Vamos conversar?

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quarta-feira, 10 de maio de 2017

O menino da capa de papelão


Ele reluzia. Segurava sobre seus ombros uma capa de papelão, arriscando vôos rasantes, ziguezagueando com sua poderosa capa de super herói. Passou por mim às margens do lago e falou um "Oi". Respondi-lhe com um "Oi" e ele novamente falou-me um "Oi". Irradiava alegria!

Logo após ele, passou sua mãe. Uma moça jovem, simpática, com um semblante feliz, de bem com a vida, a quem falei um "Oi" e de quem o recebi também. Em seguida, mais uma menina moça, segurando também um papelão nas mãos.

Rapidamente, imaginei a cena. Deviam estar vindo do zerão, ou do lago um, onde há rampas compridas de grama, por onde pode se brincar  de escorregar no papelão!

Que viagem no tempo...

Foi fácil compreender a alegria estampada na carinha do menino da capa de papelão, cujos poderes eram tantos que passavam, num piscar, de tapete escorregador e voador, para capa de voar! Bastava ele querer e imaginar! Que infância privilegiada esta, a dele, que ignora brinquedos caros vendidos em lojas de shopping e que usa aquilo que toda criança tem de sobra, a criatividade... E mais. Ele tinha como parceiros de brinquedo, não aqueles virtuais. Mas a sua própria mãe e sua irmã.

Foram, apenas, alguns segundos. O suficiente para me remeterem numa viagem no tempo. No tempo onde éramos nós que passeávamos com papelão nas mãos, pelo zerão. Sim. Infância vivida de pé no chão, escorregando na grama no papelão, parquinho de madeira, pic nic, pipa, bicicleta, roller, bola e futebol nos campinhos do zerão, clube, piscina e ler letrinhas, palavras e frases debaixo dágua na piscina. Coisas simples. Aquelas que eu acreditei serem  as melhores. As que eu mesma brincaria.

Passou-se o tempo. Mas fico feliz em ver que há mães, ainda, que perdem uma tarde de sábado pra brincar com seus filhos, quando tantas reservam esta tarde pra passar num salão de beleza, ou na faxina. Não que estas duas coisas não façam parte da vida de uma mulher. Não!  Mas é que o tempo passa. As crianças crescem. E o tempo não volta atrás. E, muitas vezes, gastamos tempo demais com aquilo que não importa tanto, no final das contas... E a melhor forma de amenizar a saudade de um tempo que já foi, é a certeza de ter vivido da melhor maneira possível.

Algumas coisas me fazem ter a certeza de ter valido a pena. Cada filho com seu jeito. A Gi mais expressiva em mensaginhas e o Gabri me surpreendendo como hoje, ao me dizer "obrigado por me trazer tanto aqui!". Justamente, quando passávamos pelo zerão. Foram as lembranças de uma certa capa de papelão que serve de capa, de tapete voador, de escorregador. E que toda criança devia ter.

(Texto originalmente escrito em maio 2014 após um passeio pelo Lago Igapó, na minha cidade. Uma reflexão sobre ser mãe, escorregar de papelão, e o tempo que se vai!)

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