Chacoalhar o esqueleto.
Você tem medo de viver?
Não planejo muito as coisas que faço. Algumas, planejo. Mas a maioria e, justamente, a maior parte do que considero presentes que recebi na vida, foram desplanejados acasos que me chegaram. Para quem acredita em acasos.
Para quem não acredita, como eu… presentes!
Bem.
Vou contar mais um pouquinho desta história. Que venho pincelando, vez em quando.
Hoje saí sem bicicleta. É preciso se vigiar para que não se torne o vício nosso de cada dia, aquilo que é feito prazerosamente.
Depois que comecei a saga de achar uma forma confortável e segura de levar o Tufo junto comigo na bicicleta - e encontrei! - tem sido fácil e prático sair com ele. No estilo catarinense de fazer tudo de bicicleta. Algo como se ela fosse um prolongamento das próprias pernas.
Vamos passear Tufo?
E dá-lhe por na mala, ou na cesta e sair pra dar uma voltinha… Que, invariavelmente, virava voltona!
Eu sei que ele gosta de ir na bicicleta. Justamente porque paro. Solto. Deixo correr livre. Então, também sei que ele gosta de correr livre sem bicicleta. Naqueles meus rolês no aterro, na praia, em trilhas, no mato, sem fim. Dele se cansar e eu pegar no colo para ele descansar.
Sai sem planejar nada. Queria só pegar um pouco de sol nas costas, nos ombros. Pra tirar aquela marquinha clássica de quem pedala ou corre no sol. E usa mochila! Vesti uma frente única, um shorts curto e fui. Antes, me armei de uma canga para esticar no chão, água, livro, um guia do lugar onde pretendo ir dar um rolê de bicicleta, tudo numa mochila e sai. Sim. De mochila! 🤷🏻♀️🤦🏻♀️
Já no aterro, mochila na mão, me deu vontade de correr! É uma sensação de liberdade, ver um verde imenso à frente, vento chamando e ir…
Procurei uma sombra debaixo de uma árvore, estiquei a canga, pendurei e prendi a mochila no alto da árvore e fui.
Ia dar uma voltinha na campo de futebol. O Tufo vinha atrás andando, me seguindo. E se perdendo de mim, xereta como é, parando em todo ponto de cheirinho pra cheirar. Ele não ia conseguir me acompanhar. De imediato, comecei a correr em ZigZag no campo. Para ele poder me ver e vir. Indo de uma beirada a outra. De pronto me veio a lembrança: quando eu treinava planilhas de treinos de corrida, os intervalados eu fazia no aterro. E trazia ele. Foi quando marquei seu recorde de corrida: 6 km! Sim. Sem parar. Ele corria atrás de mim. Parava, se distraia, se perdia, eu assobiava, ele dava um carreirão e me alcançava. No final, vendo ele cansado de correr atrás de mim, comecei a fazer os Zigzags.
Meio louco isso. Mas quem faz o mesmo vai me entender. Quando saio pra correr ou pedalar, me esvazio. Não levo problemas junto. Me desligo. Não gosto de andar e ficar conversando de problemas. Nem andar com celular pendurado na orelha. Parecendo um celular de pernas andando. Gosto mesmo é de desligar do resto. E, com isso, muitas vezes me vêm cenas hilárias na cabeça. E vou escrevendo histórias mentalmente. Que se não paro logo após, imediatamente, as perco. Já até escrevi parte do livro assim. Correndo e falando e gravando no celular. Para transcrever depois aquele momento único de inspiração. Um colocar lá fora algo muito autêntico, Verdadeiro. E que por vir lá de dentro, sei, tem a capacidade de mexer muito com quem lê.
Para quem já correu grandes distâncias em provas e treinos, correr um pouquinho só até parece perda de tempo! Impensável ir correr sem o kit corrida. O aparato que o identica - ou o distingue dos relés mortais. Como falei, saí mais cara de prainha. De crocs no pé…
Comecei andando, me coçando de vontade de correr. Então corri!
Descalça, quase arrancando a blusinha pra tomar o meu solzinho só de top. E chamando o Tufo, assobiando.
Fui pensando…
O aplicativo de GPS ligado para ter ideia do quanto correria, simples curiosidade, ia formar um desenho engraçado… Um ZigZag no campo! E rindo, sozinha, pensei.
Quem seria a louca que faria isso?
Nunca gostei de correr como hamster. Em círculos. Que volteiam, volteiam e não chegam a lugar algum.
O que era aquele ZigZag, então?
Vou explicar!
Ao contrário das voltas que passam, repetidamente, no mesmo ponto de partida, o ZigZag faceiro, displicentemente, faz que vai e não vai. Quase chega e desvia
Vai de novo e dá volta. Adia, adia, adia. Escritora que sou então, viajo.
É uma forma toda sua (ou minha) de adiar a chegada rápida de uma linha reta e sem graça. Se o que vale é o caminho e não a chegada, lema de quem já descobriu a mágica de ir no "Ando devagar porque já tive pressa…' andar em ZigZag é dar olés no ponto final. Achar curvas e desvios que, traçando este caminho torto oferecem infinitos novos caminhos. Como se ensinassem gentilmente que a linha reta está mais para figura geométrica do que linha pra escrever história.
Ziguezaguear é a forma de passar por um caminho como se cada pedacinho fosse importante. Que é o que é.