Vamos conversar?

Vamos conversar?

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

O que te faz correr pela vida?




Se você pensa que vai ler uma lista infinita de motivos, enganou-se.
A vida se explica por ela mesmo. Correr por ela. Por sobreviver, motivo primeiro. Para estar vivo. Todos os motivos acrescentáveis são, na verdade, razões para dar graça à ela.

Quer ver?



Estive neste dias de cara para isso. Tendo o privilégio incrível, único, de assistir à soltura de tartaruguinhas que tinham acabado de nascer na área de desova do Projeto Tamar.
Havia passado de bicicleta, pelo local do projeto pela manhã, visitando e conhecendo onde é desenvolvido o projeto. E informaram que era possível ter soltura de filhotes à tarde. Pois, pela manhã, já havia nascido alguns e a previsão era que acontecesse à tarde, também!
Saí de lá com a preciosa dica de um restaurante na cidade de Arembepe, ali do ladinho, para almoçar para depois retornar ao local.


Lá pelas tantas, retornei para lá. Na hora prevista, os visitantes foram reunidos para a equipe do projeto dar as explicações sobre o projeto. São dados impressionantes… Que só por si, bastam para compreender tanto empenho pela causa! Desta espécie de tartaruga, a cabeçuda, apenas uma dentre mil chega a vida adulta. São várias desovas no ano. Os números de filhotes que nascem, mesmo havendo uma grande parte que não chega a nascer, também é grande. Mas a relação com o número final de tartaruga adulta assusta. Um para mil!



Vimos no trabalho dos voluntários, junto ao funcionário, de cavar o local da desova, vinte e sete tartaruguinhas surgirem do meio da areia. Vários ovos que não vingaram. Umas natimortas. As tartaruguinhas são colocadas numa bandeja e transportadas para a praia para serem soltas. E, após toda a explicação para que todo o cuidado seja tomado e respeitado, elas são postas na areia.



O que se vê, em seguida é impressionante! Elas devem ter não mais do que três dedos de tamanho. Assim que em contato com a areia, mexem-se freneticamente em direção ao mar. Aquelas patinhas minúsculas se mexendo, movimentando-se para alcançarem a água… Uns serezinhos que acabaram de sair de dentro do ovo. Como podem saber que é para lá que devem ir? Como podem nascer e se atrever a brigar com as ondas vindo contra e jogando-as com muito mais força de volta pra areia e terem a ousadia de se jogarem de volta contra estas ondas gigantescas em proporção a elas, acreditando que vão vencê-las com aquelas suas "perninhas" tão insignificantes? O que passa a acontecer, então, parece ser uma briga injusta, onde aqueles pontinhos escuros vão, incansavelmente, para o mar. Incansavelmente, as ondas vêm violentamente, jogando-as de volta. Assim que "de pé no chão" reiniciam sua marcha para o mar. E nesse jogo de empurra-e-vai, elas vão avançando, mergulhando, acham o ponto na água onde, ao invés de serem jogadas de volta, são engolidas pelo movimento a favor das águas que as puxa para o fundo e conseguem, finalmente, adentrarem para seu novo lar. Do ovo para o mar.



Claro, algumas parecem entrar mais rápido. Por destreza, ou no acaso de pegarem a boa onda, o conjunto de fatores a favor dentro do tempo e do espaço mergulham de primeira para o fundo. A grande maioria fica naquela brincadeira de vaievem. Que talvez, seja mesmo uma brincadeira. Mas nos parece um primeiro jogo injusto de forças. Tantas jogadas na areia e que, prontamente, correm de volta a direção que estavam. Umas poucas vão ficando por último. Uma fica por tempo de barriga pra cima, casco pra baixo, mexendo as perninhas, desesperadamente, sem conseguir se desvirar. A onda a pega, leva mais para cima na areia, uma vez mais e ela vai, feito barquinho, por cima da água e pára, de novo, de casco para baixo. Mereceu uma ajudinha do funcionário que a desvira. E, rapidinho, ela corre para o mar.









Em poucos minutos, fico ali observando, me emocionando e me pego já com os olhinhos cheios d'água. É uma sincera busca pela vida. Um instinto implacável de sobreviver. 

A gente se acha tão superior, o ser racional em meio a seres irracionais e não consegue, tantas vezes, ter a simples, natural reação pró vida como elas. A atitude a favor de viver. A decisão. A determinação, a persistência. A tal da resiliência. A ação que nos faz sermos vivos. E age ao contrário. Se agredindo diariamente, comendo errado, dormindo errado, movimentando-se errado. Ou não movimentando-se. Numa inércia mutilante, não só do corpo, mas da alma. Na direção oposta de viver.

Foi uma cena que, facilmente, não seria assistida. Aquela passagem por ali, o aviso da possibilidade da soltura umas horas após não me mostravam que espetáculo eu estava prestes a assistir! Foi único. E inesquecível. E não haveria como não querer transpor em palavras.

Ter tido a baita lição metafórica protagonizada por filhotes de tartarugas, estes seres tão vinculados a palavras como lentas, vagarosas, de aparência pré históricas, vendo-as tão decididas pela vida foi um balde de reflexão jogado na cara.

Antes de rever listas politicamente corretas respondendo à pergunta "O que te faz correr pra vida?" se pergunte se está correndo pela vida. Se a tua vida e todo o movimento dela te faz viver ou morrer um pouco mais, a mais, a cada respiro. A cada passinho.

Pode ser que nesta briga contra a maré, você esteja apenas sendo fortalecido para brigar melhor, por viver melhor. Pode ser que a briga só esteja acontecendo, por você não ter mergulhado o suficiente para encontrar a maré a favor… Pode ser que o caldo que a onda te dá, seja apenas para testar sua persistência. Se seu desejo é genuíno. Verdadeiro. Porque mar calmo não faz marinheiro. Bonança não ensina viver. Debaixo da maré que te empurra contra, você sempre poderá encontrar a maré a favor. É só mergulhar naquilo que te mantém vivo. Querer viver.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Pronde está indo é pronde quer ir??? Ou Tempo de FastFood e FastFriend



Pois bem. Depois de um longo período off do blog, eu volto.
Pra exercitar e massagear o que mais gosto de fazer. Escrever!

Muitas coisas aconteceram neste período. E meu grande e maior sonho se concretizou. Minha escrita culminou com um livro! E por mais que possa parecer tão parecido com o escrever num blog, não é não!

Teve outros títulos. Mudei. Mudei. Mudei de novo. Enfim, encontrei o título que condizia com ele: Alma Cicloviajante - Uma aventura pelo Vale Europeu.

Eu vou detalhar este processo noutras histórias. O que quero escrever hoje é um pós livro, pós lançamentos, pós realização.

Sobre o tempo.

Para quem pratica um esporte, é como o término de uma corrida. Uma maratona. Ou o término de um jogo de final de campeonato. Um suspiro após tantas respirações ofegantes de "fim-acabou".

Vazio. Vazio?

É o espaço entre o ocupado e o ocupado de novo. A lacuna. O intervalo. É somente o respiro. Pra começar outro algo, em seguida.

A conclusão do livro foi totalmente ocupada com os lançamentos que fiz. Totalmente prazerosa. E extenuantemente exaustiva. Eu tenho o costume de me jogar por inteiro no que faço. Paixão vivida. E não me arrependo nem um pouco.

Viver 100% do meu tempo de férias trabalhando com meu livro me proporcionou viver fartamente o "após" permitido pelo contato direto, teteatete, olhonoolho, faceaface com meus leitores. Falar com eles na platéia das minhas apresentações. Olhar nos olhos que faiscavam denunciando sonhos despertando de sonos profundos… Tive a grata oportunidade de ouvir pessoas que nem conhecia vindo falar comigo sobre suas vidas. Sobre suas lacunas. Sobre desejos esquecidos de vida. Tive o privilégio de ver sonhos serem postos em prática. Tenho recebido diariamente ou semanalmente, feedbacks das leituras.

Sim. A faísca foi riscada. Chamas acesas. Caminhos inciados.

Não é que eu seja a responsável por isso. Ninguém acende aquilo que não existe, previamente. O que acontece são como sinapses. Conexões. Uma reação em cadeia. Entende? Eu tinha, laaaaaaá atrás, alguém que fizesse despertar em mim um movimento lá dentro de incômodo, de interrogação. Que me indagava diariamente… "Pronde está indo é pronde quer ir???"

O que fiz foi reacender minha própria chama e passá-la adiante...

Eu acredito nisto. Por isso, sou tão convincente. Ter convicção do que se fala é o primeiro passo para o convencimento. Para falar com propriedade. Para contagiar quem ouve, ou vê o que falamos e fazemos. É preciso acreditar naquilo que se faz. E fazer aquilo em quê se acredita!

Pós férias trabalhadas, me dei férias. Desconectei. Necessitei me desligar, dormir, relaxar, nãofazerabsolutamentenada. Relacionado ao livro.

Há tempo pra tudo. E estou aprendendo a me permitir ficar invisível de vez em quando até do meu próprio olhar.

É preciso não perder o fio da meada e olhar a volta mais próxima. Pra dentro da gente mesmo. A reconhecer o cansaço, a necessidade básica de sono, por exemplo. De parar de fazer outras coisas importantes, para fazer aquelas outras tão importantes que acabam ficando no final da fila da urgências… Mandar um "oi" a alguém que passou no seu caminho. Perguntar se alguém precisa de ajuda. Sair da embalagem fast food do fast friend que só envia mensagens instantâneas, mas nunca aparece ao vivo e a cores.

Desvirtualizar. E vir-a-atualizar. Ir. Estar. Agora.

A velha frase. Depois pode ser tarde. O tempo não espera. O celular traz mundos pra mão. Mas não é presença real. É virtual.

#friends #friendship #life #lifestyle #on #off #time #timeline #theway #wakeup

📷 Mochilão Portugal MixTrip