Vamos conversar?

Vamos conversar?

domingo, 31 de julho de 2011

Por que inventaram o escrever?

Vou ouvir mais a voz do coração. Prometo! E já me resignei: minha casa nunca será um primor, impecável e tão arrumadinha porque muitas das vezes que intenciono organizar a bagunça “visível”, a bagunça invisível, interna grita e pede para falar e ser posta pra fora. Conclusão: apesar das minhas juras de que ontem seria o dia “D” em que eu não sairia de casa enquanto eu não organizasse toda a bagunça e pusesse ordem em papéis, contas, roupas espalhadas, havia tanta e tanta bagunça interna pedindo – implorando – para ser enxergada que estou até agora que nem chafariz!!! Espirrando fluídos e jatos de letrinhas cuspidas para fora!
Explico: comecei o dia com uma missão que recebi. Transcrever sentimentos. Mas não os meus. Os de uma pessoa que me pediu para fazer por ela. Porque o que falta a algumas pessoas não é, de maneira alguma, o sentimento. Mas o saber escolher e tecer com as palavras a trama que o revele, o transmita ao outro. Conhecedora da minha paixão pelas letrinhas me incumbiu dessa missão. Em duas breves conversas me expôs o que pretendia dizer. Anotei palavras chaves. E, desejando cumprir esta missão que, particularmente, me é muito mais prazerosa do que arrumar a casa, acordei empolgada e decidida em fazê-lo!
Sem entrar em grandes detalhes sobre o que escrevi, mas sobre o que aconteceu devido ao que escrevi, hoje, mais uma vez, ao invés de pegar quaisquer cinco minutinhos para me dedicar a organizar a bagunça adiada e adiada, acordei sem grandes pretensões, porque vou daqui a pouco trabalhar (Sim! Num domingo! Porque alguns sacrifícios são precisos sem serem assim, tão intransponíveis!). Tomei aquele café da manhã, papeei um monte com meu filho e ao saber que teria algum tempinho a mais antes de ter de sair, a sede de letrinhas falou mais forte do que qualquer outra. E cá estou eu para dedilhar sobre algo que mexeu tanto comigo.
Escrever é uma arte. Alguém duvida? Porque se bem usadas, as palavras fazem viajar tanto quanto o fazem as imagens colhidas ou representadas por quadros, desenhos e fotografias. Incitam lembranças! Assim como o fazem os aromas, os perfumes que numa mágica inexplicável, buscam lá do fundo da alma a suave lembrança de um tempo onde ele foi sentido ou percebido. Seja o perfume que um antigo amor usava, o cheiro gostoso da comida da avó que cozinhava no fogão à lenha, o cheiro da chuva que remete à infância sapeca dos banhos de chuva, ou do mato, do mar dos lugares por onde se passou. As palavras traduzem os momentos. Levam por caminhos. Indicam passagens. Transportam aquele que lê aos sonhos e dos sonhos às conquistas. Pelo simples fato de poderem ser uma ferramenta da alma. Exagero meu? Pode ser! Atribuir às palavras tudo o que se atribui à alma. Mas ao fazer isso, o que pretendo é dizer que as palavras agem como porta-voz. Expressam! Põem fora aquilo que não se pode fazer, quando o corpo trava, ou não sabe dizer quando se está face a face. Por isso, inventaram o escrever! Para poder dizer depois, antes que se esqueça! Algo imprescindível. Inadiável. Fundamental. Fazer anotações, recados, contas. Registrar aquilo que não se quer perder. Aí, algum poeta inventou de começar a usar as palavras para registrar os sentimentos. Porque ele poderia aceitar até de perder contas no meio do caminho. Mas sentimentos, não! E aí começa o longo namoro entre palavras e sentimentos...
Bem, dizia que aceitei o pedido de transcrever sentimentos! Tenho o costume de ouvir pessoas falando, seja em discussões de assuntos de trabalho, escola, reuniões a respeito de algo a ser relatado depois e ir anotando. Já dando forma e ligando as idéias. É algo que eu faço naturalmente. Capto. Clico, diria. E transporto ao papel. Passei a fazer isso com os sentimentos. Toda vez que eu via algum amigo passando por algum momento onde eu desejasse dizer algo sobre aquele momento marcante, sabia que eu o faria melhor por escrito do que falando ao vivo. Então, passei a alimentar o hábito de falar em forma de cartas às pessoas. Absorvendo tudo o que via e relatando em metáforas, passeando em palavras, pintando e desenhando a tela clicada. Funcionava bem! Conseguia captar flashes que, muitas vezes, a própria pessoa não havia percebido. E cada vez eu fui me apaixonando mais e mais pelas palavras. Meu namoro com elas continuou e como num caso de amor complicado e paciente, fui displicente, muitas vezes, deixando de lado isto que fazia tão bem. A quem escrevia e a quem lia. Mas aquilo que é inerente na gente pode ficar ali, paradinho, quietinho. Mas não se cala. Não morre. E, se abafado, num efeito contrário, explode tal qual vulcão!
Seu eu fosse um pouquinho mais disciplinada, escreveria todo dia! Pois todo dia me pego falando sozinha, viajando em histórias, em conversas, em cartas que falo sozinha, quando tenho algo latente querendo ser posto para fora. As pessoas que convivem comigo acabam sabendo disso. Algumas conhecem um pouco do que escrevo. Nem sempre isto é tão visível ou claro. Escrever revela. Pôr-se no papel é um misto de ousadia. Pois se diz e não se diz. Escreve-se também nas entrelinhas...
Então, neste final de semana, passei por uma experiência inédita! Já havia escrito sobre os sentimentos dos outros, mas de forma a lhes falar de mim para eles. Mas transcrever os sentimentos de outra pessoa para outra além era novo para mim. Queria acertar! E os caminhos foram ditos. E uma regra dada; na primeira pessoa!
Bem, não tenho dificuldade alguma em viajar nas palavras. Creio que de alguma forma, dei uma de ator que incorpora o papel e representa tal qual manda o script. Senti o sentimento relatado. Vislumbrei as passagens. Escrevi. Não estava ainda tão certa se havia escrito demais ou de menos. Mas concluí. Mandei uma mensagem avisando e comecei a me embrenhar em outros escritos no dia.
A minha surpresa maior aconteceu, então, ao final do dia. De tardezinha, já escuro e no meio de uma chuvinha fina, na estradinha que me levava onde meu filho estava, tocou meu celular. Parei no acostamento. Era a pessoa para quem eu havia escrito por ela. Ela havia acabado de ler! Estava emocionada. E conseguiu emocionar-me, tal e qual! Pois disse para mim que eu havia conseguido captar exatamente o que ela escreveria se soubesse usar as palavras certas para escrever... Que mesmo com o pouco que conversamos, com o tão pouco que havia ouvido, tinha conseguido pegar a idéia, o sentimento e por pra fora tantas coisas que ela sempre gostaria de ter dito! O que mais me surpreende é que não é uma história que eu conheça tanto assim! A propósito, eu não tenho o hábito de conversar sobre. Mas não é a capacidade de eu ter conseguido absorver a idéia e transcrevê-la que me impressiona. É o que as palavras proporcionaram! Fizeram a conexão dela com aquele a quem ela queria expressar seus sentimentos. E reforço, de novo! Pois alguém poderia duvidar e questionar a validade de se pedir a outra pessoa para escrever por ela. Eu digo! É válido! Porque o que está em questão não é o saber expressar o sentimento em palavras. Mas tê-lo lá dentro! Sentir cada emoção confessada! Poderia parecer estranho, mas quando ela me pediu, compreendi seu pedido. A ânsia de dizer, sem saber como. E posso dizer agora, quanta honra foi a de falar por ela sobre seus sentimentos... Que prazer é o meu ajudar alguém que ama tanto, sem saber como dizê-lo, assumi-lo e expressá-lo em palavras. Porque quem vai ler não tem de se apaixonar por quem escreve. Mas por quem sente! E torno a me deslumbrar com o poder que tem as palavras. Pois podem fechar portas ou abri-las. Conectar ou desconectar. Aproximar ou afastar. E transmitir as mais profundas emoções quando o tempo não permite que os olhos falem por si mesmos.
Então, me pego com o coração comprimido por perceber que há muito ainda a ser dito. Por ela, por mim, por tantas pessoas que reprimem seus sentimentos, acuadas pela falta de tempo ou de coragem para recusarem a máscara pregada à força na maioria das pessoas. O riso forçado, no lugar da simpatia espontânea. A austeridade, no lugar da firmeza. A seriedade que afugenta, no lugar da sabedoria que acolhe. E cada vez mais, as pessoas têm medo de demonstrar suas emoções. Cumprem os papéis que lhes são incumbidos e anestesiam-se para sobreviverem ignorando que possuem sonhos... Sonhos de amor, inclusive! E relutam em ouvir a si mesmas, crendo veemente que resistirão. Até o dia em que percebem que o tempo é cruel, SIM, co aquele que é cruel com ele também. E que não permitem que ele aconteça no tempo dele.
A conversa vai longe... Mas eu precisava registrar aqui. Que escrever para mim é um grande prazer! Que transcrever sentimentos é algo novo que eu nunca havia feito, mas que mostrou para mim a grandeza de sentimentos de pessoas que eu nunca havia tido a oportunidade de conhecer de verdade. Que expressar é uma coisa. Sentir é outra. Que podem andar juntas. Mas que nem sempre quem expressa o faz, sinceramente. E nem sempre quem não sabe exprimir não sinta. E me fez parar para pensar que posso ser muito injusta ao julgar sentimentos somente pela capacidade da pessoa em colocá-lo em palavras. Amor pode ser vivido em ações, em gestos de atenção, em demonstrações de cuidado e nem sempre vêm traduzidos em palavras às claras. As atitudes, muitas vezes, são mais importantes do que as declarações. E que, na vida, assim como nas linhas, é preciso saber ler nas entrelinhas...
Uma boa leitura para você!

4 comentários:

  1. Ahhhhh Susi-poeta, coração grande!!!!!!!

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  2. Captou a mensagem, né? o findis não foi de faxina na casa...Foi na alma!!! E se produziu!!!

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  3. Valeu muito mais essa arrumação que a outra. Na verdade, isso foi um banho de chuva, lavou a alma. Parabéns Susi!

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  4. Ahhhhhhhhhhhhh... Ricardo... como falei, a casa (física) vai ficando... Mas a casa (ALMA) tem tinido de alegria de eu ir, aos poucos, retomando esta faxina... Thanks!!

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