Outro dia, escrevi um bilhetinho pro meu filho... Virou carta... E, cada vez mais, percebo que é escrevendo cartas que volto às origens de escrever com o coração... Falava a ele, do momento que está passando! A adolescência. Não planejo o que vou escrever. Simplesmente, sai! Vem de lá dentro o que falo na hora. Deve haver uma serie interminável de palavras prontinhas pra virem pra fora e que eu não tenho prestado a devida atenção, nem tampouco me dado o tempo que devia pra escrever e escrever...
Veja só: são 2h20' da manhã... Isso lá é hora de escrever??? Justamente, à véspera de eu me propor a voltar a ir pro asfalto, ainda que de bike?
Mas o que eu escrevi pro meu filhão, falava sobre ele estar sobre uma ponte. Momento de passagem. Nem lá, nem cá. Sobre. Vendo coisas acontecerem fora dela, sem poder ir de um salto, numa rapidez pretendida pra viver o que se vê outros vivendo. Sobre vislumbrar o horizonte, mas estar sobre uma ponte na qual, tem que se tomar cuidado pra nem cair, nem deixar de socorrer aquele com quem se cruza neste caminho. Sem passar indiferente aos outros. De perder o tempinho necessário pra dar uma palavra a quem precisa, a mão pra que esta prestes a cair, ainda mais, sendo ele um adolescente que tem amigos adolescentes que passam, também, por este momento de passagem.
Então, me flagro! Estou eu, também, neste momento de passagem! Acho que a etapa passada, eu dei um baita pulo, pulei etapas e saltei direto do vale pro alto de uma montanha tão cobiçada. Num período muito curto de tempo, de caminhante, virei maratonista. Em 2006, eu nem caminhava. Foi em maio que comecei a comparecer no lago, bater ponto, olhando com admiração os corajosos corredores... Um ano depois, arrisquei os primeiros trotes! Levei quatro meses pra dar uma volta no lago... E um ano depois fazia a primeira meia maratona. E depois de mais um ano, a primeira maratona. Comparo isso com algo como ter tomado um impulso daqueles, tipo jump, estilingue que te jogam de uma vez lá pra cima. Daqueles brinquedos de parque de diversão que eu sempre adorei e que dão uma adrenalina daquelas! Quando eu me dei por mim, tinha percorrido os tais 42,1956km... Dio mio! Como é que eu aguentei? Tenho uma frase que gosto muito; "Quando as pernas não puderem mais, deixe o coração levar..." Pra quem treina pra uma maratona, sabe que a cabeça é o equilíbrio, é o que manda e não deixa a peteca cair. Se a gente não tiver trabalhado bem a cabeça, todo um belo trabalho técnico pode ir por água abaixo, como barco de papel... As pernas têm que estar treinadas, é fato! Mas depois de umas horas, sejam duas, sejam quatro ou seis, as pernas apenas repetem um movimento mecânico de "umpassooutropassomaisumpassomaisumoutro"... Corremos no "stand by"! Quase numa mecânica tão automática que se um mosquito entrar na frente, ser perigoso tirar o nosso ritmo e nos atrapalharmos tanto que o fluxo é bloqueado e dar pane... É exatamente aí que entra o que chamo de "chama" que vem lá de um profundo da alma que cérebro nenhum compreende! É a hora do coração entrar em ação! É isto que empurra gordinhos, ex-cardíacos, "senhorasdonasdecasa", anônimos de todos os gêneros e infindáveis características e tribos a levarem seus “corpitchos” avante e concluírem uma maratona! Concordo com o Tomaz da Contra Relógio quando diz que a maratona, hoje, perdeu um pouco do seu glamour, pois concluir os 42 em 6 horas é algo muito mais viável e palpável. Em tempo, racionalmente falando, é correr os primeiros 21 em trote e prosseguir caminhando em passo largo e rápido, a 7km/hora. Possível em seis horas, sim! Mas há de se dar o devido crédito de pessoas comuns se permitirem encarar o asfalto, sol, chuva, suor pra irem até o fim dos longínquos 42,195, lá looooonge, como diria o Shrek, naquele pais tão, tão distante... Ter a coragem de se colocar no meio de um mundaréu de gente mais treinada, ser ultrapassada pela grande maioria e, mesmo assim, prosseguir, a despeito de ver as ruas se esvaziando e até ouvir os incentivos ou os comentários de mau gosto do tipo que denunciam que todo mundo já passou e “o que é que você ainda está fazendo ali...” Concordo... Não é o mesmo de nós, também simples mortais, nos submetermos a treinos e mais treinos, km e mais km debaixo de sol e chuva, frio e calor pra fazermos “com decência” uma maratona completamente correndo, sem andar. Mas... Cada um é cada um e a palavra “DESAFIO” para cada um tem uma conotação diferente. A individualidade, graças à Deus, ainda é o que nos difere e faz com que cada um seja especialmente único...
Hoje, por ter ido rápido demais, tive de voltar etapas. Cuidar dos machucados que colhi por ter me empolgado além da conta. Voltei pra ponte! E daqui, aprecio os que estão à frente! Não digo que não queria estar junto. Lógico que queria! Mas todo tempo há algo inédito que se ganha, que somente quem está naquele exato espaço do tempo pode sentir... Não sei se poderia chamar de conformar-me, ou “apacientar-me”. À todo momento, damos de topa com um “muro dos 30” a nossa frente! O obstáculo maior, Aquele que nos parece intransponível! E somente topando com ele de frente que saberemos como agir para transpormos e saborear com prazer a chegada.
Sabe, estou aprendendo que melhor que ter um sonho realizado, é ter desenhado outro, por onde outros poderão passear! Talvez o meu papel neste mundo louco das corridas não seja o de ficar lá no topo dando a mão e as boas-vindas a quem chega, mas seja o de FICAR NA PONTE...
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