Vamos conversar?

Vamos conversar?

sábado, 30 de junho de 2018

Surpreenda!


Ogro que se revela príncipe.
Príncipe que se revela Ogro.
Calmaria que esconde tempestade.
Tempestade que antecede a calmaria.
Um vazio imenso e profundo. Necessário para se guardar tesouros inimagináveis.
O incerto. O duvidoso. O nada provável. Contrastando com certezas nada aparentes.
Um ontem vivido. Um caminho a frente no hoje indefinido. Que preparam o amanhã que surpreende…

Uma miscelânea. Palavras. Meias palavras. Palavras e meia. A delícia de escrever é poder dizer sem, exatamente, dizer tudo. Um processo que só é completado com o lado de lá. De quem lê. Eu posso escrever o que eu quiser do lado de cá. Aquilo que eu quis dizer nunca é captado integralmente por quem lê. E vice-versa. É a dança do tempo. Do presente-futuro. Do agora e o daqui-a-pouco. A tal da imprevisibilidade. Você nunca é capaz de prever!

A cada parada minha, exatamente como esta neste exato momento, olho em volta. Me surpreendo. A maioria das coisas que imaginei não acontecem do meu jeito. E um bom tanto de coisas me surpreende no caminho, inesperadas.

Não é questão de esperar de braços cruzados. Off course que não! Mas esta tal flexibilidade que verga galho verde e que galho velho não tem… Ahhhhhhhhh…. Faz uma diferença danada!

Prever o instante futuro, esperar o acontecimento previsto é, no mínimo, extremamente chato!

Tá. Certas coisas, muitas, eu planejo, sim, porque quero que aconteçam. E se eu não traçar o caminho, medir os passos, esperar somente o acaso me conceder, posso esperar sentada. Sem previsão de entrega do pedido. Caminhar para o alvo faz parte. Do desejo. Do mover-se. Do alcançar. Desejos nos movem!

O que penso? O que quero dizer quando digo “surpreenda”?

Não fechar caixas etiquetadas de entregas pré-determinadas. Não usar o mesmo perfume a vida inteira. Praticar o desapego. Doar objetos, roupas, sapatos, bolsas, o supérfluo e o usável. O que dispensa e o que reflete o seu exagero, o seu excesso em manter coisas demais junto de si. Quer ver?


Tenho óculos. Uso óculos e não uso. Agora, resolvi usar. Confuso? Miopia resolvida por lentes de contato que, quando usadas, atrapalham enxergar perto. Solução? Uma lente pra ver longe. Outra pra permitir ver perto. Mas… Sempre mantive óculos estepe. Aqueles que quando não tem jeito mesmo, uso. Aí tenho um estoque de óculos! Pra sair Patricinha, sair esportivinha, escuro, espelhado, degrade, sem ser de sol, de grau, pra longe e perto, só pra perto e tal. Aí, quando vou fazer a mala… São, no mínimo, cinco caixas de óculos. Agora, consigo reduzir para quatro. O problema são as outras dez e tarará nas gavetas… Precisa? Não, né! Já me prometi juntar todos os graus vencidos que podem ser úteis um dia, “caaaaaaso eu precisar”, e descartar. Não vou usar.

Outro exemplo?

Meus brincos sem par. Ridículo, né? Pra que guardar? A não ser que eu lance a moda de cada orelha, uma sentença. E use o que quiser. Aliás, não sei porque insisto em guardar brincos que me machucam, que se usar umas horas no dia, me cortam a orelha. Dilaceram o furo.

Estarei, eu, falando mesmo de brincos?
Estarei, eu, falando mesmo de óculos vencidos?

Esta historinha de hoje está me surpreendendo… Imaginei uma coisa e os dedos estão conduzindo a outra… E na fala que mais me fala, a metáfora, encontro um sentido escondido.

Pares de brincos perdidos. Já foi. Já era. Cada qual teve seu par. Usar com outro qualquer vai destoar. Pode ser brinco acessório, mas não par. Descartar.

Óculos vencidos. Ajuda numa emergência? Ajuda. Mas dá o foco real? Não. Deforma a imagem. Embaça a vista. Pode até ser que o grau seja o certo. Mas… E… E aquela armação nada a ver que deforma, não a imagem, mas a tua cara? Óculos quando necessário tem de ornar com a pessoa. Reflete ela. Diz muito dela. Tem de sem uma continuidade. É a nossa cara com algo na frente que tem de condizer com a gente! Hora de pegar graus vencidos, armações horrorosas, óculos com lentes trincadas, riscadas, visões deformadas e jogar tuuuuuudo fora. Sem dó.

Vamos adiante?

Calçados… Na necessidade, costumam ser reaproveitados por outros, quando doados. Quem necessita, se adapta. A necessidade faz com que moldemos nossos pés às formas de sapatos velhos para poder caminhar. E sapatos novos nem sempre calçam como uma luva. Um tempo pode ser necessário a ambos, pés e calçado, se ajustarem e se moldarem um ao outro. E no armário? Sapatos velhos que não são dispensados por nada, pela sensação de conforto que nos dão. Alguns, pegos no impulso, bonitinhos ou baratos (???) que nada tem a ver com serem, realmente, necessários. Aí, aquelas duas prateleiras no armário, se tornam minúsculas e insuficientes para tantos sapatos que tem uma mulher… Então, vem a pergunta. Que tipo de mulher você é? (cabe aos homens, esta pergunta, também!) E se você se fizesse a pergunta: quantas vezes no ano vou usar? Quando eu usar, somente este calçado pode ser usado? Tenho outros pro mesmo uso? É necessidade ou futilidade? Hummmm….

Interessante que enquanto eu escrevia, ia transferindo cada figura a figuras na vida da gente. Veja só.

Brincos poderiam ser nossas parcerias. De trabalho. De amizades. De vida. Em algum momento, perdemos o par. Alguns outros podem se parecer com o brinco perdido e disfarçar no lugar. Mas não são o par perdido. E nunca serão. O tempo do brinco passou. É preciso racionalizar e manter na caixa de brincos, somente, o que tem par. O que permite a parceria. No mais, é espaço ocupado à toa.

Óculos. Nossas impressões. Nossa fachada. Nossa cara. Nossa aparência. Nosso modo de ver. A nossa visão muda com o passar do tempo. É preciso ajustar os olhos pra não perder o foco. Lentes de grau vencido vão nos embaçar a visão. Armações na cara da gente que não nos representam, não serão usadas. Vão ficar na gaveta. E não vão nos ajudar em nada a enxergar melhor… Óculos tem de ser o exato reflexo do nosso olhar. Senão, não tem serventia.

Sapatos. Calçados. Merece uma história a parte. Enquanto escrevia, parecia estar falando de pessoas que se unem a nós em nossas vidas.
Quem não tem aquele sapatinho velho que não dispensa por nada neste mundo? Aquele amigo antiiiiiiigo que, às vezes, parece saber mais de você, do que você mesmo?
E as aquisições enganosas? No estilo: Bonitinho, mas ordinário? Sem qualidade nenhuma, só cores, fachada, vendem uma imagem que nada têm? Chamam a atenção, mas são como bola de sabão! Pof. Nada dentro…
E as ofertas imperdíveis? Que fisgam naquele segundinho de bobeira, só porque é baratinho? Você já tem em casa. Não precisa. Não vai ter utilidade. Mas é baratinho. Pronto. Feita a bobagem. Pega sem precisar. Mas não te acrescentam naaaaaada! E só fazem ocupar espaço no armário. Espaço que precisa ser compreendido como o ar a ser respirado.

Comecei escrevendo “Surpreenda” mas dá, tranquilo, pra mudar o título. Armário e gavetas dos desnecessários. Faxina mental. Mas vamos brincar mais com a palavra pra terminar.

Surpreenda. Quem são suas primas? Compreenda. Apreenda. Surpreenda. Bem nesta ordem. Ter entendimento sobre. Trazer pra si. Ir além. Pra que nem o armário seja um caixote previsível de objetos e pertences em desuso. Nem as gavetas tenham a incumbência de enxergar por você. Desfocadamente. Nem a vida nos seja uma caixa etiquetada com conteúdo, datas e locais a serem entregues escritos num papel do lado de fora.

Surpreender é um ato de sobrevivência! De ousadia descarada, meio desesperada, meio descabeçada, ato heroico de ou isso ou morro. Porque aceitar a mesmice, o perfume de sempre é não arriscar e experimentar novos aromas. Usar sapatos apertados por medo de tentar novos. De se conformar com a vista de dentro de uma janela embaçada pela chuva, pela sua própria respiração, por medo de se molhar, medo da gripe que talvez venha, medo, medo, medo… Surpreender é jogar coisas para o alto e, ao contrário do que se diz, não é largartudoeir. Pode ser que seja o instante exato de ganhartudoporterousadoir.

7 comentários:

  1. Interessante esta reflexão. Me fez pensar e pesar pra que guardar

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    1. Meio o pensamento... Cada espaço ocupa um passo. Cada passo necessita de espaço

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  2. Surpreendente a necessidade do desnecessário!

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    1. Ahaha! Gostei do trocadilho! Ando na vibe do "menos peso"

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  3. Assim é a vida,guardamos sempre mais que o necessário... E isso acaba pesando muito e consome nossa energia, às vezes nos deixa míopes

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  4. Amei
    como me identifico contigo.
    Amei estar, no tempo e no espaço.
    Sentir cada passo, respirar o espaço, e viver o momento.
    😊❤👌

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