Vamos conversar?

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sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Comemorar a vida.



Outro dia, falei a um amigo "Se puder, venha ao lançamento do meu livro! Melhor ao lançamento do que ao meu velório!"

Não era um joguete de vitimismo ou mimimi pra chantagear. Era a pura verdade. Convidei pra comemorar algo comemorável em vida. Porque ir no dia da morte não vai me fazer diferença nenhuma…

Hoje, eu comemoro a vida mais do que nunca! Completo 53 anos! Cinquentaetrês. CincoPontoTrês. O meio século já está ficando pra trás. O que me reserva o meio século à frente?

Chega uma hora em que todas as coisas que ficaram pra trás fazem, simplesmente, o que dizem que fazem: FICAM PARA TRÁS.


Fui ganhando amigos preciosos no caminho. Engraçado que alguns passam tão rapidamente que chegam a ser sutil presença que perdura. Que passam como brisa breve e curta. Mas parecem atravessar oceanos de lonjura, permanecem comigo pelo cultivar de palavras amigas, palavras que fazem divertir, fazem refletir, fazem acalmar, fazem acalentar e enriquecer. Enriquecem nosso coração. Somos capazes de acreditar em bem sem olhar a quem. No amor da inutilidade. Sim. Você quer bem sem o outro lhe ser útil. Você gosta sem que o outro te sirva para algo. Você ama porque ama, sem ter explicação de utilidade, aquela lista de motivos que você pensa quando quer escolher amigos ou amores.

Engano seu.

Gostoso mesmo é ter amigos que não te chamam porque precisam de você pra fazer algo. Porque precisa da sua companhia pois sozinho não vai. Porque você sabe algo que ele precisa. Porque você passa segurança, conhecimento, ajuda.

A inutilidade nos isenta! A inutilidade que somos ao outro nos dá a passagem do gostar sincero e desinteressado. Do querer saber notícias do outro e não informações. De querer ficar de papo e não na obrigação de ver uma mensagem chegar e terderesponder.

A inutilidade nos dá o convite para o prazer. Nos tira da desconfortável cadeira de espera de ser chamada porque precisam de você. E nos bota na cadeira da montanha russa, da roda gigante, do carrossel. Porque não precisamos sentar numa cadeira de diretor, de professor, de advogado, de médico, de paciente. Não temos função nenhuma. E estamos porque queremos. E não porque precisamos.

É um prêmio, sabia?

Poder ser anônimo, inútil, desnecessário nos dá um passaporte para a espontaneidade. Do agir pela vontade. Da amizade por autenticidade.

Muitas coisas ficaram pra trás. Mas não há lamento. Há alívio de peso. Há desapego. Há um corpo livre e leve para alçar vôo pelos passares. E poder completar anos sem pesos, comemorando a vida, sem espiadelas para trás, me faz receber a brisa e a ventania de peito aberto. Pronta, livre e certa de que o quê vem é meu. O que já foi, partiu, encerrou seu tempo no meu caminho. 

Todas aquelas pedrinhas que surgiram no caminho tiveram seus destinos. Serem degraus. Virarem poeira. E de tão pesadas que eram em si mesmas, não decolaram. Grudaram-se ao chão. Vôo raso, pobrezinhas. Não foram feitas pra voar.

Eu vou com o vento. As tempestades, enfrento.
Não tenho medo. Quem me cura, o tempo.

A vida me oferece presentes e eu abraço.
E, hoje, eu escolho os amigos. Eu escolho os caminhos. Eu miro o destino por onde quero e pretendo chegar.



Cinquentaetrês é o que foi.
O que me faz brilhar os olhos é esta medida incerta a ser desvendada à frente.

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