Sou do tempo que ouvir música era de rádio AM. Ou de vitrola, ou radiola. É lá em casa, havia um móvel muito chic para a época, onde via meus pais colocarem discos de vinil para ouvir. E pude ouvir historinhas em disquinhos, também.
Quando o disco por algum descuido riscava, a agulha de tocar não conseguia mudar a volta. E tocava repetidas vezes o mesmo trecho. E quando se gostava muito de uma música só, ficava se colocando a mesma música toda hora. E diziam que ia furar o disco de tanto repetir.
Coisas daqueles tempos.
Tenho de me policiar. Porque cheguei ao ponto de me falar, a mim mesma:
- Muda o disco!
A gente, se não se cuidar, gera uma repetição de assunto chato. Papo repetitivo. Disco riscado. Aí, é preciso perceber e decidir mudar o disco.
Problemas, todo mundo passa. Mas deixar que eles sejam o principal assunto das suas conversas, vamos combinar… Uma falta de assunto enorme. Chover no molhado. Parecer galinha da’angola que só sabe repetir “tôfraco-tôfraco-tôfraco-tôfraco…”
Eu já tinha a percepção. Mas quando via, lá estava eu, de noooovo, respondendo a um educado “tudo bem?” com a minha conversa fiada. Repetitiva e chata. De “coitada de mim”... Sério mesmo? Sério. Lamuriar dores, males passados, os destemperos da vida. E aí, o monstro só cresce. Infla e multiplica de tamanho. De tanto ser lembrado e falado, ganha uma importância que não tem. Bom mesmo é dar importância ao que tem importância! Lembrar e falar aos outros de coisas boas. Uma coisa puxa a outra. E ao invés de contar pela quinquagésima vez o que de ruim lhe aconteceu, conte tantas coisas boas que lhe aconteceram. Há muitas! É só afiar os olhos pra enxergar…
Ademais, você já deve ter cruzado nos seus bons dias com aquele tipo de pessoa que para responder a um bom dia, grunhe. Não dá um sorriso. Ou conversa apenas lamúrias…
Então. Eu percebi que nestes dias, este alguém era eu! E decidi mudar o disco.
Os problemas acabaram? Não.
Injustiças, fofocas, provações e privações?
Sempre existirão. Mas elas só ganham espaço e tamanho se a gente permitir.
Se nós mesmos agirmos como disco riscado que não muda a fala, a música, a cabeça da gente se enche da mesma frase e passa a repetir feito papagaio. E achando que só isso que existe.
O disco tem muito mais. Outras músicas. E tem até o outro lado pra tocar. Se for um vinil. A vida também. Mudar o disco riscado , uma necessidade. Senão, a máquina de tocar pifa.
Ninguém aguenta a mesma música rodando repetida sem parar. Se o disco não estiver bom, liga o rádio!
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