Vamos conversar?

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domingo, 13 de janeiro de 2019

Pais sentados



Passo pelo hall, pelo longo corredor externo onde ficam as chamadas áreas de lazer. Fico feliz da vida quando vejo os mesmos pais de sempre dentro da quadra, chutando bola com seus filhos. Naquela brincadeira de fazdeconta, de ganhar e perder, jogando. Alguns, empurrando bicicletas com rodinhas, outros vibrando ao lado de proezas, tombos e levantadas nesta arte de cair, brincar, aprender a levantar.


Passo pela área da piscina. Calorzão.

Cena 1: Piscina cheia. Nos poucos segundos de passagem, acompanho a conversa mãecomfilha. “Se você fizer sua irmã chorar, você vai apanhar!”

Cena 2: Onde está a mãe?

Alternativas
  1. Dentro da água, brincando com as filhas
  2. Na borda da piscina, perto das duas
  3. Na sombra, laaaaaaaaá longe, na cadeira, de roupa (obviamente) querendo ensinar a distância
  4. Não está

Análise das respostas
  1. Se estivesse na água, dificilmente esta frase aconteceria
  2. De perto, mesmo fora, não precisaria falar, já resolveria in loco.
  3. EAD. Já ouviu falar? Sinto muito. Na modalidade “filhos”, não funciona. Esta escola da vida tem de ser presencial
  4. Alternativas C e D são corretas. Se significam. A distância é não estar.

Dói de ver o quanto cresce cada vez mais pais paridores, ou parideiros. É parideira que se diz, de quem dá a luz e sai de cena? Então.

Se eles soubessem o arrependimento que vão ter de não tirarem suas bundas da cadeira, do sofá, da espreguiçadeira, e vivenciarem estes momentos únicos com seus filhos e que passam, passam tão rápido…

Se eles soubessem a riqueza que têm em mãos e ignoram, em troca de mexerem em seus celulares, para se conectarem com o mundo inteiro lá longe, enquanto perdem para sempre o tempo de estar presente na vida dos seres mais importantes de suas vidas..

Se eles soubessem quanta falta vai fazer para seus filhos, crescerem com EAD, com pais sentados, quanta dúvida, quanta ausência eles evitariam, quanta falta vão sentir de filhos pequenos que ainda os escutariam, obedeceriam, aceitariam ensinamentos de pais presentes e que, depois, não aceitam mais…


Se eles soubessem que relógio não volta atrás. Que brincar com filhos é privilégio e não obrigação. Que espirrar água na piscina, ficar com o cabelo duro de cloro, um cansaço físico, um pouco, de acompanhar a energia dos pimpolhos, que tudo isso um banho recupera, limpa, faz passar. Mas que tudo que eles deixam de viver, conviver, ser modelo, ser presente, isso tudo, não há como recuperar…

Por que ter preguiça de ser pais dessentados? Aqueles em pé, ao lado, andando, correndo, pedalando, lendo, montando lego, desmontando e montando quebra-cabeça, esparramado no chão fazendo pipa, correndo junto, empinando pipa, papagaio, maranhão, empurrando bicicleta com rodinha, sem rodinha, de skate, carrinho de rolimã, patins, tudo que a gente pode fazer de conta que faz por eles e acaba fazendo pela gente mesmo?


Levanta. Sai do sofá. Da cadeira. Da sombra. Do conforto. Você é modelo. Vai chegar um dia que você vai implorar para o seu filho levantar da cadeira, da frente do play dele, da TV, da Netflix, do PC, do quadrado preto na mão (o mais perigoso, porque leva junto até dentro do banheiro!) e não vai adiantar. Estará tão bem gravado na mente e no coração dele que pode passar a vida sentado, pacato, inerte, passivo, nos melhores momentos de sua vida, que discurso vazio não vai fazer efeito.

Pais sentados = País sentado

Mera coincidência?


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