Vamos conversar?

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domingo, 1 de outubro de 2017

Feito pipa


Em onze dias, meu niver!
Uma reta para um dia, contagem regressiva para algo que ano após ano, sempre comemorei.
Estanho, hoje. O niver passado,mudança de década foi tão esperado como todas as outras mudanças de década e, depois, abafado, recolhido e tão tímido para ser uma comemoração bem diferente da planejada por anos que está “décadaeumanoamais” me parece esquisita… Sem pré expectativa. Sem confete. Sem alvoroço. Avesso ao que me é natural nos meus aniversários.

O que acontece?

Acontecem muitas coisas. Ano passado foi um esforço tremendo para comemorar em meio a uma tempestade. Uma trégua imposta de fora pra dentro. Um tempo de bandeira branca hasteada por um dia. Afinal, era meio século pra comemorar.

Hoje, constato que este niver está se aproximando como todos os outros e eu, sem vontade alguma de comemorar. Isso não sou eu.

Onde estou?

Me perdi no caminho. No meio de tantos sacolejos de uma viagem na boleia de um caminhão. Como se indo de carona, sem ser dona do rumo. Indo, apenas. Pra onde o motorista levar. Pra onde a estrada chamar. Sem ter a mínima ideia de onde possa estar indo…

Bom? Ou ruim?

Enquanto escrevo, vou digerindo as palavras recém postas pra fora. Vômito? Saíram sem planejar. No início da primeira palavra, nem tinha ideia que seria isso pra hoje. Vômito. Aí, podem ser as duas coisas.

Ruim. Algo ruim lá dentro, um veneno, um engolido indigesto que o corpo está expelindo. Cuspindo pra fora.
A mercê. Viajando na estrada a mercê. Sem ser dona do mapa e do destino. Sem estar sentada no volante, como é meu costume estar. Esquisito. Gosto mesmo de ser dona do meu nariz. Traçar percursos e destinos. Passar pelo caminho com aquele gostinho de “estou indo” sabendo a cada centímetro aonde estou chegando. Viajar pela minha estrada sem saber aonde me leva é esquisito. Me parece que não sou dona nem do meu nariz, nem do meu destino. Não sou?

Bom. Vomitar é bom. É um mecanismo inteligente de defesa do corpo para se livrar do desnecessário, indesejável e que não faz bem.
Estar a mercê… É novo isso. Mas uma experiência totalmente nova e, vejo, necessária. Uma espécie de deixairpraver. De deitar no barco e deixar o rio levar. De descansar. De não ser tão certinha demais. (Sobre ser tão certinha,  demais : http://clicandoeconversando.blogspot.com.br/2017/06/tao-certinho-demais.html?m=1) 
De não ser tão pilota da viagem. De parar um pouco com esta mania de querer prever tanto o futuro. E, quem sabe, assim aceitar o que a vida manda. Relaxar. Porque a vida vai e traz. Independente de eu pôr a mão no volante o tempo todo, ela vai. É como se eu permitisse ir com um piloto automático que eu recriminava tanto! Dizendo que era falta de pulso em dirigir a própria vida. E posicionar-se e ter o desejo de destino. Mas que a vida desapressada de hoje me mostrou que é apenas um voo cego no vento, relaxar e me deixar ir na brisa. Sem medo. Sem me cobrar tanto. Nem o destino, nem o caminho. Um dia por vez.

Sinceramente, ainda não sei. Será um desplanejar necessário de uma vida disfarçada com cara de desplanejada, mas que me impunha um destino aprisionante??? Hein?!!!!

Deixa vir. Acho que é um retirar de algemas que eu nem enxergava. Dá trabalho ir sem metas, sem sonhos. Sem desafios, sem desejos, sem caminhos desenhados. Mas dá trabalho também ir o tempo todo com a adrenalina a mil. Com sonhos incessantes pra se alcançar. Eu não estou negando meus sonhos, nem muito menos desistindo deles. Estou apenas aceitando a efemeridade do tempo e de mim mesma. Para que o caminho seja mais leve. Pois andei carregando pedras demais! E estas pedras todas jogadas em mim, definitivamente, não são para serem levadas nos braços. Mas para, despejadas no chão, formarem a escada que vai me tirar disso. Como aquela velha história do cavalo caído no poço. Que o dono desistiu tanto do cavalo por achá-lo velho demais para se dar ao trabalho de resgatá-lo, quanto do poço por achá-lo já inútil. E decidiu enterrar cavalo e poço durma só vez. A cada pá de terra jogada sobre o velho cavalo para enterrá-lo vivo, ele sacudia a terra, na vontade de viver e punha seus pés sobre a terra jogada. Punhado por punhado. O final da história é presumível. Fez da cova a sua escada. Pra vida.

A vida, muitas vezes, pode parecer um poço visto do fundo. E conforme o quão fundo se foi, se está, menos luz se vê do lado de fora. Vai depender do que nos move, o desfecho. Tirar o peso das costas e pisar sobre ele. Fazer da carga a escada…

Por fim. Nem demais, nem de menos. Tempo de ir. Sem muita regra. Feito pipa. Soltar a linha. Fechar os olhos e flutuar…



Sobre o voo da pipa: http://clicandoeconversando.blogspot.com.br/2010/12/menina-que-amava-pipas.html?m=1

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