Quando vejo alguém vivendo num mundinho de redoma de vidro, de “faz de conta que tudo corre bem”, tudo ”sob controle”, digo que vive no seu “Mundinho de Truman”. O filme é bem antigo. 1998! Uau! Dezenove anos atrás… E tão atual!
Vou dizer por que me marcou. Sem spoiler.
Um reality show 24 horas. Todos atores menos um: Truman. Toda sua vida monitorada. Para tudo sair conforme o planejado. Não for pra morrer de ataque cardíaco ou de supetão, morre não! É o protagonista. Não pode morrer. Será?
Ter à sua volta tudo transcorrendo bem ao estilo em torno do seu umbigo, o mundo girando ao seu redor e a seu favor parece ser presente dos deuses.
Não é não!!! Digo mais! Presente de inimigo.
Sabe aquele cara que acorda e sai sorridente dizendo ”Bom dia, vizinho!” e no exagerismo da felicidade da “Família Doriana”, ainda complementa “Caso não te veja, bom dia, boa tarde, boa noite!”? É o próprio! Risonho, conforme mandaria um script de comercial de margarina, tudo perfeito.
Se tudo parece ir conforme o roteiro do ”tudo dar certo” por que um desconforto, um desassossego nasce dentro dele?
Não pretendo fazer uma resenha do filme. Mas é impossível falar dele sem mencionar algumas cenas de pequenas frases que dão pano pra manga pra discussões. Para responder a esta pergunta, por exemplo. As garçonetes suspiram e dizem “Eles tiraram ela de cena, mas não retiraram a sua lembrança…”
Fechou.
Num mundo onde tudo acontece como manda o figurino, não haveria porque algo dar errado com o script. Mas deu. O mundo externo é manipulável. O interior, não.
Opinião minha. Nem vivendo num mundinho de Truman se mata aquilo que se tem lá dentro. O ser humano tem vocações. A liberdade é uma. E ela só é domada nesta anestesia diária que nós mesmos nos aplicamos ao engolirmos um script que não fomos nós que escrevemos. Em algum momento este desassossego acontece. Alguns acordam. Outros não.
Show de Truman é daqueles filmes que se você quiser, viaja longe em várias analogias. Ricas. Diversas. Mas que tratam especialmente do “ser no mundo”. Haja visto o próprio nome ser uma referência a isso. Homem verdadeiro. True-man. O próprio. O Truman.
Você é um TRUe-MAN? Ou vive dando bom dia, boa tarde, boa noite, sem perceber que tudo a volta acontece sempre do mesmo jeito? Previsível?
Já parou para olhar direito?
Se você atravessar a tempestade, pode descobrir que entre o mundo virtual de mentirinha e do mundo real dos verdadeiros sentimentos e reações não prescritas e controladas, existe uma porta. Mas é preciso ir até ela e passar. Senão, pode ser que você se descubra um LYINGman. Numa bela vida Doriana, de mentira.
Ah! Sobre à menção acima “Não for pra morrer de ataque cardíaco ou de supetão, morre não! É o protagonista. Não pode morrer. Será?” finalizo: Você ainda tem dúvida que para morrer basta estar vivo? Retifico. Se você não se decidir viver, é mero figurante naquilo que deveria ser o protagonista. Ao vivo. E não sob uma redoma.
Links de resenhas do filme:
A melhor das resenhas que li sobre o filme:
“Por que acha que Truman nunca chegou a descobrir a verdadeira natureza do mundo que o rodeia?” E ele responde: “Nós aceitamos a realidade do mundo com o qual nos defrontamos. É muito simples” (...) “quantos não são prisioneiros da televisão? E quantos não são prisioneiros de falsos relacionamentos? Quantos ainda não são prisioneiros de um trabalho do qual não gostam? De uma cidade na qual se entediam? Mas, mesmo assim, não têm a disposição necessária para tentar mudar de vida, para serem mais felizes, enfim, não têm a vontade de serem mais livres, de viverem de verdade, e não somente sobreviverem enclausurados.”
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