Vamos conversar?

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segunda-feira, 29 de maio de 2017

Cortando a corda


Hora de acordar.
Um pesadelo. Um verdadeiro pesadelo o tempo vivido.
Abro os olhos e vejo a cena e não acredito!
É mesmo verdade. Estou a beira de um precipício, dependurada na parede e coisas não programadas aconteceram.

Estamos todos exaustos! Não há mais força nenhuma a buscar para lutar contra o imprevisto.
Fomos inconsequentes e quisemos correr o risco. E o risco veio cínico a quem foi cínico com ele…

Fechei os olhos por instantes que pareceram uma eternidade. Tentei fechar para acordar do pesadelo e abrir e ver que era tudo mentira! Abri e estava tudo aí do mesmo jeito esperando minha decisão.

Como fomos chegar a isso?
Por que foi que quisemos brincar de fazer de conta que não acabaria assim?
Fomos escalando, escalando e não imaginávamos chegar tão longe. Nós nos empolgamos sem medir as consequências.
Ostentamos a bandeira de que “tudo vale à pena se a alma não é pequena”. E descobrimos na dor que isso serve para quem empaca e não consegue sair da inércia. Que deve tentar viver. Mas quando se trata de pôr em risco o viver… Não. Não é tudo que vale à pena…

Parece cena de filme. E, em questão de segundos, meu pensamento viaja e penso que vi esta mesma cena num filme.
Uma corda, duas pessoas.
Uma fica, a outra não.
É possível termos nos metido numa encrenca tamanha destas?
É isso. São duas pessoas numa corda só. A corda não é capaz de suportar as duas. E é preciso escolher qual fica e qual vai. Vai à queda.

Então eu pergunto: isso é mesmo um assassinato? Cortar a corda para uma morrer? Não seria um sincero ato de braveza dar a chance de uma delas viver? Pois se ambas permanecerem na corda, ambas irão morrer. E elas sabem disso.
Se não escolher cortar a corda enquanto é tempo vou assistir as duas caírem junto de uma corda que não pode mais suportar as duas. É preciso escolher.
E se elas pudessem escolher cortar a corda? Cortariam?

Na corda, sou eu dependurada junto àquilo que não consigo deixar ir. A escalada foi boa. Realmente boa! Tudo o que foi visto ali da parede, visto assim como o que nos acompanhou nesta inconsequente escalada, seria boa desculpa para se dizer que valeu à pena. Será? Porque agora percebo que trazia junto de mim, um peso extra. Um peso desnecessário. Um peso que se eu continuar a insistir em levar comigo nesta escalada que já passou da metade e em algum momento chegará ao fim, me custará minha vida!

Eu preciso cortar a corda! Senão, serei eu a sucumbir com ela. Um assassinato para não ser um suicídio consentido.

Hora de cortar fora o peso extra!

Na corda, um será sempre você. O outro sempre será aquilo que te amarra, que te puxa para baixo, que não te faz nem andar, nem evoluir. Que te faz pender porque te prende. E que te aprisiona sutilmente e egoisticamente porque não solta a corda para você ir!

Pode ser algo que você ainda acredita. Ou alguém de quem você não desistiu. Um emprego, ou desemprego. Um amigo, ou desamigo. Um amor ou desamor. Pode ser que seja o sonho que acreditou e virou um pesadelo. Ou tudo aquilo que acreditou e acabou. É o que você resiste a deixar ir.

Cortar a corda pode ser a única coisa que pode te salvar de continuar a ficar dependurada numa parede sem contemplar à volta, a vista linda e mirar o topo para chegar sã e salva ao fim…

Corte a corda.

9 comentários:

  1. Cortar a corda é necessário e ao mesmo tempo difícil, comigo também já ocorreu. Tortuoso, inesperado, mas necessário...

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  2. Respostas
    1. Exato meu amigo! Pesos arrastados que nos puxam pra baixo...

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  3. Já havia lido em Nov/19 e relendo agora me trouxe novos sentimentos. Novas cognições. Novas leituras. Belíssimo texto.

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  4. Ano passado eu tive que cortar um dos maiores pesos da minha vida. Foi difícil. A maioria das pessoas não entende. Existe um tabu enorme por trás de algumas relações que não são saudáveis. Esse tabu é que faz a gente prolongar a dor, prolongar sofrimento, a raiva, etc. O peso é enorme, a cobrança também. Nem sempre os pesos da vida no quesito relacionamento são os companheiros. Eu tive que cortar a corta para que as duas pessoas não chegassem ao abismo. Tabu é traiçoeir . A cobrança também. E mais que a gente tente dar todas as justificativas, o tabu cega.

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