que a Itália, a Índia e Bali são muito longe para mim, meu bilhete de passagem é este, teclar até me encontrar.

COLCHA DE RETALHOS: o remendo, o vento, o tempo.



Reassisti um filme que me marcou muito na época e sempre quis assisti-lo de novo! Eu e meus filmes inspiradores... Diria que é um clássico dos tempos modernos. Do tipo que você assiste e não esgota nunca as “N”possibilidades de tirar dele uma nova leitura. COLCHA DE RETALHOS.

O filme conta a história de uma moça que, retornando ao seu berço original, a casa aconchegante a da avó que a criou, enquanto sua mãe louquinha saía pelo mundão por aí, convive com as mulheres da sua infância. O tempo todo traçando paralelos das mulheres que enxergava, enquanto menina, com as que via agora.


Embora tenha a aparência de uma pessoa com valores próprios, revela o quanto tem impregnado nela a soma dos modelos que teve durante sua vida. E amor não era algo para se ter para sempre. Não conseguia fincar raízes!

O roteiro se desenvolve tendo como pano de fundo, a costura coletiva de uma colcha de retalhos que lhe será presenteada pelo seu casamento. Isto lhe assusta e a intriga. Pois significa uma junção de histórias de amor já acontecidas e vividas por cada uma das que a costuram, as mulheres de sua infância. E, muito mais profundas do que simplesmente o desfecho, do sim ou do não, revelam a sinceridade, a voracidade, a intensidade de cada amor vivido. E imperam, afirmam: existiram! Não importa o que se deu com ele depois…

Existe uma cena linda, creio eu, uma das mais marcantes de todo o filme que é quando uma brisa vem nascendo e acordando cada uma das mulheres. Digo, acordando de sua adormecida existência. A brisa vira vento que vira um revoar de páginas e mais páginas de uma história que ela escrevia em sua tese de mestrado. Existe toda uma simbologia nestas cenas. E o mais interessante e gostoso é ver que a cada vez que assistimos a estas cenas, esta revoada representa para nós diferentes coisas.

Toda vez que sinto o ventinho em meu corpo quando estou caminhando em algum lugar e vejo folhas sendo arrastadas pelo chão e esta existência invisível e tão real me empurrando o corpo, me bagunçando o cabelo, tenho certeza de coisas invisíveis serem tão fortes ou mais fortes do que aquilo que se vê! Você não pode enxergar o vento, mas vê tudo que ele causa, tudo o que ele é capaz de mexer. A força daquilo que não se vê... As folhas são levadas para os ares! E várias indagações pipocam dali. Juntar tudo de novo, ou quase tudo, o que for possível e recomeçar? Fazer os remendos necessários? Usar a memória a seu favor para costurar os vácuos? Reestabelecer a ordem... ou criar uma nova? Jogar tudo fora e começar nova história? Ir pelo caminho mais difícil ou procurar o mais fácil?

Nessa revoada de folhas/cenas escritas, várias destas mulheres recolhem as folhas que chegam até elas. Pois sabem o que elas são: a tese de mestrado da neta de sua amiga. O que não sabem é que aquelas páginas carregam em si, muito além do que palavras soltas ao vento! São elas mesmas que estão retratadas ali! Suas vidas, seus amores! A tese fala sobre a confecção da colcha de retalho. E, inevitavelmente, acaba falando da história de cada uma. O que acontece, então, é uma revolução! O ter as palavras registrando o acontecido resgata com tal intensidade os sentimentos adormecidos fazendo pular de dentro delas mesmas as pessoas que elas esqueceram que eram! E cada uma possui uma imagem que representa a sua essência. E, colhendo no pequeno laguinho do jardim de sua casa, construído pelo seu grande amor, uma delas redescobre que nunca deixou de ter em si a grande paixão de saltar em trampolim na água. De amar a água. Numa viagem pelo túnel do tempo, os passos são dados para retomar e ver o quanto é possível voltar a se ter aquilo que é tão importante a ela.

O vento é um impulso invisível necessário para se deslocar as certezas do lugar. Nalgumas vezes, são apenas folhas secas caídas no chão. Noutras, são raízes inteiras de árvores centenárias. Depende a intensidade do vento. Depende o quanto as raízes estão aprofundadas e seguras. Depende o quanto ainda há de seiva de vida correndo nela. O vento desloca certezas tanto quanto provoca o caos. Levanta saias de mulheres distraídas. Bagunça o cabelo, incomodando ou brincando. Depende de como se recebe a brincadeira do vento. Permitindo-se sentir o prazer de se deixar levar por ele, na dança frenética que os cabelos fazem, ou aborrecendo-se por não ter mais o penteado intocado. É preciso ser intocável?

O vento é, descaradamente, invasivo! Sim! Não pede licença. Não respeita limites. Não se atém a regras de aqui, sim, ali, não! É democrático. Atinge todos os lugares, à hora que desejar. O quanto quiser alcançar. Não há quebra ondas que os segure. Não há imitadores que o substitua. O ar condicionado refresca, mas não nos faz viajar nas suas asas. O vento é o retrato mais próximo do amor. Tanto é invisível quanto é existente! Dosa intensidades na vida da gente. De leve brisa à furacão. Nos faz experimentar a mais infinita e antagônica variedade de sentimentos. Doçura. Volúpia. Serenidade. Medo. O deixar levar. O querer fugir. A ir ao som do vento. O correr contra, insistindo, duramente, ao não tê-lo a seu favor. Ele limpa, purifica, leva sujeira embora. Ele traz poeira alheia. Ele leva sementes, frutifica, multiplica. Ele derruba árvores pela raiz.  Faz germinar. Faz morrer. Abala estruturas, certezas. Solidifica e fortalece o que se mantém.


O vento casado à colcha de retalhos nos oferece uma grata oportunidade de passar um tempo vendo a vida passar na tela quando, seguramente, cada espectador pode ver-se numa das pequenas peças da colcha, tendo como moldura sua própria história de amor e enxergando-se circundado pelas tantas, tantas forem as pessoas com quem se permitiu conviver. E o vento, ah... o vento vai passar a tocar de uma forma diferente. Difícil não ver as folhas passando a sua frente, carregadas pelo vento sem ter o lapso, o flash de pensar... Para onde???