Vamos conversar?

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sábado, 20 de agosto de 2011

Desafio dos anjos - Muito além dos 42, 195km!




A Maratona de Londrina está a oito dias de acontecer. Daqui a aproximadamente 180 horas, será dada a largada! Quantos sonhos partirão dali? Quantos corações batendo no mesmo ritmo das batidas dos pés no chão? Quem tiver disposição de ir presenciar verá escandalosamente estampado nos olhos brilhantes de cada corredor presente a reluzente alegria de estar indo atrás de seu sonho... Quem não está familiarizado com este meio alucinado da corrida pode não entender, achar exagero, coisa de gente que gosta de perseguir aquilo que não chega nunca. Somos gente que aprendeu a fazer, apenas se ganhar algo em troca. Em moeda corrente. Ou a fazer para não ser punido, ou sofrer sanções. Por isso, invariavelmente, quando começamos a nos embrenhar nestas provas de rua, nos perguntam: “Mas você fica em que lugar?”, “Ganha alguma coisa... dinheiro???”. E ai de nós se falarmos que não recebemos prêmio nenhum e que... pasmem! Gastamos dinheiro nisso! Mas quem presencia a largada e persevera ao esperar a chegada de uma maratona tem a grata satisfação de vivenciar um momento inesquecível. Se os olhos na largada já reluziam sem vergonha nenhuma, ahhhhhhh... A chegada ofusca! São corredores de todos os tempos (de relógio e de vida!) e idades, com todo tipo de histórico, desde atleta a ex-alcoolista, de magrelo ao ainda gordinho, de portadores de laudos comprometedores a ex-obesos, de gente com a sua idade e gente com o dobro, de celebridades a anônimos. Não há quem não passe por um pórtico de chegada de uma maratona que não queira explodir num grito, num choro, numa gargalhada de alegria, num pulo, num abraço no primeiro que passar do lado, ou na pessoa que ama, se esta estiver ali por perto. Quem já esteve presente, sabe. Quem não esteve, tem a oportunidade de ver isto ao vivo. Quando qualquer pessoa pára pra pensar o que significa correr por 42 km, pára e diz... “Mas é muito chão! Mas é muito tempo correndo!” E é! Você presenciar os corredores chegando após tantas horas e ver em cada um a explosão de sentimentos, é algo único! Creio que isso tudo tem a ver com aquilo que chamamos de UTOPIA. E que os livros didáticos nos ensinam que é sinônimo de IMPOSSÍVEL. E que entre o romper da largada e o avistar da chegada, vão se esvaindo, evaporando, tomando a forma do sonho que nossas pernas vão alcançando para nos apropriarmos com tudo o que temos direito! O corpo todo se regozija! Não há um único poro, uma única parte de nós que não estremeça ao avistar um pórtico de chegada ao longe. Pois é nesta hora que se tem a medida exata do tão-perto-tão-longe, tão-longe-tão-certo! É preciso ligar todos os botões possíveis de piloto automático nesta hora. Pois se algum mecanismo de continuar a dar as passadas falhar, de tanta emoção, o restante tem que dar conta de levar as pernas. É a hora que muitos vivenciam e compreendem a essência de quando se diz que “quando as pernas não puderem mais, deixe o coração levar”. É tão certo quanto é imprevisível como cada um vai chegar e reagir. Rindo à toa. Saltitando. Gritando, xingando, sapateando. Chorando muito... E quando, a maior possibilidade de chance de se chegar for de choro, é certo que nos últimos km, o choro já estará sendo contido, pelo simples medo de se amolecer todo o corpo de tanta emoção e nem conseguir acabar de chegar! E, quando o choro vier à tona... Ahhhhhh... Deixa vir... Transpor um impossível, tocar um sonho com as mãos, sentir no rosto a brisa do vento que leva por caminhos onde as impossibilidades se desfazem, os horizontes se estendem e a utopia não existe mais é algo conquistado a cada km. É tal qual vulcão que entra em erupção. Tudo o que vier à tona, vinha borbulhando e fervilhando. Fermentando até explodir. E uma vez posto pra fora, não retorna mais. Pois, pode-se conter muitas coisas. Pode-se calar por um tempo. Pode-se oprimir desejos. Mas a alegria é dos poucos sentimentos que não se finge, não se convence tê-lo se não possuí-lo, de fato. É dos mais espontâneos que brotam e pipocam estampados no rosto da gente. Que não podem ser disfarçado, tolhidos, abafados. Chorar ao se concluir uma maratona é apenas a essência minando lá de dentro do peito... Pra mostrar pra toda gente que existe, ainda, rega a alma, mantém-nos vivos. São de alegrias que preciso. E elas são tão simples de se sentir. Basta ser autêntico consigo mesmo. Ouvir seu coração. Respeitar seu tempo. Quando não puder fazer por você, faço por outro. E se puder fazer por você, não se esqueça, também, de fazer pelo outro. Serão muitos estreantes na maratona. São muitos os que já passaram pelo pórtico uma primeira vez. São muitos que farão os 21 km e aguardarão amigos maratonistas chegando. São muitos que nunca fizeram, mas já ouviram falar do “fazer anjo”.
Proponho um desafio: o Desafio dos Anjos! Fazer desta prova uma prova diferente! O londrinense tem a fama de ser gente calorosa, receptiva e amiga. Se você vai participar de alguma das provas no dia 28 de agosto, seja a de 5km, a de 21 ou a de 42 e tiver a curiosidade, a ousadia, a vontade, simplesmente, de ser anjo, convido-o a fazer parte deste desafio! Sou sonhadora, por natureza. Mas tenho o pé no chão. E sei que quando jogamos uma idéia no vento, um sonho, um pensamento, adere a ele, quem lá dentro assim o quiser! Não é algo que precise emplacar e ter uma adesão grande em quantidade. É preciso ser grande em vontade! Se houver um anjo novo nesta prova já valeu à pena! Se houver um único corredor que absorva esta idéia e a incorpore em suas corridas e em sua vida, a semente já terá sido lançada e já terá frutificado. Um amigo ultramaratonista me falou que esta minha mania de fazer anjo em provas é maluquice. Que tudo bem, fazer 21 e voltar e buscar os amigos. Mas que nos 42 é loucura... Concordo com ele. Mas sei que ele mesmo acabou voltando em plena Prova de Poços de Caldas, prova duríssima, pra buscar, num anjo, seus novos amigos e pupilos. Aderiu! Alguns anjos acompanham do começo ao fim. Alguns, apenas por um trecho e nunca viram, nem nunca tornarão a ver os amigos que levaram em suas asas. Alguns terminam suas provas e voltam para buscar. Alguns fazem as provas menores e vão para o trecho final, a uns 3km da chegada e aguardam seus amigos maratonistas para acompanhá-los num vôo em revoada. E até mesmo em maratonas, sei de muita gente que por uma nobre causa, deixa de “correr pra tempo” pra desfrutar do prazer da companhia de alguém que esteja estreando, ou que lhe confira um significado muito especial para correr. Assim como sei de histórias de gente que encontra forças pra terminar a prova por se propor a correr por outra pessoa. E que, passando por cima de todas as suas dificuldades, dores, muros, e buracos lá dentro, prossegue, persevera, por transferir à corrida a sua luta própria e pessoal de poder reafirmar a si mesmo, a possibilidade de transpor a barreira do impossível ao alcançável! (*)
“Fazer anjo” é uma forma simbólica de fazer algo a alguém. É o que se pode chamar de “Beau Geste” na corrida. O nobre gesto de alguém que se propõe a fazer algo por outro.
O chafariz é o ponto culminante da prova! O ápice, o ponto a se chegar, além, é claro, do pórtico. Quem alcançar o chafariz pode abrir um sorriso largo no rosto, tomar um banho ali mesmo, se lhe der a vontade, abrir as asas e decolar! De lá se avista a chegada! É uma vista linda! Vê-se de longe a movimentação em torno do totem que indica a chegada. São cerca de 2 km para terminar. É o ponto perfeito para quem quiser se aventurar nesta gostosa brincadeira de “fazer anjo”. Se lá for longe, tem a rotatória da Ayrton Senna, a cerca de 1 km. Receber anjo numa corrida é como receber asas pra terminar! O coração se enche da energia de quem vem buscar. O corpo fica mais leve, como se transferíssemos o peso extra às asas do amigo. A alegria retumba no peito! O rosto cansado desenruga. Estica e estampa sorrindo, a vitória que se aproxima! Ter anjos no aproximar de uma chegada nos dá a certeza que correr não é, definitivamente, algo mecânico, suado e somente para o corpo físico. Correr exercita os músculos, fortalece ossos, estimula o coração, o pulmão a trabalhar, loucamente, para dar conta de bombear sangue e oxigênio a toda parte. Mas muito mais do que isso, correr derruba os obstáculos que a mente inventa, o corpo cansado acata, o coração não questiona e que enclausuram e enjaulam nossos sonhos. Quando você corre e vence o muro dos 30(**), faz muito mais do que isso. Derruba o muro das impossibilidades não desafiadas. Abre horizontes. Vislumbra novos caminhos. E segue! Muito além dos 42, 195km!


(*) No livro Operação Portuga, de Sérgio Xavier Filho, é contada a história de um grupo de amigos que aceitam o desafio de “bater” o tempo do Portuga. O que eles não contavam é que havia outros desafios em questão. E que vencer ali podia conter muitos outros significados. Um livro que parece falar de corrida. Passa-se no meio da corrida. Mas que fala de vida...
(**) Muro dos 30 é uma expressão comum no meio dos maratonistas e diz respeito ao momento em que o corpo parece não ter mais forças para continuar. Comumente verificado em torno do km 30, é quando o “psicológico” tem que entrar em ação para dar suporte ao corpo treinado pra vencer os 42 km, pois muitos quebram por aí, param, passam mal, andam, desistem. Passar pelo muro dos 30 é o desafio primeiro a ser vencido. Pois quem passa por ele sem ser derrubado, reabastece-se de forças para prosseguir.

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