Vamos conversar?

Vamos conversar?

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Você tem seu G.P.S.? Não? Como não?




Já parou pra pensar nas suas necessidades mais íntimas, seus anseios mais bobos que você nem tem coragem de contar pra ninguém? Pois bem! Eu necessito de um G.P.S.! Porque ando meio desnorteada? É... Seria uma das causas. Mas posso explicar!
As palavras possuem uma mágica peculiar que promovem uma sinapse própria, única e que faz dois lados identificarem-se, aproximarem-se e conterem, pra sempre, algo que os une.

Nada muito físico! Simplesmente é o que acontece nas relações de amizade! É a afinidade que aproxima as pessoas. E a troca que acontece entre elas, quando verdadeira, é para sempre!

Fui, na maior parte da minha vida, professora. A única profissão que eu exerci, só variando as funções dentro de escolas ou fora delas. Passei alguns anos convivendo com alunos dentro de uma biblioteca. E, a despeito das paredes feias, das prateleiras judiadas e dos entulhos costumeiros colocados dentro dela, por falta de local apropriado para “depósito de tudo um pouco” dentro de uma escola, pude assistir pequenos personagens se formarem ali dentro. Costumo dizer que escrevo mais do que falo. E, na verdade, falo muito... E escrevo mais ainda... Tenho lembranças de alguns em especial. E, estes, carrego comigo em gavetinhas, pois dividiram seus sonhos comigo e eu com eles, os meus!

Engana-se quem prega que a relação entre educadores e alunos tenha de ser, obrigatoriamente, superficial! Que não é nada recomendável que se fale de sua própria vida e não se saiba nada da deles. Justamente por isso, que alunos não compreendem o mundo “culto” dos seus professores e professores não consigam digerir e entrar no mundo de seus alunos. A coisa mais fascinante entre os seres humanos é esta diversidade. É poder descobrir sempre que sempre há o que descobrir no outro! Que sempre há algo que não conhecemos, mas que podemos conhecer, se nos abrirmos pra isso. Nossos alunos são fontes inesgotáveis do novo! É uma viagem internacional para dentro de seus próprios mundos, de suas almas, onde moram seus sonhos...

Conheci há oito anos, uma menininha de seus doze anos, creio, que estudava à tarde, mas que gostava de sapear na biblioteca à noite. No início, não compreendia muito bem o porquê de ela ir tanto lá à noite, se estudava em outro período. Chegava, revirava livros e não levava nenhum. Isto me intrigava... Um dia saciei minha curiosidade: “Jany, por que você não leva livros pra ler?” E descobri o porquê. Estava suspensa! Havia atrasado uns dias e o valor da multa era demais para seus bolsos. A soma dos dias em atraso resultava em uma suspensão que... a impediria de pegar livros até o final do ano... Dei de ombros pras normas e inventei a minha: pegaria livros comigo! À noite! E os devolveria para mim, tendo, sempre, dias a mais para ler o que quisesse e levasse! Com o compromisso de devolver, sim! Mas levaria mais livros para não ter de vir tantas vezes à biblioteca. Pois lia um tanto que era preciso levar uma média de quatro livros por vez.

Nascia ali, ou vinha à tona ali, uma apaixonada por livros! Suas idas à biblioteca, logicamente, não se resumiam a chegar, entregar e sair. Ela passeava por entre as prateleiras, com uma desenvoltura própria de quem houvesse nascido e  vivesse ali há anos, no meio de livros! “Regras para quê”, pensava eu, ”se não for para relê-las quando necessário?” Os livros se amontoavam nas prateleiras e eles precisavam ser encontrados por pequenas mãos e serem devorados por olhos que vissem neles toda a viagem que eles podiam proporcionar. De alguma forma, foi isso que aconteceu. Ali esta menina contou-me sonhos, medos, alegrias, tristezas. Todo tipo de invisível que compõem nosso interior. Planejou coisas, tornou-se moça, apaixonou-se, seguiu sua vida e sumimos da vida uma da outra, quando nossos caminhos tomaram rumos diferentes.

Então, quando era hora, nos encontramos, de novo! Digo quando era hora, pois o acaso é o outro nome dado àquilo que já vai acontecer mesmo. Quantos anos? Tempo suficiente para tomar um susto ao revê-la mulher, mãe e sem livros! “Mas você parou os estudos?” como seria inevitável, intrometida que sou, cutuquei o quanto eu pude. Como alguém apaixonada por livros, por ler, pode ficar sem? Falei sem dó! “Quando você vai retomar seu caminho? Aquele que você sonhou, um dia, contou pra mim e quis pra você?” E naquela estilingada característica em que você lança palavras, tal qual a seta do arco, furei sem dó o seu coração. Ela precisava sangrar um pouco pra acordar! Há mães que fazem isso. Médicos também! Sabe quando as crianças tinham, antigamente, aqueles abcessos?  Furúnculos? Vejamos... espinha na testa? E que você fura, espreme, sem dó? Pois então... Espremi o coração da Jany! Era preciso. Ela precisava re-acordar! Eu conheci o profundo de sua alma em nossas conversinhas despretensiosas na biblioteca. E eu sabia que ali dentro, moravam sonhos... e seus olhos necessitavam brilhar novamente! Não se tratava de fazer qualquer tipo de julgamento sobre a vida que estava levando. De sua vida familiar ou amorosa. Apenas faltou nesta conversa, ela ter algo a contar, como sempre tinha!

O resultado? Veio por escrito. Nos dias de hoje, não se comunica quem não quer! Definitivamente! Você reencontra pessoas, anota e-mail, endereço de Orkut, Facebook,  número de celular no próprio celular, ou ainda pode achar seus amigos a partir de um nome que ele te dê, ali na hora. Foi o que fizemos! Isto é de-li-ci-o-so! Eu me sinto um pouco mãe de alunos que passaram por mim! Semeadora de sonhos. Flechadora (Arqueira? Hum... o objetivo não é ferir, mas cutucar!).

Enfim, ao ler o que ela me escreveu, encheu meus olhos de um sorriso, me remeteu a lembranças, enxerguei que a via é de mão dupla! Quando ajudamos alguém a descobrir (ou re-descobrir) seus sonhos, aquecemos o forninho para os nosso também! E, olhe só! Não é que a osmose acontece? Não é que ela pegou minhas manias? De inventar palavras! De inventar significados para as já existentes... 

Eu já havia ouvido dizer de ser a “bússola” de outro. Mas, G.P.S.??? Aí, ela, sem saber, me fez viajar por palavras... Não o teria para me indicar caminhos em viagens, mesmo porque adoro mudar roteiros inesperadamente, esticar dias aqui e ali, quando viajo. Curto o seu uso, mas... O que eu quero ter comigo, sempre, não é o aparelhinho que tenho num relógio invocado de corrida. Nem no que se prega no pára-brisa do carro e que conversa com a gente falando pra ir por ali, ou por aqui, quando os dois levam ao mesmo destino. O que eu quero pra mim é um Guia Pessoal dos Sonhos! Para eu nunca me esquecer quais são os meus. Ir buscá-los. E sempre incluir outros mais. Enquanto houver seiva para alimentá-los...

4 comentários:

  1. Ossa mãe! Adoooro ler textos seus, é uma leitura gostosa que nos prende!
    E como gosto do tal jogo de palavras..
    =)
    Fico feliz de ver esse sonho "acontecendo", quero que escreva muuito ainda ;)

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  2. Ana... você que vivenciou os fatos e viu esta história acontecer, sente cada coisa posta aqui...

    Gi, minha filhota... sem palavras pra flar de ti... A sintoia entre nós te passa qualquer coisa que eu queira te falar... Mas eu falo memso assim!!! As palvras existem para serem ditas! Não devem engailar sentimentos.Devem, sim serem as asas que levam amores e cores. Você é mnha que amo, me compreende, me lê antes mesmo de eu escrever.

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  3. Então... Clics... Sem palavras... Somente a imagem

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