Vamos conversar?

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sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal: tempo de resgatar as raízes...

Quando criança, minhas lembranças de Natal me remetem ao piano de minha mão, posto no meio da sala que, durante o ano todo, ficava cheio de enfeites e adornos, mas que no mês de dezembro davam lugar aos pequenos personagens de louça que representavam os presentes no presépio no dia de Natal. Não sei, exatamente, se eram peças confeccionadas para este fim, mas lembravam José, Maria, o menino Jesus, os Reis Magos, os Pastores, os animais na estrebaria. Além do presépio simples que ela montava, pequenino como era o tamanho destas estatuetas, fazia arranjos com pinhas, fitas vermelhas guardadas de presentes anteriores até de anos passados, arrumados em pratinhos de papelão prateado que eram um luxo naquela época! Muitas vezes, cortava pequenos galhos de pinheiros ou ciprestes do clube aonde íamos (a ACEL – alguém lembra?) e enfeitava estes arranjos! Tínhamos também, arranjos feitos como trabalhos de escola, uma vela feita de papelão enrolado, coladinho de macarrãozinho e pintado com tinta brilhante prateada. Sobre o piano, então, ela ajeitava cuidadosamente a Árvore de Natal! Aquilo, além do presépio, representava algo mágico! Lembro perfeitamente da embalagem de papelão de onde, todo ano, retirávamos a árvore para ser montada e na qual, todo ano a guardávamos para voltar a usar no ano seguinte. E das caixas de papelão com divisórias que todo ano ela retirava de cima do guarda-roupa, onde ficavam guardadas as bolas da árvore de Natal! Eram lindas! Feitas daquele material tão frágil, somente tínhamos autorização de manusear se já fossemos bem cuidadosas para ajudá-la na montagem da árvore de natal! Já naquela época, as bolas eram especiais, pois não se resumiam a forma de bola. Havia bolas com reentrâncias, pontudas, imitando estrelas, com brilhos e de diversas cores. Também havia enfeites de plástico nos quais pendurávamos sininhos coloridos e um enfeite prateado que era ajeitado sobre os galhos da árvore para dar brilho e mais o algodão que imitava a neve sobre estes mesmos galhos! Interessante que todo ano usávamos a mesma árvore, as mesmas bolas e enfeites, o mesmo algodão. Sempre era arrumada sobre o piano! E toda véspera de natal íamos dormir de olho no piano, ansiosas por acordarmos e corrermos para ele na manhã seguinte para ver se nossos presentes haviam sido deixados pelo Papai Noel ali naquela noite, debaixo da árvore, sobre o piano de minha mãe! Acreditávamos em Papai Noel e escrevíamos cartinhas a ele para pedirmos nosso presente! Com o passar do tempo, nós mesmas, as filhas, nos encarregávamos de montar a árvore! E mantínhamos o costume, a tradição, cientes do verdadeiro significado do Natal. E prepararmos a casa para esperar o Natal fazia parte de um ritual de final de ano que nos mantinha unidas para aguardar um dia especial.

Quando saí de casa, mantive o mesmo costume da fantasia em torno do natal e seus personagens. Depois de um tempo, “acordada” quanto ao sentido comercial do Papai Noel, do esquecimento do verdadeiro sentido pelas famílias, acabei deixando de lado estes velhos costumes e minha casa passou a não receber qualquer enfeite natalino. Havia a justificativa religiosa de que todo costume natalino, na verdade, tem a origem pagã. E dentro deste princípio, deixei de falar de Papai Noel, de usar guirlandas na porta de casa e colorir com luzinhas a frente da casa. Foi um tempo exageradamente radical quanto aos costumes. Serviu para delimitar onde entra um personagem e onde deve entrar ou sair o outro! Mas admito, deixar de enfeitar a casa, como minha mãe fazia fez-me perder meu elo com as raízes deste dia em minha vida. E, hoje, parei para relembrar...

O que vejo, então, é uma inversão de valores. Somos devorados pela imposição do “compre-compre-compre” e é óbvio que a figura de Jesus na manjedoura não ajuda vender nada, até atrapalha, pois o Rei dos reis nascido num cenário tão simples como este, desmistifica que riqueza, posses, presentes seja símbolo ou sinônimo de felicidade e que, na simplicidade encontramos a verdade e a paz. E, logicamente, a figura de um “bom velhinho” que confecciona em sua oficina brinquedos para levar às crianças, sem cobrar nada (!!!), seja bem melhor de venda aos pais que se descabelam pra conseguir adquirir o presente pedido por seus pimpolhos ao Papai Noel.

Opiniões à parte, sobre o certo e o errado no Natal, vejo o que acredito ser o principal: somos raiz e fruto! Carregamos o que nossos pais nos ensinaram e passaram por seus modelos de vida e somos fruto que repassa estes mesmos valores aos filhos. Muito mais do que a troca de presentes entre os familiares, é preciso “estar presente”! O tempo que se passa junto resulta em lembranças, histórias a se contar depois. Risadas, sorrisos, a ternura de vivenciar, por palavras, cenas vividas em outros tempos e com pessoas que nem estão mais conosco. Os presentes vão se quebrando, estragando, sendo consumidos, acabam. Deixam de existir... Tempo passado junto, ser presente na vida do outro é algo que é levado sempre dentro do coração. É esta lembrança boa que nos fortalece num momento como este, onde minha filha está a tantos quilômetros de distância, a tantas horas de vôo. Quando gostaríamos muito de estar juntos e não podemos. Pois nos fortalecemos, exatamente como combustível que nos abastece para irmos usando, aos poucos, na hora de termos aquela reserva de energia, quando pensamos que não conseguiremos ir além. Veja bem: não são os presentes materiais que minha filha levou com ela na bagagem para se sentir perto de mim e de sua família. São nossas conversas de madrugada. Ou aquelas costuradas de dia, nas nossas andanças de mãos dadas, nas viagens de janela escancarada, vento, música e sorrisão no rosto, ou de choro repartido.

Natal em família é aquele em que mesmo se estando longe, tem-se a certeza de estar junto! Duas pessoas fundamentais pra mim não estarão presentes comigo neste Natal: minha mãe e minha filha. E, curiosamente, são destas duas que mais me lembro neste natal hoje. Porque em datas assim, que mexem com todos, quando queremos estar com quem mais amamos, ficamos sensíveis! Observadores. Pensativos. Mergulhamos em lembranças. E saímos no dia seguinte fortalecidos. Pois quem imagina o natal de maneira egoísta, comercial apenas, sem dividir nada com ninguém, nunca terá nada além do que vê a sua frente no momento “agora”. Não compartilha, não dá, nem recebe nada. Não fica mais pobre, mas também não enriquece nunca. É tempo, enfim, de dar o que há de melhor em si próprio aos outros. Pode ser o sorriso ao estranho que passa, o bom dia/boa tarde/boa noite, a mão que deseja o “Feliz Natal” ao mendigo, ao pedinte que nunca espera nada de ninguém, uma bolachinhas enfeitadas de glacê em forma de coisinhas de natal, uma comidinha simples (como polenta!) feitinha com carinho pra família, o abraço ao irmão que veio de longe e você nunca vê e conversa, a horinha gasta numa boa conversa com aquele vizinho já mais idoso e carente de companhia, a paciência com seu pai ou mãe, ainda vivos e que já não escutam direito, já não lhes são “úteis”, que implicam com tudo, são teimosos, insistentes, mas que querem apenas estar mais um natal junto...

Quando a única perspectiva que se tem a frente é esperar o trem parar para descer, qualquer atenção ou carinho faz bem. Faça deste natal a concretização de decisões do tipo “vou tratar melhor minha mãe”, “vou ajudar, sem reclamar, meu colega de trabalho”, “vou parar de querer ganhar tanto dinheiro para meu filho usufruir amanhã, para brincar de bola com ele hoje“, ”vou fazer bolinhos de chuva para comer com meus filhos, sem medir as calorias a serem gastas depois”, “vou sorrir mais e resmungar menos”.
Creio eu, que neste natal e em todos os dias do ano estamos precisando mais de atitudes do que de presentes que você dá, já com aquela frase “se não te servir, você pode passar na loja tal pra trocar por algo que você quer!” As pessoas carecem mais de gestos, palavras, atitudes do que qualquer algo material que o dinheiro compre.
Pense nisso! Faça! Não protele. Aja! Sinta, respire fundo, absorva toda energia que existe a sua volta e você nem vê e abasteça-se. Distribua bons-dias, boas-tardes, como-vai-você. Não economize sorrisos. Pense duas vezes antes de falar algo maldoso que só vai fazer uma coisa: derrubar aquele que for ouvir. Toda energia boa – e a má – que você distribui, converte de volta pra você. Não é uma questão de esoterismo. Longe disso! É uma questão física da lei da ação e reação. Do tornar e do retorno. Você é aquilo que você fala (ou vomita!) E crie, incessantemente, uma aura a sua volta. Ela será um campo fértil para que as pessoas acreditem, realmente, naquilo que você fala com suas ações e suas atitudes, muito mais do que com suas palavras e um escudo para te proteger daquilo que não te fará bem!
Tenha um Natal inesquecível, repleto de pontinhos a serem iniciados para um trilhar que o leve na busca de ver, depois, que a vida vale a pena!
Deus no comando, você caminhando e os sonhos fluindo...

4 comentários:

  1. Ricardo, sempre bom ver voc6e por aqui! Estou postando mais no outro blog, ultimamente!
    Quando quiser, passe por lá!

    http://cartasparaquemeuamo.blogspot.com/

    Susi

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  2. Amiga Suzi , que talento para escrever, expressas muito bem o que vices e sentes. Um abraço. Boas festas onde estiveres, sei que levas alegria.

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    Respostas
    1. Obrigada Marli. Foi um prazer viver contigo. Tênis de repetir as trilhas!

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