Vamos conversar?

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quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Abandonado ou abandono?


Folhas no chão 

Displicentemente, denunciam.

Padrões abandonados.

Não são exatamente os de zelo. Que remetem a cuidados para um sentir-se melhor. Mas de desapego ao que mostra o mínimo aceitável. O padrão estabelecido. 


Um desapego de tarefas que feitas, refeitas, feitas de novo, não acabam nunca. Somente reviram e jogam lixo de um lugar para outro. Até roubando um fim ecologicamente aceitável por outro. Estabelecido e sem fim.


A beira da praia de um final de estação, às vésperas de iniciar a temporada do calor indicam o tempo da natureza. As árvores despem-se de suas velhas roupas. Que mudadas de cor, que brincaram do verde vivo, ao verde escuro até virarem amarelo e marrom, vão desenhando seus vôos do alto ao chão. Não é um despejar-se doloroso. Cumpriram coloridamente seu papel. Adornaram as frondosas árvores, formando sombra e frescor no tempo certo.


Mas desapegadas a ocuparem tempo demais, tempo além, transformam-se noutra roupa. Roupa de chão. Chão de areia. Recobrem as beiradas. Tingem o chão. Compõem nova paisagem. Não se fingem daquilo que não são mais. Aceitam sua transformação!


Vai depender do olhar de quem as vê. Incomodados por lixo. Que não deveria estar ali. E pedem que as retirem daquele lugar que não é o delas.


Não?


Naturalmente, acumulam-se umas sobre as outras. Pouco caso. Nem se atém ao incômodo alheio. Acreditam estar onde deveriam estar. À sombra das novas folhas verdes que vêm surgindo em seu lugar. Despejadas sobre o chão, podem mirar acima delas,a beleza refrescante de quem vem para substituí-las. Não há despeito,  descaso, nem confusão. A natureza aceita. O tempo de cada uma.


Observo. Retenho meus pensamentos. Observo.


Talvez, aceitássemos melhor nossos novos papéis em nossas árvores frondosas, sem nos incomodar com as novas folhas que nascem nos nossos lugares, se compreendêssemos que, cíclica vida que é, não perdemos papéis. Ganhamos outros!


Nossas cores externas mudam. Pois teremos novas tons de adorno. A essência não se basta numa  palheta única de cor. Pede mais. 


Então, nessa infindável e rica transformação, feito folhas que alçam vôos, aprendemos a compor nova tela. 


Não é estar abandonado. Mas abandonar as velhas formas e cores que já não nos contém mais.


A palheta de cores riu-se de si mesma. Enfim, descobriu-se imensa. Enquanto perdia tempo lamentando-se da cor que deixou de ser, não era capaz de ver as nuances todas que havia ganho no seu percorrer...

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