Vamos conversar?

Vamos conversar?

sábado, 4 de dezembro de 2010

O bife que se deixa por último no prato.

“A paixão por escrever é tanta e tanta que teimo em usar a velha tática: deixar o pedaço que mais se gosta por último no prato! Para saboreá-lo sem pressa, sem ter de engolir outro algo na boca. Para ficar com o sabor do mais gostoso ali, por horas, degustando-o, ainda que já tenha se acabado faz tempo...”
E, assim, faço com este meu prazer de escrever. Enrolo, arrumo mil coisas importantes pra fazer primeiro. Sempre tenho outro algo pra fazer. Como se pudesse deixar por ultimo aquilo que mais gosto, mais aprecio, como se pudesse eternizar este momento. Como se pudesse degustá-lo sem ele ter de acabar. Como se aquilo que eu fosse contar fosse perpetuar-se também, junto às letras que eu fosse desenhando... Então, me distraio com um infinito número de coisas, na desculpa esfarrapada de estar me inspirando e a cada filme que vejo, encontro um igual número de  motivos para escrever, mas aí a hora se arrasta, o sono vem e o corpo se entrega.
Algumas vezes, me distraio tentando encontrar o melhor nome para o livro. Ou para o blog. Ou para cada capítulo. Penso eu, que capítulos com nomes são uma forma indecisa de usar todos os nomes possíveis e imagináveis para o livro. Sem conseguir se decidir qual deles, realmente, encerraria todo o sentido do todo! Várias são as frases que tem a sonoridade certa para expressarem o momento. E uma delas, apesar de totalmente incorreta, infantil e tão comum no linguajar jovem do adolescente ou do adulto conectado expressa o que se vai neste momento: “tudo junto e (muito) misturado!”
Uma vez, apenas, conseguir escrever de uma só vez, com dois pequenos intervalos, pondo pra fora uma história com começo, meio e sem fim! Explico: parei de escrever a história, mas saber se ela teve fim, somente se eu acreditasse que morri e continuo por aí! Fora isso, sou fragmentos! A cada instante clico imagens que ficam registradas, onde muitas vezes, já rascunho no mesmo instante alguma coisa que palavreie aquele momento. São as “imagens palavreadas ou palavras imaginadas”. Que compõem parte do que registro, que escrevo, ou deixo perder no espaço entre a inspiração e a ausência da obediência que me faria registrar sem titubear. Por isso, também já pensei neste título que brinca com a imagem e a palavra. E de uma maneira brincalhona e rápida, onde é permitido criar a partir dela, já pensei também em apenas: “CLICs”...
Embora eu queira fazer algo linear, creio que enquanto eu não por em ordem as minhas várias historietas, não conseguirei me organizar pra tecer uma história só! E me incomoda a idéia de escrever, mais uma vez, a minha velha história de amor. Ainda mais porque ela é algo indecifrável, inconclusivo e falar dela me remeteria a condenar o leitor a ler algo sem fim! E, no momento, ando muito confusa com o que se passa em meu coração. Tenho um velho amor nunca “morrido”, eternizado pela impossibilidade de ter sido vivido, ou por ser imortal posto que é eterno enquanto dure??? Não se consumou, portanto, não se consumiu, não morreu. E seria injusto falar dele e não falar dos outros amores que tive. Outros tipos de amor. Aquele com quem se casa, constrói-se uma vida, aparentemente certa e da qual se sai com a mesma certeza de se estar fazendo o mais plausível quando se decidiu a ter entrado. E outro amor, um amor concreto, vivido a cada minuto, a cada alegria, a cada dia, a cada problema, estouro, ciúme, serenidade, passo, conquista, fracasso, com todos aqueles itens que um dia alguém diz pra gente que iremos enfrentar, que  não damos bola e que eles acontecem, mesmo! Um amor nunca valorizado pela simples impossibilidade de não conseguir me desligar do passado, da inconformidade de não se ter vivido o grande amor. E, permitir, uma vez mais, estar no tempo errado. Ora longe demais, no futuro que ainda não aconteceu, ora no passado, que já foi, que já passou, que não continuou por armadilhas do destino, que teve chances de ser reatado, mas que por causa daquilo que rege nossas vidas, o tal do livre arbítrio, tomou outro rumo. Exatamente no ponto onde minha alma não compreende e teima tanto em não aceitar. Quando deixou de ser uma armadilha pregada pelo destino nos desencontrarmos e quando passou a ser, puramente, uma OPÇÃO dele... O velho e sempre livre arbítrio. O poder escolher: ir pra lá, ou vir pra cá. O ir, ou permanecer. O partir, ou voltar. O deixar, ou ficar. O amornar, ou arriscar. O desconfiar, ou o acreditar. O morrer, ou o viver...
Hoje, creio, a melhor forma de eu me por no papel seria fazer uma coletânea dos meus “quem sou eu” onde rabisco, conforme o meu momento, no meu Orkut! Coisa boba, dirão muitos! Coisa de adolescente! Mas a pior coisa que pode acontecer a um ser humano é estagnar, parar no tempo, engessar-se, deixar o rio passar e ficar ali enroscado em alguma curva de seu próprio rio, a mercê, preso a lixos que correram nele, sem querer se arriscar a jogar-se de volta a ele, para correr seu próprio risco, viver sua própria vida! Os extremos sempre são excessivos e radicais. Nem lá, nem cá! E, podendo usar o Orkut pra algo que me faz tão bem me faz eu não me esquecer de mim! De praticar algo que é tão próprio meu. E a cada época, ou fase, ou a cada acontecimento especial que me ocorre, posso me por ali, sem melindres, sem muitos dedos, sem a mínima preocupação se me compreenderão ou não! Pois ali, o objetivo não é passar num exame de interpretação ou redação. Ali, eu falo de mim, pra mim mesma. E compreende quem tem sintonia comigo! E é exatamente assim que acontece! Pois quando escrevo, falo pra mim mesma e é nisso que reside a mágica das palavras! Falar em letras, monologar. Pois, sem a preocupação com a escolha de palavras mais apropriadas, ponho-me da maneira mais espontânea, mais sincera, mais transparente, falando pra mim mesma, consigo falar aos outros. Não preciso por pontos finais! Pois a vida, enquanto ela correr, é feita de reticências... E, mais uma vez, retorno num dos meus títulos preferidos para aquilo que eu chamaria de livro, um dia: RETICÊNCIAS... Pois não há fim enquanto há possibilidades de se mudar a história. E ainda que se ponha pontos finais, a história flui, mesmo que se ponha pedras sobre. Ainda que se engavete, se tranque e se jogue a chave fora, ela ecoa, eclode, transborda. A essência vem com tal intensidade, feito vulcão. Jamais, nenhum homem na face da terra poderá conter o que a própria natureza determina. Amores são pra sempre amores! Amigos, para sempre amigos! Sonhadores, para sempre sonhadores! Cubos de gelo podem ainda descobrirem-se água que corre. Pois não nasceram estáticos, petrificados. E buscando a sua própria essência, relembrarão que são água que corre, que hidrata a secura dos corações, que dá flexibilidade ao endurecido, que é a própria vida. Ver a vida como uma reticência nos possibilita a esperança do que há por vir. Não encerra a cena. Deixa sempre a cortina do espetáculo entreaberta. O livro entreaberto com uma página nova a ser escrita. A vida ávida a acontecer.
Já me disseram que certo seria fazer um livro de crônicas. Fazer uma coletânea de tantas coisas que já espalhei por aí. Acho certo! Mas não poderia ter a ambição de se unir tudo com qualquer tipo de lógica, de sentido. Seria uma junção de coisas desconectadas. Como naqueles filmes que você assiste o tempo todo sem compreender o porquê estarem juntas no mesmo filme e compreender, finalmente, no final. Há historinhas que escrevi para os outros. Para momentos especiais que estavam passando. Algumas, perdi por aí, no caminho. Até tentei reescrever. Mas nunca saem como quando nascem.  Na maioria das vezes, são devaneios. Passeios nos meus pensamentos, alma falando com alma. Muitas vezes, dá certo! Pois os meus vários “eus” se conversam e chegam a uma conclusão sobre algo a ser decidido. Numa brincadeira louca de achar-me.
Enfim, escrever parece ser algo feito para os outros. Como se fosse um ato de bondade onde o escritor pensa nos outros para falar a eles, aos seus leitores. Penso que, na verdade, é um ato um tanto o quanto egoísta pois o que fazemos é um monólogo onde o principal beneficiado somos nós mesmos... Um passeio por linhas, como se fossem as ruas por onde se passa quando se quer arejar a cabeça. E por aí vai. Palavras ao vento, soltos os pensamentos, sem tempo, sem senso...
 

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