Vamos conversar?

Vamos conversar?

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A miopia

Raramente, saio de casa sem colocar as lentes de contato. Aliás, se não for a primeira coisa que faço quando acordo e me levanto da cama, é porque, simplesmente, dormi com as lentes nos olhos, a despeito de todas e todas as recomendações médicas que já recebi. Desleixo meu. Mas bem mostra uma necessidade interna que hoje percebo: querer enxergar longe, ver além!

Hoje, acordei querendo ir correr, nadar, caminhar. Qualquer coisa que me tirasse da inércia e que me desse de volta um certo vigor, uma energia que parece que perdi nestes últimos dias. Mas optei por vir aqui dedilhar. Talvez porque tenha passado os últimos dias com coisinhas fervilhando na cabeça querendo escrever e não o fazendo. Ao invés de obedecer ao coração que necessitava por no papel (ou tela) tantos sentimentos aflorados, posterguei, e deixei passar o bonde. Uma vez mais. Nada assim tão sério que não dê pra pegar de novo, assim como as borboletas azuis que rodopiam em torno da gente e nos convidam a ir com elas. E tantas vezes, olhamos, olhamos, olhamos e só vemos todo o impedimento que seria irmos com elas. Ao invés de alçarmos vôo tão imprevisto e tão inesquecível...

Ao acordar, hoje, fui espiar na sacada o tempo. Irônico! Como se indo lá fora dar uma espiada ver o céu, pudesse, de fato, ver o tempo. Este que tento ver e erro tanto por não saber interpretar e ver além. E que, de certa forma, é certo! Pois se, realmente, olhasse firmemente para o céu e Quem habita nele, pudesse, sim, ver o tempo ou acreditar e esperar por ele... E parei! Uns minutos poucos, bem poucos. Um céu sem sol, ainda, poucas nuvens e tantas coisas embaçada a minha frente.

Foi o retrato exato do que estou passando. A miopia. Posso ir lá fora espiar. Mas a minha miopia, esta que prontamente corrijo ao mal levantar e colocar as lentes em meus olhos para poder enxergar, me atrapalha. É horrível não enxergar além! Imagino que não enxergar nada (ou tudo) é ainda pior. Mas, hoje, não vou discutir o problema da falta de visão total. Mas a falta de se ver adiante. É estranho e me remete ao que vivo, uma vez mais brincando comigo com o que passo, vivo e sinto. Metaforicamente. Não consigo olhar e enxergar além. Debrucei na sacada e fiquei ali observando até onde e o quê meus olhos conseguiam definir a sua frente. Posso enxergar o contorno, o destaque das coisas delineadas no horizonte. Vagamente as cores. Mas sem definir onde, exatamente, começa uma e termina outra. Meço a minha capacidade ali, de dentro da minha casa. Do meu ponto de partida. E mesmo os prédios mais próximos não me mostram contornos definidos em seus detalhes. São linhas no horizonte que só serão descobertas ao se trilhar o caminho que me leva até elas. Sem ir até lá, jamais poderei descobrir como são. O que definem. Quais os pontos em que as cores se separam e são alegres, tristes, frias, e quentes. Somente indo até lá. Sem desistir.

É uma sintonia que bate em e meu coração, então. É sempre assim. Vem uma linha em meu pensamento e começo a brincar de escrever sem ter papel e caneta, ou o note na mão! Mas hoje não! Ao me vir a palavra MIOPIA em minha mente, foi como se fichinhas caíssem me fazendo ver o que não consigo ver. Um estado de miopia. Que me amarra as pernas. Me amedronta, me acovarda e me faz desistir de coisas que quero comigo. Não é fácil pular da cama para ir correr. Tem sido um esforço imenso, quase que um rigor de disciplina militar, mesmo amando correr, pular da cama que me chama, me gruda e ir. Mas, uma vez, levantado, e ido, o prazer que a corrida me proporciona só me afirma que vale a pena levantar e ir. Ainda mais nesta situação em que fiquei tanto tempo sem ela. Veja bem: meses sem ter o prazer dela, deste amor, destra paixão e, ainda assim, é difícil ir atrás dela! Outras coisas mais me amedrontam. E decidir de ir atrás delas, acreditar e esperar o momento certo de tê-las comigo não é algo assim tão fácil. A miopia impede muita coisa. Os passos se tornam comedidos. Pausados e oscilantes. Pois temem buracos e desvios à frente. Não sabem por onde estão indo. Mesmo sabendo que o coração manda seguir.

Precisava escrever! O coração que tantas vezes é ousado, entusiasmado e atrevido é também covarde e, mesmo querendo somente o bem, é egoísta. E erra! Erra feio. Às vezes, de maneira imperdoável, que ofende, destrói os horizontes vislumbrados e desejados. Concordo se me disserem que escrever metaforicamente seja uma forma escondida de eu escrever falando de coisas reais na vida de outros ou na minha própria. Quem saberá? Mas o medo é o grande monstro que assassina amores, mata sonhos, amarra pernas que querem seguir, sufocam, abafam o ar novo que tentou nascer...

Não sou de todo 220. Tenho momentos de apatia. De indecisões. Não sou de todo corajosa. Sou também medrosa, ainda que se trate de coisas que amo muito, muito! Eu sei e vejo, de maneira nebulosa, os contornos do que há adiante no horizonte. Mas sem minhas lentes, não consigo ver o que são. É difícil seguir além! Posso trombar naquilo que não vejo. Mas também sei que tenho a opção de ir e, a cada passo que der, ver de perto o que era a sombra que se mostrava de longe algo não definido.

Gostaria de ser menos medrosa. Principalmente quando sei que meu medo é cruel, mata sonhos e amores. Talvez, eu precise me adaptar a, de vez em quando, sair sem minhas lentes e recuperar a segurança de só enxergar um cadinho além. E ver que viver cada passo de uma vez seja interessante, possível e bom.

Muitos trens eu perdi, alguns cavalos brancos (as oportunidades que passam só uma vez e não retornam) deixei passar. Mas tudo aquilo que vivi, senti e se instalaram em meu pensamento e em meu coração ficam comigo pra sempre. Não importa se os caminhos se descruzaram. Se perdi o bonde, a corrida, a largada, o cavalo. Ao coração valente fica a memória. A saudade. As lembranças de cada momento. A certeza de ter vivido o sonho, o acontecido. Ao coração medroso sempre restará a dúvida de uma felicidade que pairou a porta e não se concretizou... Fica no vento, sem dono, na brisa esperando quem a tomará.
Mudaria o rumo das cosas, se pudesse? Muitas, sim. É preciso seguir a vida! Ainda que doa, doa muito. É o que dizem! Não sei se compreendo esta frase, pois é cruel e dura. E, por vezes, absolutamente, isenta de sentimento algum, o ponto exato onde se deixa tudo para trás para seguir. Onde se aplica a anestesia suficiente para neutralizar e poder seguir. Pois a vida segue...

domingo, 20 de novembro de 2011

O tempo que se perde é o tempo que se ganha!

Parada num ponto de ônibus com a difícil missão de chegar, em menos de meia hora à largada/chegada da maratona de Curitiba. Quem manda não acordar mais cedo? A parada na parada me fez viajar por reflexões...

Sair mais cedo, planejar a hora, sacrificar um pouco o sono pra pular da cama antes, são várias coisas que se tem de optar e fazer pra poder sair e ir de “busão” e chegar a tempo de cumprir o proposto. Bem, não fiz, exatamente, tudo isso! Então, paguei o preço. Mas ao invés de me lamentar, ver o que de bom ganhei. Se ganhei algo? Sempre se ganha! Basta ter olhos que vejam além... Vejamos:

Já fazia uns 30 minutos que eu estava lá parada no ponto. Andar de ônibus não é, definitivamente, das coisas que eu mais goste. Prefiro andar a pé a ir num ônibus. Ia até encarar a pernada. Mas depois de ser aconselhada que seria longe, resignada e animada fui à rua indicada.
Teria duas opções. Contando que seria necessário ir rápido, optei por uma. Chegou mais um rapaz no ponto, papeei com ele, perguntando o que seria melhor fazer e ele seguiu, eu fiquei. Chegou a senhora com cara de animada! Pudera! Olha o histórico! Diabética, recuperando-se de uma fratura no pé, saia do Paraná Clube, mais precisamente da piscina, em pleno domingo de manhã. Por que? Porque ela estava nadando! Porque no clube, ela podia fazer hidroginástica de graça para sócios, em determinados horários e para nadar, ela ia por conta própria, para nadar, por pelo menos duas horas... Não porque alguém lhe impunha. Mas porque, assim, ela se sente melhor. Pode? Pode! Dona Tereza! Devo ter conversado com ela por uns 20 minutos, apenas. Mas o gás que se recebe de uma pessoa desta, cheia e transbordante de energia é algo imensurável...

São várias “Terezas” por aí afora que, a despeito de ser difícil caro, trabalhoso, sem graça, saem a luta pela sua saúde. Não precisam ser, necessariamente, frutos de intimidações médicas que não deixam outra alternativa, entre morrer logo, ou exercitar-se. Começa pelo semblante. Domingo de manhã, quais seriam as opções? Faxina, cozinha, panelas suando preparando a comida de alguém, barriga molhando na pia e secando no fogão, missa, culto, gente, gente, casa cheia e... quem sabe a TV ligada fazendo barulho e companhia. Quem sabe seja esta mesmo a alegria, ou será a fuga, o caminho para cobrir o vazio do tempo? Nada contra as coisas todas que citei que cobrem o dia de alguém. Mas... e lá dentro, fora do tempo útil a todos, quem é que cobre o tempo? Para quem se cobre o tempo?

É mesmo verdade que eu devia ter me empenhado de outra forma para sair mais cedo e ter tempo de sobra para estar na chegada bem antes. Cheguei no ponto depois. O ônibus havia acabado de passar. E aquele sorriso feliz no rosto de Dona Tereza, criou uma simpatia imediata que assim que ela chegou ao ponto, já comecei a puxar assunto. Quando seu ônibus veio chegando, falamos mais umas palavras e lhe falei que tinha sido um prazer imenso em ter lhe conhecido. Sim, como foi! Entregar-se ao que não há como fugirmos, aquela curvinha descendente que indica a soma de anos percorridos, a curva descendente em saúde, agilidade, vitalidade é comum. Buscar viver o que falta, buscando o máximo de alegria, condicionando o corpo para responder melhor e viver melhor é o ideal.

Foram poucos minutos passados com dona Tereza. Um farelo em meio a horas que se leva pra correr uma maratona. Mas estar aberto a ouvir pessoas que nunca se viu e que nunca mais iremos ver faz parte de algo que nos aproxima do que são e do que somos. Abre-nos os olhos para vermos exemplos de vida em pessoas comuns. Que nem correm 42km. Nadam duas horas. Dentro de um mundo limitador que delimitaria muito mais, se os olhos dela não fossem, também, pequenos, alcançassem pouco, não viajassem por todas possibilidades que a vida oferece para quem quer ver e ir.

Perdi a chegada de todos os meus amigos na maratona. Mas ganhei o dia em ver tanta vitalidade num outro modelo de vida. Simples. Eficiente. Onde, como tudo na vida só depende de se dar o primeiro passo. Se perder ou se ganhar, só depende de como se olha para o relógio.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Meu relógio tem onze números...

Tempo bom este de chuva! Pra desviar das contas que, ainda, estão me esperando acabar com elas e ficar aqui... Fazendo das coisas que mais gosto: escrevendo...

Não é comum que eu fique à toa. Dá comichão nas mãos... E.. na língua. Sendo sincera, é o fazedor de letrinhas que não pára nunca! Seja por meio da boca, das mãos, das teclas...

Hoje é um dia perfeito pra dedilhar. E por, através de palavras, tudo o que vai fervilhando e nunca pode ser ouvido no meio do burburinho do serviço, dos telefones que não param de tocar, de pessoas amontoadas conversando ou gargalhando, eletrônicos ligados e corpos inquietos que não sossegam, nem se escutam a si próprios.

Quantas foram as vezes em que comecei a escrever em pensamento. Mas pensamento que não é registrado vai com o vento. Ao ler relatos em livros me via rindo sozinha, querendo, em seguida, já contar outro causo parecido, mas imersa de volta à realidade a história evaporava-se.

Tenho algumas figuras clássicas para descrever meus estágios de pensamento. Uma delas que uso muito é o corredor. Aquele em que vivo batendo a cabeça! Ora do lado de cá, ora do lado de lá! Num incessante tentar ir ao meio, no ponto de equilíbrio. Comumente, exagero. Coração demais. Razão demais! Inflexível demais. Relaxada demais... Assim, como se eu transitasse através de um corredor, ponho-me num andar desequilibrado onde a única forma de andar sem me debater nas paredes é buscar o meio. O equilíbrio. O ponto onde não sou nem tanto à terra, nem tanto ao mar. Nem tanto bela, nem tanto fera. Bem tanto tola, nem tanto cruel. No ponto onde eu possa chorar quando o choro brotar, mas que eu possa ser dura o suficiente para sair de cena. Ser nada e ninguém e ser também alguém pra alguém.

E difícil acertar a dose. Expressar sentimentos ao outro é uma cilada. Parece-me que a certeza tem a costumeira habilidade de acomodar corações amornando o dia. O fogo da paixão acende, instiga. Mas apaga-se facilmente. A serena face da sinfonia que toca sempre a mesma melodia, no mesmo timbre, na mesma intensidade mantém a temperatura de um banho-maria. Nem lá, nem cá. Não queima. Mas também não doura. Devagar, cozinha.

É certo que há momentos onde nos é solicitado uma de nossas tantas faces. E dançamos conforme a música... Mas cá dentro na alma, somos mais uma do que outra. Por mais que eu tente ser adaptável a alguma situação, lateja o que sou, num retumbar incessante, frenético, como a me lembrar que não adianta querer parecer aquilo que não sou. O mais incrível é que sou exatamente transparente. Pecando por transparecer demais meus sentimentos, pondo sempre sinceramente meus pensamentos pra fora. Se me entusiasmo por algo, meus olhos brilham tanto por isso, que lampejo raios que atraem e convencem outros. Transbordo sonhos. Visto-me daquilo em que acredito. Os poros todos emanam meus sentimentos e pensamentos. Difícil disfarçar-me de alguém que não seja eu mesma... E, mesmo sabendo disto, tenho a boba mania de querer abafar, aquietar, pacientemente esperar aquilo que, para o meu tempo, demora demais! O meu relógio só tem onze números! O meu tempo sempre acaba primeiro. Meus minutos correm como se fossem segundos e minhas horas como minutos! Não sei esperar! Ou boto fogo demais e queimo, ou tiro antes da hora da panela e como cru. Será que um dia aprendo?

Ahhhh... O tempo... Talvez, por isso, eu fuja tanto dele e ele de mim. Brincamos de esconde-esconde e não nos encontramos nunca. Ora tarde, ora cedo. E eu custe tanto, então, estar no tempo certo das coisas, das pessoas e as histórias pareçam ser saídas de páginas, ao invés de parecerem cenas no tempo real...

Mas a despeito de tudo, creio. Que o meu relógio que bate como louco, apressadamente, vai encontrar seu compasso num passo certeiro. E desacelerar o passo, posso, posso... E eu tome coragem de me desapegar de páginas feitas de papel e deixe de contar histórias pra fazer história. Uma a uma. Uma por vez.

Tudo é metafórico!

Afff! Hoje é dia!
Estava escrevendo pra dar uma arejada na cabeça e... perdi tudo! Bem pra quem havia perdido o garmin, desesperou-se e, agora, achou tudo bem! Tudo pode ser perdido e pode ser recuperado... Ou não?

Nem vou mais escrever tanto assim! Muita coisa pra terminar HOJE! Contas que não acabam mais, mas que vou por fim hoje.
Balanço do dia de hoje? Difícil ter alguma conclusão. Estava numa vidinha tranqüila, quadradinha, previsível. Confortável e sossegada. Feliz. Mas reviravoltas, incertezas, pendências e, finalmente, uma grande conclusão. Finalmente, há luz e tudo leva a crer que haverá e acontecerá o fim e encerra-se esta fase. Enfim! Mas nisto tudo, o estável se desestabilizou. Tipo... um terremoto e o que era não é mais. E o que parecia querer ser teima em não dar sinal de vida, me gerando uma insegurança danada e a sensação de ser tola em acreditar em borboletas azuis!

Explico: quem não quer acreditar em borboletas azuis que borboleteiam ao nosso redor? Como um presságio de que tudo vai bem, até o ano que vem? Ou mais, indefinidamente? Arriscar-se é um verbo que conheço bem! Característica minha. Diria, minha essência! Atrevimento, lugar incomum, mirar o impalpável. Quantas coisas eu poderia definir, sinônimas disso! O que eu não quero, definitivamente, é ter de me reacomodar dentro daquele buraco aberto no terremoto! Quando a terra treme, o baú que guarda os nossos segredos, abafados, sufocados vem à tona Abre! Irradia. Traz pra fora ares já conhecidos. O perfume esquecido e as lembranças ficam no ar. O tempo, muitas vezes, é um vilão que camufla aquilo que nos é peculiar. Não sei se ele (ou se nós) abafa o que somos. Se não for o tempo o vilão, somos nós mesmos. E, creio, contradizendo o que dizia, a segunda opção me parece muito mais real e convincente... E ele, o tempo, só traz à tona, aquilo que não pode ser sufocado nunca. A essência. A alma. Nossas verdades.

Por mais que eu queira me encaixar em modelos politicamente corretos, se este modelo não incluir a mim mesma, não dá certo! Tentei. Juro que tentei! E tento muito, ainda! Acho que me perdi pelo caminho. Tentei concentrar minha identidade em várias coisas, em vários “fazeres” e me esqueci de ver de onde brotava tudo isso. Não é que seja de todo perdido. Nada tão radical a ponto de se jogar tudo fora. Não! Mas tenho de ter a sinceridade de admitir passos errados que dei. Caminhos errados pelos quais passei. Alimentos errados que ingeri. E ares que sufocaram e não me fizeram bem. E, de tudo, enxergar o melhor. E tentar, sinceramente, descobrir para onde quero ir!
Costumo ouvir palavras que me dizem, me definindo. Intensa. Impulsiva. Duzentos e vinte. Na tomada. Fogo. Quente. E vejo que todas descrevem alguém que parece estar o todo tempo em erupção por algo. Como se necessitasse, ou fosse de minha natureza, estar sempre fervilhando, borbulhando...

Já passei por fases onde, nitidamente, abafei-me. Ingenuamente, poderia indicar outros que estivessem me abafando. Mas a verdade nua e crua é uma: somos nós mesmos que nos permitimos nos abafar! Ninguém, além de nós mesmos tem responsabilidade maior pelo caminho que nós mesmos tomamos! E há uma voz que nos sussurra. Mas que teimamos em não ouvir... E uma hora chega, em que é impossível prosseguir por um caminho que nosso coração não quer ir!
Meu tempo, hoje, parece ser o de estar num extenso vale onde se alcança com a vista bem longe, mas não miro lugar algum. Algumas vezes, me vejo numa encruzilhada, tendo que decidir se por ali, ou por aqui. Sem enxergar ao certo, os caminhos adiante em qualquer uma das opções. Pareço estar num vale, tendo acabado de passar por montanhas. Aquela sensação boa de quando você caminha, caminha e caminha, não enxergando muito além, quando está passando por estreitos caminhos, de pirambeiras e precipícios e, de repente, se depara com o fim dele. Abre-se o horizonte diante de mim e vejo longe. Muito longe. Há mar bem além. Céu descobrindo-se. E o ar vem como em golfadas me receber. Em tufos! E estabiliza-se numa brisa que balança meus cabelos e parece querer levar o que ainda trouxe junto comigo embora, me fazendo deixar pra trás, tudo aquilo que não precisarei mais! Para descer, por fim, por este caminho até o vale, sem peso extra nenhum. Posso, agora, deixar toda provisão a mais que carregava, no receio de ficar pelo caminho, de surgir um imprevisto, de ter alguma emergência. O caminho que se abre a minha frente não sugere nenhum tipo de imprevisto. O ar é farto. Nada mais me sufocará! E a luz está presente.
Posso até me dar o luxo de sentar-me um pouco para contemplar. Mas não sinto necessidade! Respiro fundo! Uma vez mais. E sigo!

O caminho vai se abrindo diante de mim, como se já fosse tão certo que eu chegaria a ele. Meus pés parecem não ter dificuldade nenhuma em seguir. Tenho, então, a plena certeza que tem início um tempo de calmaria. A caminhada se faz no caminhar. Não é necessário levar equipamentos externos que usei nos lugares pelos quais passei. A lembrança basta! A experiência do acontecido. Adiante, toda ferramenta deve ser nova. A cada lugar há um calçado apropriado. A cada novo momento, novos olhos para receberem o que vier e sermos o que somos, no exato instante de ser.

Voltando ao início... Se tudo pode ser perdido e pode ser recuperado? O que realmente importa, vejo, nos empenhamos para ser recuperado. Veja só: enquanto não achei meu Garmin, não sosseguei. Poderia ter me conformado e ele ficaria, indeterminadamente, esquecido numa necessaire rosa, no fundo do meu guarda-roupa. Mas, como era importante achá-lo, me empenhei, não sosseguei e achei! Não fosse isso, haveria sempre a possibilidade de usar outro relógio, ou melhor, ou pior. Dependeria dele e de mim. É sempre um caminho de mão dupla. Se me serve e se gosto! E deixar pra trás aquilo que não existe mais!

Tudo é metafórico!

domingo, 13 de novembro de 2011

Enfim , o retorno!

Dói, dói, dói, dói.
Dói, não dói, dói, não dói, dói, não dói.
Não dói, não dói, não dói, não dói...

Descobri que é assim a vida de corredor!
Feita de auto-sugestões poderosas, convincentes para que o cérebro envie mensagens ao corpo, principalmente às partes que DOEM após o exaustivo trabalho físico, convencerem-se, no exaustivo trabalho mental de que NADA DÓI!
Acabei de ler o livro de Haruki Murakami “Do que eu falo, quando eu falo de corrida”. Título em menção ao outro, lido pelo autor, em que a palavra corrida substitui outra: AMOR! Nele, li frases interessantes. Passagens hilárias e cenas que, certamente, todo corredor já passou! Uma delas, marcantes pela essência que contém é algo parecido com “Nenhum ganho é adquirido sem a dor!”. Tão forte, quanto verdadeiro... E, hoje, chegando em casa, após uma hibernação total de corridas por oito meses, decidi mandar mensagens da ALMA ao cérebro e este, por sua vez, ao corpo. Ou talvez, seja em outra ordem... O corpo, em completa e alucinada abstinência de sua droga pedindo desesperadamente à alma que se solidarize com ele e convença à mente de que é chegada a hora! De contrariar, de novo, o que a ciência dita e ir contra a maré. Afinal de contas! Se era para parar para parar de sentir dor e a dor continua, solicita-se, então, uma segunda chance ao “Invisível”. Sentir dor correndo... Ou ainda, na misericordiosa e conhecida atitude do “Senhor Invisível”, correr, novamente, sem sentir dor! Pois olhe só o que se sucede, então! Após este jejum sofrido, combinado com uma amiga do grupo em que corria, planejei ir, simplesmente ir, sem consultar se podia, se devia se agüentaria. Fui! E... para lavar a alma, com as próprias lágrimas que minaram quando o trecho estava já sendo cumprido, ao final, ao mesmo tempo em que desacelerei, no começo de uma dorzinha tão conhecida, olhei pra trás, busquei o olhar amigo de quem tem me acompanhado, agüentado neste longo caminhar, esperei e dei-me o direito de dar-lhe a mão e mais a outra amiga/companheira de corrida para chegar com anjos junto de mim, uma de cada lado, como se a chegada ao Botânico fosse um lindo portal de chegada, da corrida mais esperada por mim: o meu retorno! É lógico que chorei! Parei com os pulmões pulando pra fora, mais do choro, do que da falta de resistência que se perde, com certeza, por longos oito meses sem correr. Abracei a minha amiga, andei pra ver se o coração parava de insistir de pular pra fora, dizendo que estava vivo, de novo, andei mais um pouco e, de repente, parei naquela posição tão conhecida pela gente. Abaixei-me, com as mãos apoiadas nos joelhos, apoiando-me a mim mesma e chorei compulsivamente... Eu tinha vencido meus medos. Eu só conseguia agradecer a Deus por ter sido, mais uma vez, tão bom comigo... Justo comigo que nada mereço! Como pode um Deus ser assim tão bom??? Chorei e chorei e chorei. Eu tinha corrido 10km! 10 km com sabor de 42! Fechar o percurso ali que saía do Botânico, ia próximo da pedreira no Cafezal e voltava me deu a alegria tal qual quando concluí minha primeira maratona. Ou ainda, mais longe, quando dei minha primeira volta inteira no “meu” lago. Eu estava radiante. Mas, principalmente, enxerguei o quanto Deus é fiel, cuida, presenteia quem nem sequer merece, se fosse ver o descaso com que tem sido lembrado em minha vida... Mas Ele é assim, gracioso, misericordioso e dá aquilo que Lhe convém, no Seu tempo, ainda que não saibamos o porquê. Usa, sabiamente, o tempo para nos educar. Dá e tira. Porque quando temos algo, indefinidamente, deixamos de enxergar o quanto exageramos ou nos cegamos para tantas coisas, que também são parte de nossas vidas, importantes e que carecem de nosso tempo.
A corrida mexe demais com a gente! Todo corredor vive, sente e sabe disso! Não invariavelmente, a corrida nos chicoteia, nos educa, nos remete a uma dimensão de aprendizado onde correr é apenas o cenário que operacionaliza aquilo que acontece conosco na vida. Superar limites, vencer desafios, acreditar em impossíveis. Crer quando nada parece indicar que o caminho nos leva ao sonho. Correr nos faz, se nos permitirmos, mais crentes! Aquele que crê. Em Deus, em sonhos, em esperar o tempo certo de acontecer. E vivenciar o sonhado!
Eu sei que há todo tipo de corredor. Mas falo daquele corredor com ALMA de corredor! Pois há vários tipos espalhados por aí que apenas vestem a veste e saem para suar e marcar presença. Tudo externamente. Mas quem vive coma alma de corredor latejando cá dentro possui uma força tão grande dentro de si que pode realizar coisas que sua imaginação duvidaria! É uma ousadia atrevida que nos faz quase arrogantes. Ou prepotentes. Ou ingênuos na visão daqueles que se dizem “realistas”... Acreditamos em coisas que, muitas vezes, a nossa aparência enuncia-nos como “loucos”. Mas, quem não sabe em nosso meio que “louco é quem me diz que não é feliz... Não é feliz...”.
A paixão, o entusiasmo torna possível aquilo que todos os outros não acreditam. Eu vivenciei, nitidamente, isto ao sonhar e acreditar na Maratona de Londrina quando eu a pus no papel e, ali, pouca gente era capaz de acreditar vê-la acontecendo. Mas a paixão que faz brilhar os olhos, aquela coisa intensa que faz pular de dentro da gente aquele entusiasmo é capaz de convencer o outro que também sonha e deseja realizar o sonho. O entusiasmo casa-se, então, com a determinação. Que move e empurra-nos, tirando-nos do sofá, da cama, e nos põe lá fora pra ir atrás do que buscamos. A perseverança nos faz prosseguir. Mas a paixão acende a chama toda vez que nos vemos numa escuridão que intenciona nos fazer desistir. Tudo isso no plano humano. Mas, definitivamente, tudo debaixo da vontade de Deus.
Já tive uma fase exagerada onde necessitava falar de Deus a todo momento. Exagerei. Aliás, tendo a exagerar em quase tudo na minha vida. Foi por isso que tive de parar de correr. Excesso de treino, de rodagem, de subideira, de perrengue, de paixão por correr sem querer descansar. Como todo excesso é prejudicial, obviamente, minhas idéias confundiram-se muito e perdi o rumo em várias coisas importantes da minha vida. Quando isto acontece, recuo. E, embora continuasse crendo em Deus, parei de mencioná-Lo, de me lembrar dEle, de Lhe pedir o que fosse importante para mim. Hoje, pedi! Pedi que pudesse correr! Correr depois destes meses todos, sem colocar o esqueleto pra chacoalhar no asfalto é quase como reaprender a andar. Como eu, de fato, já passei, após aqueles sete meses de muleta, quando o fisioterapeuta me ordenou para deixá-las de lado, e ANDAR! Medo... medo.. medo... A gente parece ter medo que o corpo não se lembre como é que se faz pra andar de novo! Mas... ele sabe! Disse hoje, depois de ter parado de correr, depois de passar a euforia toda, quando tomávamos um café todos juntos, que o corpo parece ter uma memória corporal que homem nenhum conseguirá criar e colocar no mais moderno computador. Quando acordei e, sem me permitir pensar muito (SENÃO DESISTIA!) revivi aquele conhecido ritual: por o top, por a camiseta, o shorts, calçar os tênis... E eu ACREDITEI que TUDO daria certo. TEM QUE CRER! Creio, este é o primeiro passo. Tem que CRER e QUERER! É o segundo passo. Não adianta uma parafernália de coisas “externas” se lá dentro não houver aquilo que, realmente, move um corredor ao seu alvo. Sei que não permiti qualquer nuvem escura se aproximar de mim e saí. E quando, depois de toda converseira habitual pré corrida já havia se esgotado e a hora havia chegado, fui pro asfalto e fui saindo de mansinho... Sentindo o corpo. Sentindo o vento. Sentindo, sentindo... Cara... não dá pra descrever!!! Acho que depois de uma disfarçadinha daqui, um papinho dali, fui me afastando, como se fosse um momento só meu, para que eu pudesse me perceber que eu ESTAVA, FINALMENTE, CORRENDO! Tudo como antes. Arregaçando a camiseta, indisciplinadamente para cima, pra me safar do calor, com aquela “quebrada” de quadril tão característica minha e que nada mais é do que o modo que meu corpo encontrou para livrar a sobrecarga do movimento da corrida de meus joelhos lesionados, a necessidade de rapidinho arrancar de vez a camiseta e correr só de top e de achar uma bica, uma torneira para enfiar a cabeça debaixo da água pra me ensopar todinha pra refrescar meu carburador e dar um refresco na alma... Era como se nunca houvesse ficado sem correr! As subidas mais sofridas, as descidas soltinhas, a passos largos, o corpo indo, indo... Eu estava extasiada!!!! Radiante!!! Chegava ter aqueles pensamentos bobos e sinceros tipo, que poderia morrer ali que morreria feliz... Que se eu nem corresse mais em outro dia, que já me bastaria ter vivenciado esta maravilhosa sensação de ter corrido por este dia. Mas que, rapidinho espantei a idéia e pedi a Deus: “Ah, vá, pode ser por mais tempo, Pai?”. Corri uma parte sozinha para, na volta, me juntar aos meninos e correr no compasso deles. Tive, ainda, o tempo de ver que o céu inclinava-se pra mandar chuva e, relembrando o deleite que foi terminar meus primeiros 42 debaixo de chuva, desejei a chuva. Correr na chuva era dos meus maiores prazeres!!! E dividi com os outros que se Deus quisesse, ia chover... Parei para refrescar o carburador na bica do IAPAR, novamente e segui. O céu estava carregado e meu coração dizia “pra brindar o dia, só faltava vir a chuva...”. Pois olhe só! Na descida do Botânico, nos últimos 2km, vim papeando com Deus, numa conversinha te-te-a-te-te e pedi, de novo a chuva... Acreditem, ou não, a chuva veio na mesma hora... Pode? Pode! Soltei um grito bem lá do fundo da alma. Ia mesmo lavar a alma!!! Chuva boa!!! Pra fechar o dia!
Da hora que terminei os 10km, da hora que me afastei um pouco do pessoal e chorei, da hora que agradeci a Deus eu pensei em sentar e escrever. Sei que meus textos são longos. Extremamente longos! Miguel Delgado pega no meu pé. Ricardo Hoffmann tenta me dar dicas. “Respira, Susi! Respira!” Com isso, ele quer dizer para eu falar de-va-gar... Senão sufoco o leitor! E o Miguel me diz: “Dê enter! Dê parágrafo! Não joga num blocão, não!”. Meninos, me perdoem! Hoje depois de tanto tempo sem escrever, sem correr, me dêem o direito de ser assim... tão Susi!!! Estou feliz demais! Do tipo, o mundo pode acabar hoje. Mas, melhor ainda se começar a partir de hoje.
Bem, que já leu meus textos, noutras vezes, sabe que se não fosse assim, não seria eu. Eu precisava dividir esta alegria. Muitas pessoas acompanharam que eu não pude correr por meses e a “minha” maratona tão sonhada foi “corrida” pelas 42 asas, que se tornaram quase 200... As coisas nunca acontecem por acaso. Não correr gerou outras coisas importantes. Pequenas, mas nunca insignificantes. A idéia de criar as asas para eu correr envolveu um monte de gente de diversos lugares deste Brasilzão. E, de vez em quando, alguém me conta que foi correr com o botton, ou que correrá a próxima corrida com ele. Ou que, ainda, correu por aí afora e fez o anjo... NADA É POR ACASO! Se era isso que o “Cara” lá de cima queria de mim, me pondo de castigo, não correndo por estes longos oito meses, tudo bem! Entendi a mensagem. Repassei. E ela rodou. Correr é bom demais. Mas se você dividir esta alegria com alguém, se você puder ser anjo na corrida, na vida, se puder pensar no outro, fazer algo pelo outro, esta alegria multiplica. O prazer extrapola. O sentido ganha uma dimensão muito além. E a corrida passa a ser, aí sim, um bom motivo de viver.
Obrigada a todos os anjos que correram por mim! Tardio o agradecimento, mas vem do profundo, do mais profundo do meu coração!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sumiço

Bem... totalmente OFF há tempos... antes eu cometia o tal "overtrainnig", descaradamente! Com meu agito da maratona de londrina, tomei uma overdose de internet e pra sarar, sumi! Ainda não tô de volta, mas ando c sdd, de verdade, de mt gente q conheci através do face, pela paixão à corrida e gente q aprendi a admirar, memso conhecendo tão pouco! Pra cultivar amizades, é preciso cultivar! Dá trabalho manter um face na ativa! E minha vida precisou de cuidados extras na esfera real e não virtual... Me perdoem o sumiço! Nem respondendo estou. Nem agradeci as mensagens de parabens pelo meu niver! Mas a vida é pra ser brindada todos os dias, não é? Entào, agradeço por me desejarem a felicidade que vai sendo cosntruída a cada dia, a cada amizade sincera colhida, a cada sonho realizado, a cada amor descoberto, a cada passo avançado no trilhar da vida. Estou em fase hibernáutica! Na caverna! Nada obscuro, nem melancólico. apenas curtindo o lar redescoberto e criado, cuidando de muitas pendências urgentes e, covardemente, fugindo do ambiente que me chama, me é paixão e ainda nào posso, nào dá pra encarar, ainda que queira muito! Confesso: tentei correr! minúsculos 1,5km. Toda feliz e faceira por não sentir dor... na hora... Porque depois, tenho de ser realista: não dá! Dói! Dói muito! Mais na alma do que no próprio pé. e olha que dói o pé! Então, como 99% de meus amigos e contatos são de corredores ou apaixonados pela adrenalina e viciados em endorfina, fujo!
É preciso redescobrir outras paixões quando o corpo não obedece nossMinha paixão número UM entre coisas a se fazer é a corrida. E sem ela, fico meio sem identidade. Tentei o remo, desisti. Adoro, mas não foi o suficiente para me fazer levantar cedo pra encarar meu lago adorado. Caminhar? Caminho, às vezes. Comecei assim, não foi? Mas depois de sentir o vento bom da corrida, a caminhada não satisfaz. Pedalar é quase lá. Mas a preguiça tem falado mais alto. Enfim, hoje, um grande desabafo de quem fala, fala, escreve, escreve tanto e silenciou por tanto tempo. São fases! Passa. Já, já... Aí, volto.