28 de fevereiro.
(Mais um escrito do celular, de dentro de um ônibus, em viagem...)
Ha quanto tempo eu nao fazia isso! Sozinha numa rodoviaria totalmente desconhecida? Remete-me direto ao tunel do tempo, quando e onde isto aconteceu pela ultima vez...
1984, janeiro, em Joinville. Estou voltando de ferias com meus pais de Barra Velha e meu pai me deixa na rodoviaria para eu pegar o onibus ate Jaragua do Sul, para eu ir passar ferias com meu namorado, na sua casa, com sua familia. Começo de uma longa historia de amor... Um capitulo a parte a ser escrito. Ou reescrito.
Bem, estar aqui pode ser um começo tambem de uma historia a ser escrita. Destas que mudam, drasticamente a historia de quem a escreve. Me faz reviver um velho sabor, a tanto não experimentado. Viver algo totalmente novo. Estar numa rodoviaria nunca pisada para ir a um lugar desconhecido. Estar diante de varias plaquinhas indicando destinos tão longinquos, de nomes nunca vistos. E vejo: que vastidão imensa de caminhos a ir a partirt dali.
Me vejo de mochila nas costas, pegando onibus para ir para pontinhos infinitos... Me vejo, de novo, podendo decidir estar num ponto de partida! Para uma infinidade de lugares. Basta sair de casa, mochila nas costas, desejo no peito, o medo do novo deixado para trás. E uma ansia de sair de uma imobilidade que aprisiona, o resgate do espirito que me punha na estrada, buscando lugares nunca vistos, a coragem que me leva a seguir. Que mostra que não é preciso muito para viajar. Me recoloca em viagens que eu fazia com amigos para conhecer lugares maravilhosos, parques na serra, reservas em montanha, praia, onde os olhos cintilam deslumbrados diante de tanta beleza! É uma viagem no tunel do tempo. MEU TEMPO!
Muito mais do que uma viagem que me leva de um ponto a outro no espaço. Pressinto e espero, com toda esperança que me é possível, ser o destrave para eu ir. Retorno ao exato ponto onde minha essencia despertou. O gosto andeiro de gostar de passar lugares nas janelas dos meus olhos. Poeira no chão. E volto a crer que ainda posso, não importa como, se de carro, onibus, ou quem sabe, a pé ou bicicleta, sozinha, acompanhada, rumos certos ou não, sinto volver dentro de mim um desejo já esquecido...
Viajar sem destinos nomeados, sair conhecendo lugares, conversar com pessoas desconhecidas. Casar a viagem para longe com aquela só minha, para dentro de mim mesma. E me encanto em ver a razão das coisas. O porquê dos fatos, a sintonia que explica. Ao término da tão sonhada viagem de minha filha, eu mesma me acho. Me reencontro comigo mesma. Por desejar encontra-la na sua chegada ao Brasil, me ponho sem hesitar, sem titubear, comprando passagem para um meio de mundo, uma vez que não é o fim do mundo. Pode ser, apenas, o começo dele...
Não me paraliso diante de dificuldade alguma. Não enxergo obstáculos. Faço! Estou numa estrada desconhecida, vencendo amarras invisíveis que me prendiam os pés sem eu ver. Recoloquei o pé na estrada para vir encontrá-la. E veja só: ao desejar encontrar-me com minha filha, qual não é minha surpresa ao ver que a Susi que está indo encontrá-la é uma Susi deixada a algum tempo lá atrás. E o encontro, primeiro, é comigo mesma!
O amor faz destas coisas. Ao fazer algo por quem se ama, descobre-se que quem recebe é a gente mesmo... Para começar qualquer caminho, ir ao encontro do que se busca, é preciso, primeiro saber de onde se está partindo, seu lugar, seu tempo, a pessoa que você, ESSENCIALMENTE é. Para não se perder de si mesmo.
Estou no exato espaço do tempo onde as coisas começam a acontecer. Sem mistério ou segredo algum, no HOJE, no AGORA. Resta seguir, sem retroceder...
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