Vamos conversar?

Vamos conversar?

domingo, 9 de dezembro de 2018

Sobre Dores & Amores



Algumas dores são frutos de amores.
Alguns amores sobrevivem às dores.
Alguns, algumas andam juntos. Interdependem-se. Complementam-se. Alternam-se. Coexistem.


Eu, definitivamente, sou um mosaico de cicatrizes. Feridas abertas se fechando. Sempre em processo de cicatrização. Ferida que cicatriza deixa marca, sim. Cria crosta. Pode até parecer mais delicada onde se machucou. E significar dores… Mas contém histórias. Que pele bonita nenhuma, sem marcas, tem pra contar.


Um dedo, de resto, com uma unha nascendo, crescendo, quase chegando ao tamanho da anterior, que pode contar a história da peregrinação. O tal enigmático, instigador e tão particular, Caminho de Santiago de Compostela.
Dele, conto pouco agora. A história dele é longa. Mui looooonga… Por hoje, contar que independe do tamanho em dias, quem parte neste caminho, desde que vá despretensioso, coração aberto, com seus pesos imprescindíveis de vida para levar, aprende, no caminho, a desapegar ainda mais, o desnecessário que levou. A manter consigo o que representa sua essência, seus porquês. E a digerir vagarosamente, o que o caminho oferece.


A bem da verdade, as lições foram muitas. E não é que não escrevi nada. Capaz que eu, que me desmancho em letras e palavras, não o faria numa viagem tão marcante e ensinadora como esta. Mas são histórias que merecem um contar atencioso. E foi feito. Gigantemente. E vai virar livro, também. Vou contando alguns detalhezinhos…


Meu pé se encheu de bolhas. O corpo gritou. Eu escutei e, por algum tempo ainda, tive de prosseguir andando. Posso dizer, com toda certeza, nunca senti tanta dor na minha vida! Nunca! De andar chorando, com dores que não cessavam e aumentavam. E que pra eu rumar a um lugar seguro, tinha de lidar com estas dores, suportá-las, ainda que doessem.


As bolhas sararam. A lição ficou. Na superfície da pele, quase não se vê sinal algum. Lá dentro de mim, tudo ficou gravado. De fora, apenas esta unha querendo crescer.

Enquanto isso, vou ganhando outras dores. Um joelho cortado bem fundo. Um corte profundo, difícil de cicatrizar. Mas que pouco a pouco vai se fechando. Dia após dia, de fora pra dentro, parece estar se fechando. E lá dentro, a ferida ainda está aberta e me impede fazer coisas que estaria fazendo. É lento. Mas vai ser fechar.


O que são estas dores?

São os riscos riscados na pele e no meu corpo, os amores que vivi. Esta minha sede por viver, por ir pelo caminho, não desistir de prosseguir. Esta minha vontade de recomeçar, mesmo há tanto parada e quase vencida, de tentar de novo e ir correr. Ir um pouco além. Ir por um caminho que me agrade, me faça feliz. Caminho lá fora, cheio de verde, vento e cheiro de vida. E cheio de pedras. Estas que me fizeram tropeçar e cair. Esta que me cortou. Ah… Eu e as pedras no caminho….


Eu sei que há esteiras seguras para se correr. Mas que não me fazem sair do lugar. E cair só acontece com quem está em pé, a caminho, indo. Tenho dores. Mas vivo os amores. Este sentimento que faz crer. Recomeçar. Não desistir.

Muita gente nomeia de paixão por viver. Não penso assim. A paixão acende o fogo. Com certeza. Mas quem mantém a chama acesa, quando ninguém mais a vê, é o amor.

É o amor que faz ver onde não há chance. Que me fez levantar, embora destruída fisicamente. Chorando compulsivamente, sem poder parar e, mesmo assim, acreditar que chegaria.



É o amor que me faz esperar esta ferida se fechar lá dentro, embora tenha tanta vontade de estar, hoje mesmo, lá fora, de cara pro vento, rasgando as bochechas de sorrir, fazendo o que me faz feliz. De esperar. Esperar este tempo necessário pra não me ferir mais. De acreditar que foi só um tombo, de novo. Já passa. E, logo, no tempo certo, vou estar ali.


Dores e amores coexistem. Insistem. Resistem. E me fazem por fora e por dentro, os desenhos em mim.



4 comentários:

  1. Esse texto me descreve tanto... Acho que somos todos um mosaico ambulante... Acho que a culpa é da nossa memória que talvez não lembraria de tantas histórias ou da ingratidão que não reconheceria que todas são importante. Somos um amontoados de histórias vividas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Thais, minha querida amiga... Um mosaico. Um caleidoscópio! Só nosso já dá margem a outra historinha... Dos caqui his fazer a mágica e refletir cores, reinventar a luz em nós e fazer beleza. Mas cicatrizes contém histórias. Isso é o que levamos.

      Excluir
  2. Um caminho de detalhes,é uma forma de conhecimento de nós mesmos.

    ResponderExcluir

Gostou? Compartilhe!

Quer comentar?
Clique em "comentários" e digite na janela que se abre. Selecione seu perfil no Google, aí é só publicar! Se quiser, identifique-se com seu nome ao final!

Obrigada pela visita! Logo mais, passo respondendo...