Hoje fiquei trancada pra fora. Quem nunca passou por isso? As reações a isso, as mais diversas. Cara feia, bico, mudez, barulhez e escrever de vez!
Moro num apartamento. Há dois anos e meio. Cruzo com as pessoas, cumprimento-as. Algumas, converso mais, outras menos, outras apenas aceno e recebo um gesto de cumprimento. Difícil imaginar-me quieta, não conversante. Mas estas coisas acontecem! Sério! E o silêncio incita pensamentos...
Saí de bike para trabalhar. Ato para movimentar o esqueleto, carente de corrida e para abrandar as contas a pagar. Gesto para levar a alma para passear. Voltei para casa, após um desvio por aí, pra esticar a pedalada boa da noite, coisa que adoro! Ia mesmo trocar de roupa no serviço para poder ficar umas horas pedalando, como eu fazia correndo... À noite, lua no céu, vento na cara, despreocupamento! Acontece, porém, que resolvi passar em casa, deixar a mochila, trocar a roupa e sair. Mas quando dei com a mão na mochila... Procura daqui, procura dali... Estava sem chave! Misteriosamente, justo hoje meu filho havia saído sem deixar a chave dele na portaria, coisa que costuma fazer pra não ter de levar peso à toa! Liguei um bom tanto de vezes e nenhuma ele me atendeu. Tinha um compromisso importante na escola. Não poderia atender, eu já sabia. Passei a tentar por mensagens. Recurso que todo mundo conhece quando tem que falar já e sabe que do outro lado, ninguém atenderá! Mandei o recado. E as respostas – TODAS – me diziam para eu me virar! Não dava pra ele nem sair pra me levar a chave na portaria do colégio. Resignei-me, me acomodei displicentemente no sofá do hall de entrada do meu prédio e comecei a fuçar o salvador da pátria: o celular com acesso a internet! Vi meus e-mails, passei no blog e já fui arquitetando de escrever, enquanto esperava pelas duas horas intermináveis que ele demoraria pra voltar! Aí começa a história de hoje...
Moramos em cavernas! Entocados! Escondidos! Não que não sejamos seres anti-sociais! A propósito, tenho plena consciência de que eu sou uma pessoa que topa e conversa com a facilidade de quem já conhecia há anos... Não são lugares cheios de pessoas que me fascinam. São as pessoas provenientes dos diferentes lugares! As trocas. As conversas à toa! As descobertas que se faz junto delas. As histórias que cada uma carrega e que, quando não se tem a preocupação de não se ver de novo, brotam contadas despreocupadamente, criam laços de identificação e de afinidades. Percebo que vemos mais as pessoas que se entocam na volta a seus lares mais distantes do que as que moram ao lado. Enquanto esperava no sofá, vários vizinhos passaram. Todos cumprimentaram e vários rostos eram conhecidos, mas havia um tanto o quanto de desconhecidos. Talvez sejam aqueles com que cruzo, apenas dentro de seus carros. E nunca tenha parado pra olhar de perto suas feições. A mãe de um amigo de meu filho logo emendou uma história semelhante de ficar trancada pra fora, ofereceu sua casa e passou. Fui escorregando no sofá e mais um pouco, com, certeza, eu dormiria por ali mesmo! Eu funciono no 220 volts. Acelerada, mas quando encosto, apago! O sono ia batendo, ia lendo histórias no blog, relendo escritos antigos e o “lendo por aí” que são as leituras de outros blogs pelos quais passo. Já arquitetava escrever no celular, algum texto que me brotasse, coisa parecida com “Quando o tempo pára”, ou “Trancada do lado de lá”. Foi quando passou pela segunda vez, um casal vizinho, sobrinhos de uma grande amiga minha, com quem converso sempre um pouco mais quando os vejo. Convidada, de novo, para subir, esperar no apartamento deles, rapidamente abri mão de escrever para passar um tempinho com eles! Recém sabendo que serão papais, estão radiantes! Se gosto tanto de conversa fora, porque ficar um tempo conversa adentro comigo mesmo? Topei! Subi no apartamento com eles, me serviram um suco e um lanche quente. Falamos de coisas à toa. Até novela assisti. Falo que não temos de ser tão radicais ao ponto de não interagir. Se você está na casa de alguém, curta os gostos desta pessoa. Aprenda a conhecer o seu mundo. Entre nele se for convidada. Enxergue as cores que a fascinam. Seja receptivo. Ninguém está pedindo pra mudar de time de futebol, de religião, casar-se ou separar-se, nem mudar-se de país. É apenas uma vista. E é o preconceito que afasta as pessoas. O preconceito disfarçado de opinião própria e que desrespeita as diferenças. Existe, por acaso, alguém que tenha razão em tudo? Que faz, sempre, o que é o melhor? Novela, lá de vez em quando, é tão ruim assim? Então, vejo que enxergar apenas o meu mundo próprio pode me proteger das opiniões alheias, das “pescocices” em minha vida, reservam-me ao meu próprio mundo, poupando-me o trabalho de conhecer o novo... Mas isto não faz caminhar à frente. Encaverna a gente...
Ficar trancado pra fora de casa e da nossa casca, pode, muitas vezes, desvestir, desamarrar nós, destrancar passagens, abrir outras portas...
CLICS são as capturas que fazemos de momentos. Imagens que congelamos e eternizamos. Palavras que imaginamos e lembramos. Numa junção e numa brincadeira gostosa de palavras e imagens, cartas são escritas, sonhos postos pra fora e a conversa acontece...
Vamos conversar?
Vamos conversar?
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Seus textos sempre me remetem boas lembranças. Lembrei de uma história, te mando no mail. Valeu!
ResponderExcluirAinda não li! vou ler! Passei no teu blog hoje! Bom demais! Também me fez refletir!Eu andava me disfarçando de corrddora por prazer mas andava me exigindo coisas.. Parar, vejo hoje, foi estrategico pra eu não perder a essencia!!!! Parada, redescobri a delicia de correr, mesmo sem poder!
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