Parada num ponto de ônibus com a difícil missão de chegar, em menos de meia hora à largada/chegada da maratona de Curitiba. Quem manda não acordar mais cedo? A parada na parada me fez viajar por reflexões...
Sair mais cedo, planejar a hora, sacrificar um pouco o sono pra pular da cama antes, são várias coisas que se tem de optar e fazer pra poder sair e ir de “busão” e chegar a tempo de cumprir o proposto. Bem, não fiz, exatamente, tudo isso! Então, paguei o preço. Mas ao invés de me lamentar, ver o que de bom ganhei. Se ganhei algo? Sempre se ganha! Basta ter olhos que vejam além... Vejamos:
Já fazia uns 30 minutos que eu estava lá parada no ponto. Andar de ônibus não é, definitivamente, das coisas que eu mais goste. Prefiro andar a pé a ir num ônibus. Ia até encarar a pernada. Mas depois de ser aconselhada que seria longe, resignada e animada fui à rua indicada.
Teria duas opções. Contando que seria necessário ir rápido, optei por uma. Chegou mais um rapaz no ponto, papeei com ele, perguntando o que seria melhor fazer e ele seguiu, eu fiquei. Chegou a senhora com cara de animada! Pudera! Olha o histórico! Diabética, recuperando-se de uma fratura no pé, saia do Paraná Clube, mais precisamente da piscina, em pleno domingo de manhã. Por que? Porque ela estava nadando! Porque no clube, ela podia fazer hidroginástica de graça para sócios, em determinados horários e para nadar, ela ia por conta própria, para nadar, por pelo menos duas horas... Não porque alguém lhe impunha. Mas porque, assim, ela se sente melhor. Pode? Pode! Dona Tereza! Devo ter conversado com ela por uns 20 minutos, apenas. Mas o gás que se recebe de uma pessoa desta, cheia e transbordante de energia é algo imensurável...
São várias “Terezas” por aí afora que, a despeito de ser difícil caro, trabalhoso, sem graça, saem a luta pela sua saúde. Não precisam ser, necessariamente, frutos de intimidações médicas que não deixam outra alternativa, entre morrer logo, ou exercitar-se. Começa pelo semblante. Domingo de manhã, quais seriam as opções? Faxina, cozinha, panelas suando preparando a comida de alguém, barriga molhando na pia e secando no fogão, missa, culto, gente, gente, casa cheia e... quem sabe a TV ligada fazendo barulho e companhia. Quem sabe seja esta mesmo a alegria, ou será a fuga, o caminho para cobrir o vazio do tempo? Nada contra as coisas todas que citei que cobrem o dia de alguém. Mas... e lá dentro, fora do tempo útil a todos, quem é que cobre o tempo? Para quem se cobre o tempo?
É mesmo verdade que eu devia ter me empenhado de outra forma para sair mais cedo e ter tempo de sobra para estar na chegada bem antes. Cheguei no ponto depois. O ônibus havia acabado de passar. E aquele sorriso feliz no rosto de Dona Tereza, criou uma simpatia imediata que assim que ela chegou ao ponto, já comecei a puxar assunto. Quando seu ônibus veio chegando, falamos mais umas palavras e lhe falei que tinha sido um prazer imenso em ter lhe conhecido. Sim, como foi! Entregar-se ao que não há como fugirmos, aquela curvinha descendente que indica a soma de anos percorridos, a curva descendente em saúde, agilidade, vitalidade é comum. Buscar viver o que falta, buscando o máximo de alegria, condicionando o corpo para responder melhor e viver melhor é o ideal.
Foram poucos minutos passados com dona Tereza. Um farelo em meio a horas que se leva pra correr uma maratona. Mas estar aberto a ouvir pessoas que nunca se viu e que nunca mais iremos ver faz parte de algo que nos aproxima do que são e do que somos. Abre-nos os olhos para vermos exemplos de vida em pessoas comuns. Que nem correm 42km. Nadam duas horas. Dentro de um mundo limitador que delimitaria muito mais, se os olhos dela não fossem, também, pequenos, alcançassem pouco, não viajassem por todas possibilidades que a vida oferece para quem quer ver e ir.
Perdi a chegada de todos os meus amigos na maratona. Mas ganhei o dia em ver tanta vitalidade num outro modelo de vida. Simples. Eficiente. Onde, como tudo na vida só depende de se dar o primeiro passo. Se perder ou se ganhar, só depende de como se olha para o relógio.
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