Vamos conversar?

Vamos conversar?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Meu relógio tem onze números...

Tempo bom este de chuva! Pra desviar das contas que, ainda, estão me esperando acabar com elas e ficar aqui... Fazendo das coisas que mais gosto: escrevendo...

Não é comum que eu fique à toa. Dá comichão nas mãos... E.. na língua. Sendo sincera, é o fazedor de letrinhas que não pára nunca! Seja por meio da boca, das mãos, das teclas...

Hoje é um dia perfeito pra dedilhar. E por, através de palavras, tudo o que vai fervilhando e nunca pode ser ouvido no meio do burburinho do serviço, dos telefones que não param de tocar, de pessoas amontoadas conversando ou gargalhando, eletrônicos ligados e corpos inquietos que não sossegam, nem se escutam a si próprios.

Quantas foram as vezes em que comecei a escrever em pensamento. Mas pensamento que não é registrado vai com o vento. Ao ler relatos em livros me via rindo sozinha, querendo, em seguida, já contar outro causo parecido, mas imersa de volta à realidade a história evaporava-se.

Tenho algumas figuras clássicas para descrever meus estágios de pensamento. Uma delas que uso muito é o corredor. Aquele em que vivo batendo a cabeça! Ora do lado de cá, ora do lado de lá! Num incessante tentar ir ao meio, no ponto de equilíbrio. Comumente, exagero. Coração demais. Razão demais! Inflexível demais. Relaxada demais... Assim, como se eu transitasse através de um corredor, ponho-me num andar desequilibrado onde a única forma de andar sem me debater nas paredes é buscar o meio. O equilíbrio. O ponto onde não sou nem tanto à terra, nem tanto ao mar. Nem tanto bela, nem tanto fera. Bem tanto tola, nem tanto cruel. No ponto onde eu possa chorar quando o choro brotar, mas que eu possa ser dura o suficiente para sair de cena. Ser nada e ninguém e ser também alguém pra alguém.

E difícil acertar a dose. Expressar sentimentos ao outro é uma cilada. Parece-me que a certeza tem a costumeira habilidade de acomodar corações amornando o dia. O fogo da paixão acende, instiga. Mas apaga-se facilmente. A serena face da sinfonia que toca sempre a mesma melodia, no mesmo timbre, na mesma intensidade mantém a temperatura de um banho-maria. Nem lá, nem cá. Não queima. Mas também não doura. Devagar, cozinha.

É certo que há momentos onde nos é solicitado uma de nossas tantas faces. E dançamos conforme a música... Mas cá dentro na alma, somos mais uma do que outra. Por mais que eu tente ser adaptável a alguma situação, lateja o que sou, num retumbar incessante, frenético, como a me lembrar que não adianta querer parecer aquilo que não sou. O mais incrível é que sou exatamente transparente. Pecando por transparecer demais meus sentimentos, pondo sempre sinceramente meus pensamentos pra fora. Se me entusiasmo por algo, meus olhos brilham tanto por isso, que lampejo raios que atraem e convencem outros. Transbordo sonhos. Visto-me daquilo em que acredito. Os poros todos emanam meus sentimentos e pensamentos. Difícil disfarçar-me de alguém que não seja eu mesma... E, mesmo sabendo disto, tenho a boba mania de querer abafar, aquietar, pacientemente esperar aquilo que, para o meu tempo, demora demais! O meu relógio só tem onze números! O meu tempo sempre acaba primeiro. Meus minutos correm como se fossem segundos e minhas horas como minutos! Não sei esperar! Ou boto fogo demais e queimo, ou tiro antes da hora da panela e como cru. Será que um dia aprendo?

Ahhhh... O tempo... Talvez, por isso, eu fuja tanto dele e ele de mim. Brincamos de esconde-esconde e não nos encontramos nunca. Ora tarde, ora cedo. E eu custe tanto, então, estar no tempo certo das coisas, das pessoas e as histórias pareçam ser saídas de páginas, ao invés de parecerem cenas no tempo real...

Mas a despeito de tudo, creio. Que o meu relógio que bate como louco, apressadamente, vai encontrar seu compasso num passo certeiro. E desacelerar o passo, posso, posso... E eu tome coragem de me desapegar de páginas feitas de papel e deixe de contar histórias pra fazer história. Uma a uma. Uma por vez.

2 comentários:

  1. Bravo!!! Esse deu pena de ter acabado tão rápido. Que delícia de texto, senti o cheiro da terra, onde estava plantada a uva, que gerou esse vinho capitoso. Que você tenha mais feriados e contas para pagar!

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  2. Ahh, Ricardo! Chuva, contas e a vontade de conversar...
    Gostei! Feriados em casa podem ser muito bons... Desde que o encontro
    marcado possa ser, de vez em quando, com a gente mesmo.
    Obrigada, meu amigo!

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