Vamos conversar?

Vamos conversar?

domingo, 3 de janeiro de 2021

Você tem medo de viver? Ziguezagueando o caminho

 



Chacoalhar o esqueleto.


Você tem medo de viver?


Não planejo muito as coisas que faço. Algumas, planejo. Mas a maioria e, justamente, a maior parte do que considero presentes que recebi na vida, foram desplanejados acasos que me chegaram. Para quem acredita em acasos.


Para quem não acredita, como eu… presentes!


Bem.


Vou contar mais um pouquinho desta história. Que venho pincelando, vez em quando.


Hoje saí sem bicicleta. É preciso se vigiar para que não se torne o vício nosso de cada dia, aquilo que é feito prazerosamente.


Depois que comecei a saga de achar uma forma confortável e segura de levar o Tufo junto comigo na bicicleta - e encontrei! - tem sido fácil e prático sair com ele. No estilo catarinense de fazer tudo de bicicleta. Algo como se ela fosse um prolongamento das próprias pernas.


  • Vamos passear Tufo?


E dá-lhe por na mala, ou na cesta e sair pra dar uma voltinha… Que, invariavelmente, virava voltona!


Eu sei que ele gosta de ir na bicicleta. Justamente porque paro. Solto. Deixo correr livre. Então, também sei que ele gosta de correr livre sem bicicleta. Naqueles meus rolês no aterro, na praia, em trilhas, no mato, sem fim. Dele se cansar e eu pegar no colo para ele descansar.


Sai sem planejar nada. Queria só pegar um pouco de sol nas costas, nos ombros. Pra tirar aquela marquinha clássica de quem pedala ou corre no sol. E usa mochila! Vesti uma frente única, um shorts curto e fui. Antes, me armei de uma canga para esticar no chão, água, livro, um guia do lugar onde pretendo ir dar um rolê de bicicleta, tudo numa mochila e sai. Sim. De mochila! 🤷🏻‍♀️🤦🏻‍♀️


Já no aterro, mochila na mão, me deu vontade de correr! É uma sensação de liberdade, ver um verde imenso à frente, vento chamando e ir…


Procurei uma sombra debaixo de uma árvore, estiquei a canga, pendurei e prendi a mochila no alto da árvore e fui.


Ia dar uma voltinha na campo de futebol. O Tufo vinha atrás andando, me seguindo. E se perdendo de mim, xereta como é, parando em todo ponto de cheirinho pra cheirar. Ele não ia conseguir me acompanhar. De imediato, comecei a correr em ZigZag no campo. Para ele poder me ver e vir. Indo de uma beirada a outra. De pronto me veio a lembrança: quando eu treinava planilhas de treinos de corrida, os intervalados eu fazia no aterro. E trazia ele. Foi quando marquei seu recorde de corrida: 6 km! Sim. Sem parar. Ele corria atrás de mim. Parava, se distraia, se perdia, eu assobiava, ele dava um carreirão e me alcançava. No final, vendo ele cansado de correr atrás de mim, comecei a fazer os Zigzags. 


Meio louco isso. Mas quem faz o mesmo vai me entender. Quando saio pra correr ou pedalar, me esvazio. Não levo problemas junto. Me desligo. Não gosto de andar e ficar conversando de problemas. Nem andar com celular pendurado na orelha. Parecendo um celular de pernas andando. Gosto mesmo é de desligar do resto. E, com isso, muitas vezes me vêm cenas hilárias na cabeça. E vou escrevendo histórias mentalmente. Que se não paro logo após, imediatamente, as perco. Já até escrevi parte do livro assim. Correndo e falando e gravando no celular. Para transcrever depois aquele momento único de inspiração. Um colocar lá fora algo muito autêntico, Verdadeiro. E que por vir lá de dentro, sei, tem a capacidade de mexer muito com quem lê.


Para quem já correu grandes distâncias em provas e treinos, correr um pouquinho só até parece perda de tempo! Impensável ir correr sem o kit corrida. O aparato que o identica - ou o distingue dos relés mortais. Como falei, saí mais cara de prainha. De crocs no pé…


Comecei andando, me coçando de vontade de correr. Então corri!


Descalça, quase arrancando a blusinha pra tomar o meu solzinho só de top. E chamando o Tufo, assobiando.


Fui pensando…


O aplicativo de GPS ligado para ter ideia do quanto correria, simples curiosidade, ia formar um desenho engraçado… Um ZigZag no campo! E rindo, sozinha, pensei.


  • Quem seria a louca que faria isso? 


Nunca gostei de correr como hamster. Em círculos. Que volteiam, volteiam e não chegam a lugar algum.


O que era aquele ZigZag, então?


Vou explicar!


Ao contrário das voltas que passam, repetidamente, no mesmo ponto de partida, o ZigZag faceiro, displicentemente, faz que vai e não vai. Quase chega e desvia

 Vai de novo e dá volta. Adia, adia, adia. Escritora que sou então, viajo. 


É uma forma toda sua (ou minha) de adiar a chegada rápida de uma linha reta e sem graça. Se o que vale é o caminho e não a chegada, lema de quem já descobriu a mágica de ir no "Ando devagar porque já tive pressa…' andar em ZigZag é dar olés no ponto final. Achar curvas e desvios que, traçando este caminho torto oferecem infinitos novos caminhos. Como se ensinassem gentilmente que a linha reta está mais para figura geométrica do que linha pra escrever história.


Ziguezaguear é a forma de passar por um caminho como se cada pedacinho fosse importante. Que é o que é.

domingo, 27 de dezembro de 2020

Aniversário de mãe

 


Dia da Dona Estela


Hoje ela estaria fazendo 84 anos.

São doze anos sem ela…


E o que dizer disso?


Gostaria de tê-la ouvido tocar mais piano. Mas que bom que tenho tantas lembranças dela, sentada ao piano tocando. E que, mesmo parecendo um repertório desconhecido, foi se tornando uma música para mim, tão presente, como se atrelasse a ela, definitivamente. A música clássica. Aquele repertório que passeava em nomes difíceis de pronunciar para uma criança que estava aprendendo a ler.


Gostaria de tê-la ouvido tocar seu violino. Mas esta é uma resposta que nunca vou ter. Porque foi uma pergunta que nunca tentei fazer. E esta paixão dela pela música, através deste instrumento, eu nunca vou decifrar. Porque me faltou este instante. De perguntar para a Dona Estela. De lhe pedir. "Toca uma música no violino?" Ou de lhe oferecer. "Quer ir consertar seu violino, mãe?"


São cenas. Que contrastam e retratam o ser. O estar. O fazer. O piano foi trocado de lugar algumas vezes na casa. Mas de criança, seu lugar fixo foi junto a uma parede de madeira e ele era transformado em lugar do presépio que ela montava todo final de ano com pecinhas de louça que representam cada personagem da cena. 


Já o violino, era um personagem misterioso do qual, sabíamos a existência, em cima do guarda-roupa dela, escondido. Nunca tocado. Era como se fosse uma área proibida de se chegar, se tocar e se perguntar. E nós, crianças mesmo já crescidas, nunca nos atrevemos a perguntar. Disso, me arrependo. Nunca ter lhe perguntado.


Tenho lembranças dela toda atrevida jugando tênis de campo. Com suas saias curtas, próprias deste esporte. Numa época em que só havia ela de mulher. Lembro dela se aventurando na natação

 Na categoria Master, toda orgulhosa, de aprender a nadar sozinha, autodidata, nadando crawl, costas, peito e borboleta. Porreta Dona Estela. Até borboleta!


Tenho lembranças dela começando a vender Rhodia, Avon, Christian Gray. Natura, depois. E umas outras tantas marcas de catálogo, daqueles que vendem de tudo.


Lembro de suas gavetas e prateleiras cheias. De tudo. E toda bagunça que eu não compreendia e achava exagero e bagunça. E hoje, vejo, era ela. Tal qual ela era. Uma infinidade de prateleiras desconexas para os meus olhos. Mas era onde ela se escondia e se encontrava.

Que eu podia querer entendê-la sem ser convidada? Sem me convidar? Sem tentar olhar e saber?


Lembro de uma cozinha nada exemplar. Que servia, mas não era um modelo de casa arrumada. Mas me lembro das minhas irmãs dizendo que ela preferia ficar com a casa meio bagunçada, sem ser um esmero de limpeza, para estar presente com a gente. Ensinando a ler. A escrever no quadro que ficava pendurado na parede da cozinha. Que nos deixava à vontade para brincar de casinha. E não ficava no pé para deixar a casa um brinco. Porque brinco era um verbo vivido por nós, suas filhas.


Lembro de ter vergonha de levar amigas e namorado em casa. Porque achava a casa bagunçada. Mesmo que eu e minha irmã arrumássemos a casa. Não era igual a casa das mães das minhas amigas. Que naquele tempo, eu achava que eram mais bonitas. Mais arrumadas. E, confesso. Melhores que a minha. E hoje vejo a injustiça cometida. Pois a Dona Estela fugia às normas. A regra do que todo mundo fazia. Ela desafiava o termo e o tempo. Atrevia-se a correr mesmo já sendo "velha"! E ela tinha apenas… 50 anos. E eu, com meus vinte e poucos anos, não era capaz de compreender. Por que minha casa era tão diferente das outras? Porque a dona dela não era comum. Destoava bravamente das mulheres que faziam o de sempre. Acordar, limpar, limpar, cumprir o protocolo da dona de casa que se contentava só com isso. Ela, definitivamente, preferia viver fora de casa. Desbravar. Se arriscar. Mesmo que para isso, seu reduzido tempo a fizesse falhar tanto dentro de casa. 


E, hoje, penso. Será mesmo que falhou? Ou foi justa consigo mesma? Em atrever-se a mão cumprir a regra do comum, do "a ser feito" e usar este verbo no tempo "já feito"???


Sim. Se pudesse, teria criticado menos e teria passado mais tempo na sua companhia. Aceitando-a diferente como era. O que a sua doença me ensinou, a tempo, a estar com ela, incondicionalmente. Com pequenos gestos de presença. De massagem nas pernas inchadas, nos pés que minavam água, por causa de um rim em falência.


Teria, com certeza, burlado mais vezes a proibição do doce. Como fiz, tanta vezes, quando eu soube que não haveria mais volta. Que dali pra frente, era uma questão do tempo ser caridoso com a gente e cruel com ela. Que a cada mais tempo presente para a nossa carência egoísta, de não querer perdê-la de perto, mais ela definhava e sofria. E que cada pequeno prazer, mesmo que lhe fosse veneno para o corpo, lhe satisfazia a alma. E, o que é menos bem ou menos mal, quando a morte já bate à porta?


Há males,a gente vai descobrindo, que matam mais que doença. A falta de presença. A falta do toque e do abraço. Não morre do coração, mas morre de depressão. Não morre deste mal desta pandemia, mas morre de solidão. Não morre de infarto, mas morre de névoas do coração. Coração solitário, coração que definha por descobrir a contragosto, que a linha de chegada está chegando.


Vejo o quanto somos injustos com o outro. Porque o nosso padrão do certo, bonito, necessário, útil, não é exatamente o mesmo. E desdenhamos. Não compreendemos. Não aceitamos. E, isso, se percebido a tempo, pode ser um carinho necessário a ser recebido. Porque hoje, me vejo no papel invertido. Me achando jovenzinha, porque me cuido. Sou ativa fisicamente, intelectualmente e emocionalmente. Mas tenho meus cinquenta e quatro anos. E tem mais gente pra trás de mim, do que pra fente. E eu fujo à regra, tal qual a minha mãe. Guardo coisas importantes pra mim. Exagero na cor. Em objetos. Quero sentir a casa viva numa casa colorida, enquanto aos olhos de outros, há um excesso pesado de cores. Que não são lidos como eu leio. Casa colorida = Casa com vida. Mas uma casa estranha. E que móveis que mantive e aí admito um quê de nostalgia, tenho mãe e vó perto. Em móveis e peças que foram delas e telas pintadas por vó. E a casa vira um mix do tempo. Deste, traiçoeiro, que não volta mais. E a gente insiste em segurar o fiozinho que nos conecta a ele através de coisas materiais assim

E ninguém compreende.


Então, neste aniversário de 84 anos da minha mãe, faço esta viagem no tempo. E enxergo aquilo que faria mil vezes de novo com ela. E as que eu a pouparia. Desimportâncias que hoje vejo. E que, hoje, sinto. Porque hoje, sou eu, no papel invertido, a mãe com cinquenta e tantos anos. Totalmente fora da regra. Totalmente alheia ao normal. Irreverente e com sede de "lá fora". Mas que sabe bem que este porto seguro faz bem e faz falta. E não importa a roupagem que tenha. E que nestas horas onde o porto está vazio, tudo o que se queria, era voltar no tempo. E ter esta pessoa lá, de novo. Do jeito que ela quisesse ser. Do jeito que fosse. Porque as teorias não tem valor algum se o vivido não for vivido no tempo.



sábado, 24 de outubro de 2020

Paz. Conhece?

 Paz. Conhece?




A gente se conhece em detalhes.

Se percebe no profundo tempo, por mais que pequeno tempo de solitude, em meio a pessoas, barulhos,

No exato momento onde parece haver um invólucro que te envolve, te protege, te separa.


Para.


E, em meio a si mesmo, alheio ao que não seja seu, você para.


Se reconhece.


Existem lugares e tempos que magicamente te fazem isso. Lares reconhecidos. Lares adotados pelo coração.

Não é, exatamente, uma questão de magia mística. Mas de sensações tão óbvias que de tão simples, dão esta sensação de magia.


Mágica porque é simples. 

Parece aparecer do nada!

Mas sempre esteve presente.

Sempre esteve na manga da camisa. Próxima da gente, mas escondida...

Mágica por isso.

Porque os olhos desatentos não eram capazes de perceber, tão somente.


Não é uma infinidade de horas.

São segundos!

Não é no fim do mundo.

É aqui mesmo.

E, assim, como diante de um barulho de água, de um frescor que me toca, de uma brisa que beija, de um silenciar que me aquece, de um olhar que me enxerga, me vejo.


O melhor lugar do mundo.

Onde é o seu?


E depois de tanto rodar, tantos cenários deslumbrantes passar, num momento, o melhor lugar do mundo, veja só, não é um exótico ponto cobiçado na imensa lista dos lugares a se ir antes de morrer.

É num abraço.

Aquele na hora que você mais precisa. 

Aquele que envolve, aconchega, apazigua.

Aquele que acalma.

Aquele que dá... Paz.


Quais abraços você se permite?


Desnude.

Desmistifique o abraço de qualquer outra intenção que não seja apenas a que se encerra em si mesma.

Abraçar.

Envolver.

Fazer caber dentro dos braços.

Acolher.

Acarinhar.


Um breve momento.

Com um poder imenso.

Que põe por terra qualquer tentativa de se chegar longe.



Porque o que se precisa mesmo, definitivamente, está perto.

Dentro de um abraço.


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Espontânea - Retrato de alma é assim. Feito gargalhada

 Espontânea.



As melhores fotos, unanimidade, são aquelas que te flagram no momento antes do clic "oficial".


Não há make, fake.

Não há risada ou riso, sorriso forçado. 

Pose. Close.


Retrata o que há mesmo na alma, antes de se pensar na melhor foto que se quer posar.


Algumas coisas se finge. Se inventa. Se prepara. Se tenta.


Outras, não.


Retrato de alma é assim.

Feito gargalhada.

Explode. Ecoa.

Espalha. Espalhafata.

Feito espalhafatosa.

Pronta.

Dá nome de livro, hein?

Alma gargalhante...

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quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Abandonado ou abandono?


Folhas no chão 

Displicentemente, denunciam.

Padrões abandonados.

Não são exatamente os de zelo. Que remetem a cuidados para um sentir-se melhor. Mas de desapego ao que mostra o mínimo aceitável. O padrão estabelecido. 


Um desapego de tarefas que feitas, refeitas, feitas de novo, não acabam nunca. Somente reviram e jogam lixo de um lugar para outro. Até roubando um fim ecologicamente aceitável por outro. Estabelecido e sem fim.


A beira da praia de um final de estação, às vésperas de iniciar a temporada do calor indicam o tempo da natureza. As árvores despem-se de suas velhas roupas. Que mudadas de cor, que brincaram do verde vivo, ao verde escuro até virarem amarelo e marrom, vão desenhando seus vôos do alto ao chão. Não é um despejar-se doloroso. Cumpriram coloridamente seu papel. Adornaram as frondosas árvores, formando sombra e frescor no tempo certo.


Mas desapegadas a ocuparem tempo demais, tempo além, transformam-se noutra roupa. Roupa de chão. Chão de areia. Recobrem as beiradas. Tingem o chão. Compõem nova paisagem. Não se fingem daquilo que não são mais. Aceitam sua transformação!


Vai depender do olhar de quem as vê. Incomodados por lixo. Que não deveria estar ali. E pedem que as retirem daquele lugar que não é o delas.


Não?


Naturalmente, acumulam-se umas sobre as outras. Pouco caso. Nem se atém ao incômodo alheio. Acreditam estar onde deveriam estar. À sombra das novas folhas verdes que vêm surgindo em seu lugar. Despejadas sobre o chão, podem mirar acima delas,a beleza refrescante de quem vem para substituí-las. Não há despeito,  descaso, nem confusão. A natureza aceita. O tempo de cada uma.


Observo. Retenho meus pensamentos. Observo.


Talvez, aceitássemos melhor nossos novos papéis em nossas árvores frondosas, sem nos incomodar com as novas folhas que nascem nos nossos lugares, se compreendêssemos que, cíclica vida que é, não perdemos papéis. Ganhamos outros!


Nossas cores externas mudam. Pois teremos novas tons de adorno. A essência não se basta numa  palheta única de cor. Pede mais. 


Então, nessa infindável e rica transformação, feito folhas que alçam vôos, aprendemos a compor nova tela. 


Não é estar abandonado. Mas abandonar as velhas formas e cores que já não nos contém mais.


A palheta de cores riu-se de si mesma. Enfim, descobriu-se imensa. Enquanto perdia tempo lamentando-se da cor que deixou de ser, não era capaz de ver as nuances todas que havia ganho no seu percorrer...

Imensidão




Conhece imensidão?


Imensidão a gente conhece quando se reconhece minúsculo.

Quando está diante de algo espetacularmente gigante. Grandioso. Inigualável em grandeza, realeza e infinitude.


Quando a gente se encontra na natureza e se vê diante de espetáculos, assim graciosos,  por serem realmente graça pura, sem ingresso a ser pago, percebo minha pequenez, minha finitude, a minúscula parte que tenho na autoria deste projeto.


Tenho buscado fonte de inspiração e tenho conseguido isso na não autoria de presentes recebidos. A briga interna travada da gente com a gente mesmo, da gente com toda gente na disputa de definir valores sempre volta à estaca zero.


Valor?


Valor mesmo valioso é poder buscar simplicidade e este olhar. Não importa se não se tem a imensidão do mar a sua frente, esbanjando esse infinito que me indaga o que tenho feito com meu tempo finito.

Que me instiga como se me provocasse. 



Tempo?


O que tem feito com seu finito tempo?





Seja nas ondas do mar que se agita e se joga sobre as pedras. Seja no vento que está o tempo todo aí e não o vemos e, talvez por isso mesmo, se encha de força e passa bravamente deixando marcas por onde passa pra gente lembrar que ele pode ser brisa e pode ser fúria. De fazeres extremos e opostos.


Quando saio pra andar num lugar desse e penso que por uma fração de segundo não fico lá onde estava e venho, penso. Que esta imensidão, este mar, o vento e o tempo nunca deixaram de estar. Somos nós os ausentes desta história. Que não abrimos a porta pra passar.


Parece familiar?


Estar entre paredes de concreto, nas mesmas paredes de sempre, diante de uma tela retangular que te hipnotiza é, pra azar nosso, livre arbítrio. O dono do estrago não é outro, senão nós mesmos.


Foram alguns minutos de caminhada lenta. Mas que me trazem a um lugar magnífico. Onde me deleito.


Rio feito criança. Me sinto mais viva que nunca. Parece redundante. Se toda vez que faço isso, digo isso.


Farei mais vezes! Direi mais vezes!


Dou uma última espiadela. Deixo o vento me envolver. Fecho os olhos e plano. Vôo. 


Descubro uma vez mais o que levo comigo. Levo esta brisa, este som incessante de quem não desiste de ir e vir. Do gelado toque deste vento que me desperta e me assanha. A ir.


A imensidão é apenas o convite.




A vida acontece quando você se entrega ao bom caminho que há à frente.



Eu gosto da minha companhia


Estranho se mandar pra um lugar pra passar seu aniversário solo?


Imagina...


É preciso estar muito bem consigo mesmo para isso. E de tantos momentos vividos, felicitude é uma definição para feliz plenitude.


Não vendo perfeição. Não!

Nem tampouco, alegria perene. Abobada. Faz de conta.

A vida, esta verdadeira cá fora, pede serenidade e equilíbrio. Porque para quem opta viver verdadeiramente, é preciso passar por oscilações. E só é possível entender e sentir o que vem, quando se fica sem.


Há barulho. 

Há silêncio.

Há amigos.

Há solitude.

Ha escuros.

Há clarões tão óbvios.

Há vazios.

E preenchimentos.





Eu gosto da minha companhia!

Sou chata. Mas chatices fazem parte de mim. Assim como empolgamentos contagiantes que arrastam pessoas a acreditarem e irem fazer aquilo que eu acredito e faço questão de dizer que vale à pena crer.


Já tive muitos medos.

Aprendi a lidar com eles. Não que desapareçam, por completo, exatamente.

Mas eles fazem um trato comigo e eu com eles. No final, a gente se entende. A convivência com o que nos assusta, nos tira o chão, nos faz enxergar coisas, viver e sentir aquilo que quem é refém do medo não vive. Viver apenas de certezas não é exatamente viver. Mas um "deixar ir". E, definitivamente, prefiro ter surpresas no caminho. Perder a respiração de susto, de paixão, de perder o chão, mas de ganhar o vôo. Porque é nesta hora doida de não sentir o chão abaixo dos pés que se descobre que se sabe voar. É sofrendo extremas emoções que também se vive o bem e o mal.  O sim e o não.


Eu brindo a vida! O tempo é este hoje faceiro que me convida, incansavelmente, a estar nele e com mais ninguém. Sabido ele. O que foi já foi. O que não aconteceu, não é. E esta vida, louca vida que me convida me convence.

Quero é viver cada segundo por vez.





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sábado, 10 de outubro de 2020

Ser feliz ou ter razão?


Caindo de sono.

Mas quero passar este momento de uma forma que gosto tanto e diz tanto de mim.

Escrevendo!


Com o tempo, a gente vai fazendo descobertas. Descobre o novo. E o velho num novo olhar. Descobre que pode mais, bem além do que costuma fazer. E descobre também que pode, simplesmente, recuar. E está tudo bem. Porque a vida é mesmo assim.


Com o tempo prioridades passam a ser desimportâncias. E nunca, a tão sábia frase faz tanto sentido. Aquela dúvida em forma de interrogação: "Você prefere ser feliz? Ou ter razão?"





E a gente passa a tirar a máscara de pessoa perfeita. Que sabe tudo. Adivinha tudo. Faz melhor. Sempre acerta. E opta, feliz da vida para um papel mais leve. De ser humano. Do verbo "To be". E não do ser. Descomplica a vida. Assume suas falas erradas. Erros cheios de consequências. Aprende a pedir perdão, dá licença, colo, abraço e percebe, de repente, que se permite ser meio criança. Esta que todo adulto gosta tanto de ensinar estas falas todas. Educadas. Corretas. Que não doem nada para se fazer. E operam milagres… Pior pra o outro. Melhor pra mim. Poder respirar sem perder o fôlego. Cair e levantar. Errar e rir-se de si mesmo. Parar de competir razão. Parar de se importar com o que evapora. E que passa. Sem demora.





A gente se pega tantas vezes, perdendo tempo com explicações. Querendo racionalizar o não racionalizável. Só porque acha que é importante entender os porquês. E, melhor, explicar pro outro. Uma verdade que é só nossa. Uma história que me pertence. Mas que não diz nada ao outro. Não diz nada do outro. Porque o que eu penso não afeta a verdade do outro. Cada caixa, uma sentença. Cada fala, uma certeza. Cada vida uma presença. E ninguém é dono do universo de emoções que o outro sente. E, por isso mesmo, algumas falas podiam ser abandonadas para que a linguagem não falada tomasse conta de todo. De todo o tempo. Porque este tipo de linguagem não perde tempo em vestir-se de suas fantasias. Escancara-se, tão somente. Sem vestimenta, nua total, a comunicação de estabelece. No olhar. E no respirar.


Pronto. Virou o dia.

11 de outubro. 

E o dia, realmente, se transforma naquilo que a gente acredita.


Será um grande dia!




quinta-feira, 8 de outubro de 2020

A hora do espelho



Eu te seguro e você me segura.

Ok?


Minha força vem de algo muito além de mim.


No interior reside minha força. A que nunca me abandona.


Não fosse assim, ai de mim!


Fé. 

Gentileza.

E tantas palavrinhas que viram modinha mas precisam ser vividas verdadeiramente, muito mais no coração e ação do que em publicação.


Existem momentos singulares. Únicos. Onde tudo some à volta e fica ali você e você. Nada mais. Sem poder fugir, o diálogo se inicia. 


Momento duro este, não?


O diálogo mais revelador é este. A sós, se ouve a si mesmo. Este serzinho que você sempre deixa pra depois. Pra quando sobrar tempo. E se deixa engolir por ele, o tempo e pela "falta" dele.


Ironicamente, nestes momentos, é como se você se deparasse com no espelho. E pah! Desse de cara com um estranho. Senhor, senhora, senhorita, rapaz. 


Rapaaaaaazzz! Quem é esse aí??? Estranha o estranho. A estranha. E ele parece chatamente, repetir todos os movimentos que você faz. Te tirando... Demora pra você perceber a brincadeira. Não é brincadeira. É você!


Refeito do choque, inconformado, você, ainda contrariado, esboça um "oi, você aí".


Senha dada. A conversa acontece. Tímida. Mas sedenta de acontecer. 


  • Por onde você esteve?

  • Quem? Eu?

  • Ué. Quem mais?

  • Oras… Andei ocupado. 

  • Ocupado… Com importâncias? Ou desimportâncias?

  • Óbvio. Importâncias. Quer dizer…

  • Quer dizer?

  • Calma. Me deixe pensar!

  • Sim?

  • Acho que andei correndo pro lado errado da vida…


Conversa que vai e promete.

Bom quando isso acontece a tempo de inverter a corrida. Melhor. De desacelerar esta corrida. E brisar um pouco. Refrescar-se e perceber o tempo de olhos fechados, somente.


Neste estar a sós, revelações acontecem. Os teus próprios segredos, escondidos e abafados abaixo de sete palmos de pesadas pedras. Porque certos segredos vão gerar um desconforto gigante em você. Te provocando decisões. Mudanças. E, afinal. Quem é que quer ter o trabalho de mudar alguma coisa, se o cômodo caminho do "de sempre", vai no piloto automático. Não requer nem pensamento, nem emoção. Quem é louco de querer pensar e sentir…


Eu.




segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Simplicidade, basta!





Com um sorriso deste, precisa legendar?


Podia ser lá fora. 

Sim. Realmente. Mundo imenso e cheio de belezas de cair o queixo.

Já rodei bastante a América do Sul até o extremo Sul. Lá no tal " Fim do mundo". Alguns pontos imperdíveis e muitos que ficaram pra uma próxima. Porque quem nasce com rodinhas nos pés, sempre mira as próximas. Atravessando o Atlântico, foram viagens curtas mas muito bem aproveitadas. Que pedem mais. E lógico que vou.


Mas...


Neste tempo de quintal restrito, a gente se reinventa e reinventa o olhar. Redescobre lugares. E descobre pela primeira vez, lugares que se passava sempre pela beiradinha. 


Necessário.


Nada é por acaso. Adoro esta frase! Quanta verdade contém!


E, muitas vezes, algo que parece tão clichê, resume. Tantos lugares belíssimos que se vai, que já se foi, que inquestionavelmente são fodásticos e é num abraço que se descobre o melhor lugar do mundo.


Neste tempo de tanta restrição de toque, de contato físico, a gente percebe riqueza imensurável em coisas assim. Que se pode dar e receber graciosamente. A toda hora. Todo dia. Com toda gente. Mas tem esta mania de manter distância. Ser impessoal. Ser reservado. Não ser dado. E adoece por falta de carinho. Falta de demonstrações de afeto. Falta de... Ser humano.





Lugares simples.

Sentimentos simples.

Pessoas simples.

Demonstrações, simplesmente.


A gente sente falta.

E se sente, a única coisa a se fazer é começar a fazer!


A pandemia trouxe tantas mudanças de comportamento... Trouxe tantas restrições. Mas trouxe também fases de fazer. Sim. Fases de fazer. Quem não passou por elas? Nem precisa mencionar...


Hoje, já abraço algumas pessoas. E recebo abraços. E , meu Deus! Como senti falta disso! Como precisava disso! Pode não ser o mais certo. Mantenho cuidados. Afastamento. Mas entendi que afastamento físico é uma coisa. Isolamento é outra. E não quero me isolar de pessoas que quero bem. Fazem bem só de existirem. De passarem algumas horinhas, ou minutinhos apenas de trololó. Sabe? Conversa desinteressada. Só. Conversa à toa. De prosa boa. Porque é gostoso e pronto!





Vai passando o tempo e vou vendo que não quero acumular coisas. Que quero simplificar meu modo de viver.


De não acumular coisa alguma que não seja de me encher o coração de riqueza. Estas que não se compra. Ganha-se.


Estou revendo meus valores. E não estranhe se eu sumir, simplesmente, virar bicho do mato que já sou mesmo, desconectar de vez da tecnologia e comunicação mundão afora, só pra me conectar mundo adentro. Pras coisas do coração.


Já passei da metade da vida. E nesta primeira metade, pode ter certeza. Somos muito rudes conosco mesmo. Exigentes. Cobrativos. Seguindo aprisionados na nossa enganosa forma de liberdade. Pra ser livre, acumulamos bens. Pra poder usufruir a vida. E o tempo passa e a escravidão acontece. Como se houvesse um tempo mágico para parar com tudo isso e, finalmente, começar a viver.


Não. Não é semáforo gradativo. Daqueles que vão te indicando que o sinal vai mudar. Que o tempo do vermelho está acabando e vai começar as dez bolinhas de tempo do verde 


Não. Não é.


A vida é mágica por ser surpreendente. Esta é a graça. Não sermos donos do tempo. Não se pode postergar. Não se pode adiar a vida…





Já tive sonhos simples. Que cabiam no meu bolso. Já cresci os sonhos. Não em conquistas materiais. Mas de superações físicas, talvez porque minha maior perda foi física, quando acidentei e parei de andar por meses. Isso explica muito da minha obsessão em superar, superar e sempre ir. Deu né. As atividades agora são mais amenas e mais prazerosas.


Depois, sonhos mudando de formato. E percebi que sonhos também envelhecem! E é bom ter consciência disso. Senão, a gente fica correndo atrás de algo que não tem nada mais a ver com a gente… Só pra dizer que conseguir realizar. Aí, dá o vazio. "Pra quê mesmo erro queria fazer isso?"


De certo, ainda tenho sede de estrada e de horizontes. Mas tenho sentido querência de lar. De raiz. De me sentir em casa. De coisa simples. Café com pão. Arroz e feijão. Carinho e coração.


Pode ser que eu suma. Mas não. Na verdade, é aí que estarei de fato no meu lugar.





(Fluiu. Era pra ser um textinho despretensioso e curto sobre o que me faz sentir este lugar…)

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

O copo. Meio vazio? Ou meio cheio?




Sabe a história do copo?

Meio cheio?

Ou

Meio vazio?

Faz toda a diferença como você vê o espaço.

Que falta?

Ou

Já preenchido?


Este tempo...

De parada?

Ou

De pausa?

Parou?

Ou

Está apenas respirando, retomando o fôlego pra prosseguir melhor ainda?


E esta falta de vento e estrada. Pra quem é de vento e é de estrada? Como faz?

Tem ausência, sim.

Mas tem lembrança. Muuuuuita lembrança.

Que não é saudosismo melancólico. Que lamenta, lamuria que não está fazendo nada. 

Mas que aproveita aquecer o coração com tantas lembranças de tantas andanças, pedalanças, mochilanças afora.


O espaço pode ser um vazio. Uma ausência.

Ou.

Pode ser a possibilidade de preenchê-lo ainda mais?

Percebe?

Fins podem ser apenas inícios disfarçados. Que anunciam boas novas a acontecer.


Se fosse em rolinho de filme de 36 poses, eu teria muitos negativos guardados revelando cenas vividas de verdade.

Foi-se a época da fotografia analógica. Vem a digital.

E o mergulho por imagens são sempre envoltos de histórias.

A vivida naquele momento.

A lida por quem se depara com a imagem.

E vice versa.

Porque mesmo a mesma cena provoca um personagem diferente daquele instante que já se foi.

É por isso que escrever é infinito. Como a história do rio e do barco. A história nunca se repete. Nem um, nem outro se encontram novamente. Pois ambos retornam num novo encontro, como passantes diferentes.


Copo meio cheio?

Ou.

Meio vazio?


A vida assim é.

Depende do olhar.


Saudade?

Ou

Lembrança?