Vamos conversar?

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domingo, 20 de maio de 2018

Enquanto o sono não vem


Definitivamente, falta de sono nunca foi meu problema! Ouço muita gente reclamando de insônia. Eu? Tenho lá a minha fama de encostaedorme…

Mesmo sendo uma boa dorminhoca, não no sentido de dormir até tarde, pelo contrário, eu era muito boa de madrugar cedo pra fazer coisas que gostava muito, mas pra pegar fácil, fácil no sono, algumas vezes, atravesso madrugadas adentro, inventando fazer algo que esteja muito envolvida. Pode ser, desde uma super faxina na casa (sim, faço destas!), até ver vídeos de viagens, ou documentários, tipo… três horas seguidas, ininterruptas e olhe que não estou falando de seriado!

Tá. Reconheço. De novo, minha velha mania. Meu maior defeito. Exagerada. Sem medida ou meio termo. Vai e vai logo fazendo um monte de vez. Depois, fica remoendo o excesso feito…

Algumas historinhas do blog, escrevi na madrugada. O livro que está enroscado e está virando lenda, escrito em madrugadas durante a viagem, literalmente! De escrever à noite e dormir com o celular na mão, capotada. E de apagar antes, cansada, acordar de madrugada, com o texto pronto na cabeça, sedenta de por pra fora e, acesa, acordar e escrever sem parar até esvaziar e dormir de novo, feliz da vida, até amanhecer…

Ando ansiosa. E improdutiva! Costumo dizer que as histórias nascem das mais diversas formas. Às vezes, uma imagem casual dá origem a uma frase que anoto e escrevo depois. Às vezes, a cena é captada numa fotografia e viajo nela… No pensamento, no sentimento que me invade e me rende uma bela história. Às vezes, numa prosa à toa, ouço uma frase que ressoa, ecoaoaoaoaoa…. Impossível esquecê-la. E dela nasce outra boa prosa.

Tenho perdido histórias. É possível? Estou deixando o vento levar. O vento, este amigo do tempo tem me roubado minhas histórias. Puro relaxo meu. Que escuto o sussurrar e não dou bola. Adormeço. Hiberno, na verdade. Um sono profundo que tem anestesiado esta veia minha, que pede por pra fora esta sede de conversar. Me preocupo, então. O que me falta? E grita lá de dentro, uma voz bem audível que reconheço. Sou eu mesma de outros tempos. Exagerada em outro extremo. Organizada no tempo de cada coisa a se fazer. Relógio pra tudo. Tempo pra tudo. Daquilo, me cansei. Fugi tanto deste atropelo louco de cronometrar minutos que, do tempo, amnésia criei. E agora, adoeço da falta dele. Troco a noite pelo dia, talvez, tentando encontrar a vez. “Perdi o trem!” eu gritaria. Perdi a vez, seria. Vez de quê? De soletrar, sem engasgar, sem gaguejar, sem pestanejar a palavra que eu escolher falar.

Tenho perdido a palavra todo dia! Pura falta de tempo! Tempo pra quê? De… Me desanestesiar. Me desconectar de todas tomadas externas, feito bexiga cheia que esvazia. Já viu? Quando você enche bem a bexiga e a solta no ar? Faz um barulho inimitável. Inconfundível. Rodopia pelo ar, louca, num voo cego e incerto até cair. Hora boa! Molenga de tanto ar, sem ser demais a ponto de estourar, está pronta pra outra. Um sopro de cada vez. Inspira. Sopra. Inspira. Sopra. Aprenda. Não dá pra fazer as duas coisas de uma vez. Inspira. Sopra. E se perder o fôlego, é só parar. É preciso. Porque tudo que é demais, ao invés de provocar um voo, faz estourar. Uma coisa de cada vez! Desconectar pode ser isso. Inspira. Sopra.

E enquanto o sono não vem, vem a conversa à toa com alguém. Tenho de organizar pedaços de tempo. Pra eu parar de perdê-los. Tenho a mania de usar demais nisso e deixar aquilo. Como se a vida fosse “Ou isso, ou aquilo”. Não é. Não tem de ser.


Enquanto o sono não vem, vamos contar as estrelas, ao invés de fazer cara marrenta de quem comeu e não gostou.

Enquanto o sono não vem, vamos rabiscar o rascunho do projeto dos nossos sonhos, listar os passos que já caminhamos e aqueles que nos faltam pra alcançarmos o que desejamos.

Enquanto o sono não vem, vamos organizar as gavetas da vida, separar o que ainda se usa, daquilo que precisa ficar. Fazer a faxina da alma, descartar o que não é útil, redefinir utilidades, reconhecer a validade daquilo que vai junto e do que já acabou. Como organizar caixa de remédios, sabe? Isso eu uso, isso já acabou, isso a validade expirou.


Enquanto o sono não vem, vamos andar descalços na areia, enquanto é verão. Senão, botar meias quentes nos pés, fazer chocolate quente e dormir sem escovar os dentes, uma vezinha só, que não faz mal. E se for tempo de flores, aspirar seu perfume. Se for de vento, deixar despentear o cabelo. E se sentir medo de abrir aquela velha gaveta, cheia de monstros jamais vistos, mas todos muito bem descritos por toda gente, alcance algumas estrelas, estas que você contou e jogue lá dentro. Luz espanta escuridão. O doce acaba com o amargo e marrento. E chocolate quente se não fizer o sono vir, aquece as mãos e o coração.

Pode ser que o sono não venha só para você parar um pouco de só sonhar, para começar a realizar. Vai ver, é para que nesta hora de silêncio absoluto, você reconheça sonhos adormecidos, deixados de lado na barulheira da vida. Tipo, ser posto cara-a-cara consigo. E ouvir o cara do outro lado do espelho falar contigo: “É aí, vai encarar, ou vai fugir?”



Enquanto o sono não vem pode, enfim, ser a hora exata pra acordar...

7 comentários:

  1. Sensacional... todos deveriam escrever quando o sono não vem... Deus abençoe sempre sua mente para continuar a escrever e aquecer corações, como o chocolate quente!!!����������

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    1. E chocolate quente é bom demais para esperar amanhecer...

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  2. Ameiiiii!!! lindo texto para refletir,....enquanto o sono não vem, é tempo de criar. super abraço...

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    1. E como... Muitas coisas são imaginadas, sonhadas nestas horinhas acordada... Não é?

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  3. Ameiiiii!!! lindo texto para refletir,....enquanto o sono não vem, é tempo de criar. super abraço...

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  4. Verdade. Dá pra fazer muita coisa... enquanto o Sono não vem!

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    1. Então. Ao invés de lutar contra a falta de sono, sonhar acordado...

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