Vamos conversar?

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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A miopia

Raramente, saio de casa sem colocar as lentes de contato. Aliás, se não for a primeira coisa que faço quando acordo e me levanto da cama, é porque, simplesmente, dormi com as lentes nos olhos, a despeito de todas e todas as recomendações médicas que já recebi. Desleixo meu. Mas bem mostra uma necessidade interna que hoje percebo: querer enxergar longe, ver além!

Hoje, acordei querendo ir correr, nadar, caminhar. Qualquer coisa que me tirasse da inércia e que me desse de volta um certo vigor, uma energia que parece que perdi nestes últimos dias. Mas optei por vir aqui dedilhar. Talvez porque tenha passado os últimos dias com coisinhas fervilhando na cabeça querendo escrever e não o fazendo. Ao invés de obedecer ao coração que necessitava por no papel (ou tela) tantos sentimentos aflorados, posterguei, e deixei passar o bonde. Uma vez mais. Nada assim tão sério que não dê pra pegar de novo, assim como as borboletas azuis que rodopiam em torno da gente e nos convidam a ir com elas. E tantas vezes, olhamos, olhamos, olhamos e só vemos todo o impedimento que seria irmos com elas. Ao invés de alçarmos vôo tão imprevisto e tão inesquecível...

Ao acordar, hoje, fui espiar na sacada o tempo. Irônico! Como se indo lá fora dar uma espiada ver o céu, pudesse, de fato, ver o tempo. Este que tento ver e erro tanto por não saber interpretar e ver além. E que, de certa forma, é certo! Pois se, realmente, olhasse firmemente para o céu e Quem habita nele, pudesse, sim, ver o tempo ou acreditar e esperar por ele... E parei! Uns minutos poucos, bem poucos. Um céu sem sol, ainda, poucas nuvens e tantas coisas embaçada a minha frente.

Foi o retrato exato do que estou passando. A miopia. Posso ir lá fora espiar. Mas a minha miopia, esta que prontamente corrijo ao mal levantar e colocar as lentes em meus olhos para poder enxergar, me atrapalha. É horrível não enxergar além! Imagino que não enxergar nada (ou tudo) é ainda pior. Mas, hoje, não vou discutir o problema da falta de visão total. Mas a falta de se ver adiante. É estranho e me remete ao que vivo, uma vez mais brincando comigo com o que passo, vivo e sinto. Metaforicamente. Não consigo olhar e enxergar além. Debrucei na sacada e fiquei ali observando até onde e o quê meus olhos conseguiam definir a sua frente. Posso enxergar o contorno, o destaque das coisas delineadas no horizonte. Vagamente as cores. Mas sem definir onde, exatamente, começa uma e termina outra. Meço a minha capacidade ali, de dentro da minha casa. Do meu ponto de partida. E mesmo os prédios mais próximos não me mostram contornos definidos em seus detalhes. São linhas no horizonte que só serão descobertas ao se trilhar o caminho que me leva até elas. Sem ir até lá, jamais poderei descobrir como são. O que definem. Quais os pontos em que as cores se separam e são alegres, tristes, frias, e quentes. Somente indo até lá. Sem desistir.

É uma sintonia que bate em e meu coração, então. É sempre assim. Vem uma linha em meu pensamento e começo a brincar de escrever sem ter papel e caneta, ou o note na mão! Mas hoje não! Ao me vir a palavra MIOPIA em minha mente, foi como se fichinhas caíssem me fazendo ver o que não consigo ver. Um estado de miopia. Que me amarra as pernas. Me amedronta, me acovarda e me faz desistir de coisas que quero comigo. Não é fácil pular da cama para ir correr. Tem sido um esforço imenso, quase que um rigor de disciplina militar, mesmo amando correr, pular da cama que me chama, me gruda e ir. Mas, uma vez, levantado, e ido, o prazer que a corrida me proporciona só me afirma que vale a pena levantar e ir. Ainda mais nesta situação em que fiquei tanto tempo sem ela. Veja bem: meses sem ter o prazer dela, deste amor, destra paixão e, ainda assim, é difícil ir atrás dela! Outras coisas mais me amedrontam. E decidir de ir atrás delas, acreditar e esperar o momento certo de tê-las comigo não é algo assim tão fácil. A miopia impede muita coisa. Os passos se tornam comedidos. Pausados e oscilantes. Pois temem buracos e desvios à frente. Não sabem por onde estão indo. Mesmo sabendo que o coração manda seguir.

Precisava escrever! O coração que tantas vezes é ousado, entusiasmado e atrevido é também covarde e, mesmo querendo somente o bem, é egoísta. E erra! Erra feio. Às vezes, de maneira imperdoável, que ofende, destrói os horizontes vislumbrados e desejados. Concordo se me disserem que escrever metaforicamente seja uma forma escondida de eu escrever falando de coisas reais na vida de outros ou na minha própria. Quem saberá? Mas o medo é o grande monstro que assassina amores, mata sonhos, amarra pernas que querem seguir, sufocam, abafam o ar novo que tentou nascer...

Não sou de todo 220. Tenho momentos de apatia. De indecisões. Não sou de todo corajosa. Sou também medrosa, ainda que se trate de coisas que amo muito, muito! Eu sei e vejo, de maneira nebulosa, os contornos do que há adiante no horizonte. Mas sem minhas lentes, não consigo ver o que são. É difícil seguir além! Posso trombar naquilo que não vejo. Mas também sei que tenho a opção de ir e, a cada passo que der, ver de perto o que era a sombra que se mostrava de longe algo não definido.

Gostaria de ser menos medrosa. Principalmente quando sei que meu medo é cruel, mata sonhos e amores. Talvez, eu precise me adaptar a, de vez em quando, sair sem minhas lentes e recuperar a segurança de só enxergar um cadinho além. E ver que viver cada passo de uma vez seja interessante, possível e bom.

Muitos trens eu perdi, alguns cavalos brancos (as oportunidades que passam só uma vez e não retornam) deixei passar. Mas tudo aquilo que vivi, senti e se instalaram em meu pensamento e em meu coração ficam comigo pra sempre. Não importa se os caminhos se descruzaram. Se perdi o bonde, a corrida, a largada, o cavalo. Ao coração valente fica a memória. A saudade. As lembranças de cada momento. A certeza de ter vivido o sonho, o acontecido. Ao coração medroso sempre restará a dúvida de uma felicidade que pairou a porta e não se concretizou... Fica no vento, sem dono, na brisa esperando quem a tomará.
Mudaria o rumo das cosas, se pudesse? Muitas, sim. É preciso seguir a vida! Ainda que doa, doa muito. É o que dizem! Não sei se compreendo esta frase, pois é cruel e dura. E, por vezes, absolutamente, isenta de sentimento algum, o ponto exato onde se deixa tudo para trás para seguir. Onde se aplica a anestesia suficiente para neutralizar e poder seguir. Pois a vida segue...

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